Lena coçou os olhos, tendo dificuldade para mantê-los abertos. A noite mal dormida já cobrava seu preço, mas ela precisava voltar ao que fazia, antes de Kara bater à sua porta.
A CEO partira há poucos minutos sem dizer nada. Lena também nada falou. O que havia acontecido sobre a cama de Ben tinha sido apenas sexo, puro e simples. Não significava que elas estavam bem e que Kara perdoara Lena. A pintora sabia disso. Soube disso no momento que enxergou a mágoa espelhada nos olhos azuis, enquanto se entregou horas atrás, por mais de uma vez, à presidente do Vita.
Depois do desejo saciado, ambas adormeceram e Lena só veio acordar um pouco mais tarde ao sentir o corpo de Kara abandonando a cama, mesmo que ela se movesse com cuidado, quase sem fazer ruído. Era evidente que Kara não queria acordar a pintora. Coube a Lena ficar quieta, deixando a outra acreditar que sua partida não estava sendo sentida.
Voltando a realidade, a pintora suspirou e tirou a chaleira que apitava ruidosamente do fogo, despejando o líquido esfumaçante dentro da caneca. Depois, girou a colher para fazê-lo se misturar ao pó escuro. O gosto amargo do café combinava com o fim daquela madrugada.
Lena andou até o cavalete e sentou-se em frente à tela. Tomou um largo gole e depositou a caneca no banquinho ao lado, pegando o óculos deixado ali e colocando-o, antes de alcançar o pincel.
Então, ela se desligou do barulho de carros já transitando na rua abaixo, esqueceu-se do cansaço e começou a dar pinceladas firmes na tela. O cliente que encomendara o quadro havia sido enfático sobre o que queria: uma paisagem bucólica. E Lena tinha guardado em sua memória um cenário assim. Um bonito lugar que conheceu em uma manhã agradável de verão acompanhada de Kara.
O tempo avançou sem que Lena se desse conta. O sol já se sobrepunha a escuridão da madrugada e a tela, antes em branco, estava quase totalmente colorida, assinada pelos traços do pincel da artista. De tão absorta, Lena não percebeu que alguém entrara no loft.
— Nossa, baby, você já está trabalhando a essa hora? — era Ben.
Apesar de Lena não ter percebido a aproximação dele, não se sobressaltou ao ouvir o som inesperado da voz do irmão perturbando o silêncio no loft.
— Eu prometi que entregaria o quadro antes do final desse dia. — Explicou simplesmente.
— Você parece cansada... — Comentou, analisando o semblante abatido da irmã — Passou a noite trabalhando? — quis saber, indo até a geladeira.
Lena sorriu sem vontade.
— Sim! — mentiu, afinal não queria contar sobre a "visita" de Kara.
— Já comeu alguma coisa? — Ben perguntou, vendo a caneca no banquinho perto do cavalete.
— Só café puro!
Ben moveu a cabeça negativamente. Desde que Lena rompeu com Kara, ele vinha notando que a irmã estava se alimentando mal. Mas o rapaz evitava censurá-la por isso. Apesar de nunca ter tido seu coração partido, pois era de sua personalidade não se envolver profundamente com ninguém, Ben conhecia a natureza sensível da irmã, e sabia que ela tinha sua maneira própria de lidar com o fim dos romances.
— Vou fazer torradas e ovos mexidos para nós! — ele disse, tirando a frigideira do armário.
Lena suspirou e assentiu com a cabeça. Em nenhum momento ela parou de pintar.
— "O" passou a noite bem? — lembrou de perguntar, depois de um breve silêncio, onde se ouvia apenas o barulho das cascas dos ovos quebrando e o chiado da manteiga na frigideira.
— Sim, dormiu tranquilamente! Não sentiu mais dores nem enjoos. — Ben falou, metendo os pães na torradeira. — Ah, a propósito... — apoiou as mãos na bancada e olhou diretamente para a irmã, que mantinha a atenção na tela à frente — Hoje, quando fui deixar o lixo na calçada, eu conheci a nova vizinha... — expressou ele, com visível espanto na voz — E você tinha razão: a semelhança dela com a super CEO é incrível — um sorriso fraco mudou a expressão de Lena — Parece até a versão de uma realidade alternativa, uma versão mais selvagem de Kara... — o rapaz prosseguiu de um jeito afetado, mas a pintora apenas o escutava, sem realmente ouvi-lo.
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Amonet [KarLena]
Khoa học viễn tưởngPor possuir uma particularidade que a diferencia dos outros humanos, Kara Grant tenta se manter o mais reservada possível, evitando de todas as maneiras estabelecer vínculos duradouros com outras pessoas. Porém, numa manhã de segunda-feira, o destin...