Capítulo 8 - O balé das águas-vivas

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Depois que o beijo terminou, elas ficaram um tempo de testas coladas e olhos fechados, apenas sentindo o sopro de ar que escapava pelos lábios entreabertos, enquanto ouviam as batidas descompassadas do órgão pulsante encerrado em seus peitos.

Quando Kara abriu as pálpebras, deu com um verde brilhante a observá-la e a vontade de beijar novamente a dona daqueles olhos tomou conta de seus pensamentos, mas o medo de ir ainda mais longe do que já fora, a paralisou.

— Nossa, de repente eu acho que o frio passou! — exclamou Lena, sorrindo e se afastando um pouco.

Tomou essa atitude porque percebeu um ar indeciso nos olhos azuis e resolveu reprimir o impulso de voltar a beijá-la, pois imaginava que Kara devia estar mortalmente constrangida no momento, sem saber o que fazer, e Lena não queria que elas mergulhassem num incômodo silêncio de novo.

O duplo sentido do comentário de Lena não escapou à Kara, e a executiva sorriu um tanto acanhada, ajeitando seus óculos que ficaram meio tortos depois do beijo trocado.

— Acho que você recebeu uma mensagem! — para terminar de quebrar o clima, o iPhone de Kara, que estava no bolso do casaco, vibrou e, ao sentir o bipe, Lena automaticamente enfiou a mão, pegando o celular e o entregando à CEO.

Kara logo verificou que era o alerta de um compromisso que teria às 8h da manhã no dia posterior, com a mãe, e deixou escapar um longo suspiro, anunciando em seguida: — É um lembrete sobre algo que preciso fazer amanhã bem cedo — explicou-se desnecessariamente. — Lamento, mas preciso ir! — afirmou, meio envergonhada por usar essa desculpa para terminar com a noite delas.

Os lábios de Lena se curvaram numa expressão divertida, pois pressentiu que a executiva lançava mão daquele pretexto para fugir. Porém, a pintora fingiu acreditar na desculpa de Kara para ir embora ainda tão cedo, não querendo forçar a barra.

— Tudo bem! — respondeu, tirando o casaco com a intenção de devolvê-lo à dona — Obrigada pelo empréstimo! — disse estendendo a peça.

Kara vacilou, antes de pegá-lo de volta: — Não...Você pode ficar com ele se quiser... Depois, me devolve! — insistiu.

Lena a encarou com ar bem sugestivo, antes de dizer de forma pausada: — Acredite... eu realmente não estou mais com frio!

Kara captou mais uma vez a ambiguidade daquele comentário e o rubor se espalhou pela sua face, fazendo-a desviar os olhos azuis dos verdes: — Ok! — foi a única coisa que lhe ocorreu falar.

Após Kara pegar o casaco e o colocar sobre o antebraço, aparentemente também não sentindo frio, Lena girou nos calcanhares e caminhou para fora do jardim, sendo seguida de perto pela loira.

Elas permaneceram sem nada dizer, até saírem para a calçada do hotel, onde se despediram com um singelo "boa noite!", andando na direção de seus respectivos carros.

Já dentro do Lexus, o veículo que usava quando saía sem motorista, Kara ficou observando Lena cruzar a rua e abrir a porta do velho fusca. Passou alguns segundos, depois alguns minutos, sem que nada acontecesse e, de repente, Lena desceu, bateu a porta e chutou o pneu da frente, visivelmente irritada.

Kara sorriu, deduzindo que a outra estava com problemas e saiu do seu veículo, indo até onde a pintora permanecia, ainda "espancando" o fusca.

— Herbie, sua lata velha! — Lena xingou, dando mais um chute no pneu, sem perceber que a CEO se aproximava.

Kara achou a cena ainda mais divertida, supondo que "Herbie" devia ser o nome do fusca.

Amonet [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora