Capítulo 10 - O direito de amar

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Era por volta das 13hs de sexta-feira. Na quinta, o dia depois da bebedeira e posterior prisão, Kara, apesar de já estar pronta para voltar às sessões de pintura, não pode comparecer. Como estava de ressaca pela manhã, só foi ao Vita na parte da tarde e havia muita coisa para fazer. Mas, ligou para Lena avisando que retornaria no dia seguinte.

Alex lhe passara um pequeno sermão antes de ir para o instituto em seu horário normal, quando percebeu que a executiva não poderia fazer o mesmo. Kara até fingiu estar arrependida, mas no fundo, não estava.

Contrariando tudo que se podia imaginar, passado o susto de ter ido parar em uma delegacia, a CEO não ficara constrangida com o que aconteceu. Realmente encarou tudo aquilo como uma espécie de libertação, uma transgressão a qual jamais havia se permitido. Algo de que precisava há muito tempo.

Só uma coisa a preocupava: ter desafiado Cat. Não sabia qual seria a consequência disso, mas certamente haveria alguma. A mãe ainda não ligara para ela, nem a procurara, e Kara preferia assim. Não poderia evitá-la por toda a vida, porém ganhar alguns dias para pensar no que dizer e como agir dali para a frente não faria mal.

Agora, ela posava para Lena, em sua habitual posição, sentada na cadeira alta, com esses pensamentos longe de sua mente, porque, desde que chegou na casa de Lena, estava com bastante bom humor, até insistindo para que a pintora revelasse o andamento do seu trabalho.

— Por que eu não posso ver o que você já fez? — uma Kara muito curiosa tentava convencer a reticente Lena.

— Porque eu ainda não o terminei! — contra-argumentou Lena, olhando a loira por cima do cavalete — Você acha que quando Michelangelo estava pintando a capela sistina, ele deixava as pessoas olharem seu trabalho?

— Acho que sim... O papa principalmente! — Kara retrucou, divertida.

— Mas você não é o papa!

— Nem você é Michelangelo.

— Isso é um tipo de ofensa, sabia, srta. Grant?

— Não sei por que... Não há nenhuma vantagem em ser Michelangelo em 2012... Se fosse ele, srta. Luthor, você estaria morta! — Kara demonstrou seu senso de humor perspicaz.

— Não necessariamente... Eu poderia ser um clone dele... Você nunca viu "Os Meninos do Brasil¹"? Alguém cria uns noventa Hitlers... — Lena fingiu sentir calafrios, mas na sequência emendou: — Já imaginou noventa Michelangelos pintando e esculpindo nus hoje em dia? — ela fez uma brincadeira, mas Kara retesou todos os músculos do corpo ao ouvir aquilo, no entanto conseguiu disfarçar e a pintora não percebeu seu desconforto.

— Esse é um péssimo filme sobre clones... Eles me lembram robôs. Sabia que seus noventa Michelangelos podiam nem mesmo ter dons artísticos? — Kara tentou não levar o comentário da outra para o lado pessoal, mas o contestou, esboçando um sorriso fraco ao final.

— Desculpa, senhora presidente de um renomado instituto de genética... Eu estava apenas fazendo uma brincadeira. Realmente não sei nada sobre clonagem. — finalizou, sendo absolutamente sincera.

Kara se recriminou em silêncio por ter tido uma reação meio desproporcional para o comentário casual que a outra fez. Sabia que Lena não fazia a mínima ideia sobre o segredo que escondia, nem imaginava que supor que clones são seres sem identidade era um erro comum, alimentado pela ficção que, na maioria das vezes, limitava esses indivíduos a meras cópias da matriz, sendo apenas depositários das características físicas, psicológicas e emocionais de quem foi clonado.

— A propósito, por falar nisso... — Lena retomou, sem achar estranha a súbita mudez da outra —Andei lendo sobre o seu trabalho para não parecer tão burra quanto fui agora — comentou com entonação levemente magoada.

Amonet [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora