Capítulo 23 - Rain

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Ben arrastou a porta do loft ainda se perguntando se seus olhos lhe pregaram uma peça ou se tinha mesmo acabado de ver Kara Grant deixar o prédio onde Lena e ele moravam. Aquela não seria a primeira vez que isso acontecia. Dias atrás, o rapaz teve a sensação que a Super CEO estivera ali ao sentir o perfume dela em seu sofá-cama. Mas afastou a hipótese, quando Lena não falou nada sobre haver recebido a visita da outra mulher. Se isso tivesse acontecido, a irmã certamente comentaria. A menos que...

Interrompeu o raciocínio quando se virou e enxergou Lena deitada em sua cama, enrolada em si mesma, e chorando baixinho. Ben se aproximou apressado e sentou ao lado dela, afastando os fios negros do rosto da irmã.

— O que aconteceu, meu amor? — ficou preocupado.

Lena não respondeu. Ela sentou e se agarrou a ele, deixando que seu choro saísse com mais intensidade.

Ben a acolheu em seus braços e com gentileza afagou-lhe as costas nuas, murmurando palavras carinhosas enquanto Lena fazia de seu ombro um abrigo. No mesmo instante, Ben não apenas teve certeza que Kara Grant esteve no loft, como não era a primeira vez que isso acontecia. Só ainda não estava convencido do que a executiva fizera para abalar de tal maneira a sua irmã.

— Ela te machucou? — Ben sentiu um calafrio ao imaginar que aquela dor não fosse apenas emocional.

Lena negou com a cabeça, ainda soluçando por causa do choro. Ben suspirou, aliviado, e suavemente se separou dela, segurando o rosto da irmã entre as mãos para encará-la nos olhos.

— Então, me fala o que aconteceu entre vocês? — limpou as pequenas gotas do rosto de Lena com as pontas dos polegares — Ainda é por causa do maldito cheque?

Lena fechou as pálpebras que ardiam e tentou normalizar sua respiração.

— Sim e não — sua voz estava rouca.

Ben franziu o cenho.

— Como assim?

Lena fitou o irmão e mais lágrimas tingiram de um tom cristalino suas íris verdes.

— É complicado — murmurou em meio ao nó em sua garganta — Ela está muito ferida, Ben, com muita raiva de mim... E acho que encontrou a forma de fazer com que eu sinta todo o seu merecido desprezo.

O rapaz meneou a cabeça em negação. Mesmo que a resposta não tenha sido direta, ele conseguiu preencher algumas lacunas para entender melhor a situação.

— Lena — chamou-a suavemente, acariciando a lateral do rosto dela — Não deixe que Kara use o seu sentimento de culpa para humilhá-la, porque isso não é justo. Por mais que você tenha errado, nada justifica o que ela vem fazendo para te deixar assim, infeliz, arrasada, e sentindo que merece ser tratada como lixo.

— Mas... — Lena quis falar, porém Ben a interpelou segurando em suas mãos com firmeza.

— Olha, Lee, nós dois sabemos que não sou a pessoa mais indicada para dar conselhos sobre relacionamentos, mas até eu sou capaz de perceber que vocês entraram em um círculo vicioso e, se continuarem com essa loucura, ambas vão sair ainda mais machucadas do que já estão. — Disse de forma contundente — Sou da opinião que alguém precisa dar um basta nisso e não vejo como essa pessoa possa ser Kara.

Lena desviou os olhos do rosto do irmão e observou as mãos que amparavam as suas. Ben estava certo. Elas pegaram um caminho sem volta, e não havia como continuar nele sem que a relação das duas se tornasse cada vez mais destrutiva.

A pintora respirou fundo e voltou a fitá-lo, ainda com os olhos embaçados.

— Mas ela não quer conversar comigo, não permite que eu explique minhas razões para ter feito o que fiz.

Amonet [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora