No horizonte, os tons do outono coloriam de vermelho, verde, laranja e amarelo a paisagem de Nova York. Setembro se despedia de mais um ano.
No Brooklyn, Lena e Ben, com a ajuda de Andrea, terminavam de empacotar os poucos objetos que restavam espalhados pelo loft. O dia da mudança havia chegado.
— Mais uma caixa cheia e fechada — Ben disse, enquanto escrevia kitchen com o lápis piloto em uma das abas de papelão.
Lena olhou para o armário da cozinha e depois para o seu antigo quarto, encontrando o vazio através das portas abertas:
— É... Parece que terminamos — se voltou para o irmão e suspirou.
Por um instante, eles trocaram um olhar cúmplice, tomados pela melancolia. Sentiriam saudade daquele lugar. Voltariam a morar com Olivia no Queens, ela havia decidido isso. Tinha argumentado com os filhos que se sentiria mais tranquila em tê-los novamente embaixo do seu teto, do que saber que os dois estavam morando num cubículo apertado, onde mal poderiam andar sem esbarrar um no outro, em uma área perigosa da cidade.
No início, Lena e Ben encararam a sugestão da mãe com ceticismo. Era evidente que aceitá-la significaria um retrocesso em suas vidas, mas, por outro lado, seria bom voltar a sentir diariamente o afeto e a proteção materna que Olivia sempre ofereceu aos dois, desde o momento que foram adotados.
— Aquele quadro vai ficar? — Andrea apontou o objeto, coberto por um pano branco, no canto da sala.
Lena olhou para o que a amiga indicava.
— Não! — exclamou, se aproximando do quadro.
— Vou levar essas caixas para o carro. — Ben falou, antes de deixar as duas sozinhas. Ele havia conseguido com um de seus namorados, o transporte para fazer a mudança. Tinham alugado o loft já mobiliado, então tudo que possuíam estava guardado dentro de algumas caixas, sacos e de três malas. Caberia tudo no carro baú estacionado na frente do prédio.
Lena puxou o pano e deixou o quadro respirar. Era o retrato de Kara. Fazia semanas que ela não o contemplava. Se distraiu e não percebeu quando Andrea chegou perto com uma taça de Martíni em cada mão. Rojas trouxe a bebida para que os três pudessem se despedir em grande estilo, segundo ela, do lugar que também lhe trazia boas lembranças.
— Já podemos começar a beber — falou e Lena se virou para ela, sorrindo e aceitando uma das taças. — Hum... Conheço essa mulher — Andrea comentou de maneira displicente.
Lena suspirou ao se lembrar da única ocasião que o caminho de Andrea se cruzou com o de Kara. Foi no mesmo dia que ela e a CEO fizeram amor pela primeira vez. Seus olhos marejaram e a pintora bebeu um pouco do Martíni para disfarçar a tristeza.
— Conhece sim! Você a viu aqui mesmo, no dia que voltou do Canadá, depois daquela viagem de dois meses, lembra? Eu a estava pintando e você entrou no loft sem bater...
— Não! — Andrea balançou veementemente a cabeça, interrompendo a fala de Lena — Eu a conheci há pouco tempo... Ela trabalhou na produção da última série que fiz. Acho que era maquiadora, cabeleireira, sei lá... — Deu de ombros e tomou o resto do Martíni, andando até a bancada da cozinha, onde deixou a garrafa, para encher sua taça de novo.
Lena franziu o cenho. Será que Andrea tinha conhecido Helen? Mas a loira não lhe dissera, certa vez, que estava abrindo um bar? O que estaria fazendo trabalhando na produção de uma série de TV? A menos que...
— Você lembra o nome dela? — Lena se aproximou de Andrea, deixando sua taça ao lado da garrafa.
A atriz olhou para cima com o cenho franzido como se buscasse uma memória, enquanto Lena lhe fitava em expectativa.
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Amonet [KarLena]
Science FictionPor possuir uma particularidade que a diferencia dos outros humanos, Kara Grant tenta se manter o mais reservada possível, evitando de todas as maneiras estabelecer vínculos duradouros com outras pessoas. Porém, numa manhã de segunda-feira, o destin...