Capítulo 25 - Uma longa noite

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Kara girou o copo sobre o balcão, fazendo o líquido marrom dourado ondular. Ela tinha saído cedo do Vita e, desde então, estava em um bar em Meatpacking. Havia comido pouco e já bebido muito. Aliás, muito além do recomendável, mas não se importava.

Pegou o copo e esvaziou o resto do conteúdo em um único gole. Um rastro de fogo desceu por sua garganta, queimando-a. Deixou o copo sobre o balcão e bateu os dedos no vidro, pedindo outra dose ao barman.

— Desculpe, senhora, mas já vamos fechar. — Um homem calvo e de cavanhaque grisalho falou.

Kara levantou os olhos para fitá-lo.

— Ainda não são nem dezenove horas — resmungou com expressão contrariada.

— Hoje é o aniversário da minha netinha e eu preciso estar cedo em casa — o senhor de semblante bondoso justificou, mostrando um sorriso gentil.

Ela abaixou o olhar para o copo de novo, suspirando.

— Tudo bem — murmurou — Sirva-me apenas mais uma dose, por favor, e encerre a conta.

O homem fez o que ela pediu.

— Aqui está — ele disse, deixando outra dose de uísque na frente dela, antes de se afastar um pouco e voltar instantes depois com a comanda.

Kara nem olhou para o papel, apenas pegou o cartão no bolso de seu sobretudo e passou para o barman.

Ele alcançou a maquineta embaixo do balcão e digitou o valor da comanda, voltando a olhar para a mulher bonita, mas, aparentemente tão triste, sentada do outro lado.

— A senhora quer que eu chame um táxi? — ofereceu, prestativo, embora também preocupado, porque ela já estava bebendo há horas ali.

Kara fez que não com a cabeça, guardando o cartão no bolso, depois de pagar o consumo.

Diante da negativa, o homem ficou calado, observando ela virar a última dose de uma só vez e mostrar uma careta pelo gosto amargo da bebida.

Kara se levantou cambaleante, meio zonza por causa das doses que bebeu.

O barman se apressou, saindo de trás do balcão para ampará-la.

— A senhora tem certeza que não quer que eu chame alguém? Talvez seu marido? — o homem insistiu — Vou ficar preocupado se permitir que a senhora saia daqui sozinha e nessas condições.

Kara olhou-o com expressão entristecida.

— O senhor vai ficar preocupado? — ela sorriu, um riso fraco e amargo — Isso não é necessário... Já estou acostumada a não ser importante para ninguém.

— Não diga isso — ele falou com firmeza — Tenho certeza que existe alguém, neste momento, pensando na senhora, talvez preocupado, procurando alguma forma de se desculpar por tê-la magoado — os olhos azuis umedeceram — Acredite, trabalho há muito tempo nesse bar e sei reconhecer uma alma atormen...

— Cale-se — Kara o interrompeu bruscamente, afastando-se dele — Você não me conhece, então pare de fazer conjecturas sobre mim — foi ríspida.

O homem se encolheu.

— Sinto muito, senhora...

Kara percebeu que tinha sido dura demais e a postura acanhada do barman fez com que ela se sentisse pior.

— Tudo bem, desculpe-me — pediu apressadamente — O senhor tem razão... Seria arriscado que eu saísse dirigindo por aí neste estado. Vou chamar meu motorista, ok? — seu tom mais suave fez o homem mostrar um curto, mas aliviado sorriso.

Amonet [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora