Capítulo 4 - 2 a 1

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Naquela tarde, William Dey chegou em casa disposto a resolver toda a situação. Começaria sem demora o trabalho de desmentir os boatos criados por ele. Afinal, queria que a "vadia Grant", como ela mesma havia se referido a si, ficasse feliz e pagasse sem demora a quantia combinada, pois tinha um bookmaker¹ bem perigoso em seu encalço, que havia lhe dado o prazo de uma semana para que quitasse as dívidas com as corridas de cavalo e este prazo já se esgotava.

No fim, ganharia com toda aquela confusão criada para o Vita bem mais do que esperava no início. Tinha inventado tudo porque a descoberta da venda de informações e a sua posterior demissão, antes que o negócio pudesse ser concretizado, o deixara em uma situação pior do que antes. Ficara endividado, sem emprego e com muita raiva.

Mas agora estava ali com a promessa de receber um milhão de dólares em espécie e precisava colocar logo a mão naquele dinheiro. Dinheiro que tinha conseguido fácil demais, diga-se de passagem, porque na realidade não sabia de nada. Se o Vita em algum momento esteve envolvido com algo parecido com clonagem humana, isso nunca passou por ele. E é claro que nunca havia estado. Era um instituto muito respeitado e renomado para se envolver em pesquisas científicas obscuras.

O que ele divulgou na internet, como prova irrefutável do que denunciava, era um grande conjunto de besteiras. Qualquer um com o mínimo de conhecimento na área de genética saberia que aquelas explicações não levariam a clonagem nem mesmo de um rato, quanto mais de humanos.

Ele teve a sorte de contar com a tendência das pessoas de acreditar que tudo aquilo que se divulga nas mídias com ares de teoria da conspiração é verdade. Naquele dia, quando chegou ao instituto, pode ver com seus próprios olhos a cara de alguns desses idiotas. Não eram muitos, mas faziam barulho e William Dey não pode evitar o riso quando os viu.

O mais interessante sobre tudo era que Kara Grant tenha aceitado pagar pelo seu silêncio, porque ela, melhor do que ninguém, sabia que a história era uma fraude completa. Mas, pensando bem, ele tinha o poder de tirar aqueles babacas da frente do instituto e achou que deveria ser por isso.

Por outro lado, Kara poderia ter reunido as centenas de cientistas que trabalhavam para ela. A Dra. Alex Danvers, seu braço direito, por exemplo, era respeitadíssima no meio científico e poderia ter vindo a público desmentir as acusações. Não seria necessário que Alex fizesse muito esforço para conseguir ridicularizá-lo e resgatar a imagem do Vita, que certamente sairia ileso.

Mas, por algum motivo, Kara não queria mais exposição para este assunto e William Dey pensou que havia feito muito bem em gravar a conversa que tiveram. Uma prova de suborno num caso como esse era a garantia de uma futura chantagem bem-sucedida. Bastava procurá-la com a gravação quando o dinheiro acabasse e jamais teria problemas financeiros novamente. E como a executiva o tinha ajudado com aquela ameaça de morte... Deixava tudo mais fácil.

Pensando nisso, William sentou à frente do computador, abriu o editor de textos, e começou a redigir a retratação que publicaria. Fez um extenso mea culpa² e o divulgou nos mesmos sites onde havia espalhado o boato sobre clonagem. Agora era só esperar que a imprensa o procurasse para que pudesse confirmar o desmentido e tudo estaria acabado.

Quando finalizou, já era noite. Olhou para o relógio em seu celular e verificou que passava das 21h. Resolveu, então, que merecia descansar. Preparou uma dose de uísque, com gelo e um dedo d'água, como gostava, e sentou em sua poltrona preferida, reclinando-a e fechando os olhos.

Mas antes de tomar a primeira dose da bebida, um tiro disparado de uma arma com silenciador, que foi calmamente aproximado de sua têmpora direita, por alguém que entrou em sua casa sorrateiramente, tirou a vida do homem cujo o último pensamento foi o um milhão de dólares que nunca receberia.

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