Lena puxava o ar com força para os pulmões, tomada pelo choque, vítima de uma intensa e desconcertante emoção. Há dias não via aquele rosto. Há dias não sabia o que era estar diante de Kara, mas, ao mesmo tempo sabia que era impossível àquela mulher ser ela.
"Ou não?"
— Kara? — tentou novamente, como se fosse capaz de pronunciar apenas esse nome.
Helen franziu o cenho e uma linha fina se formou em seus lábios.
— O quê? — a mulher não entendeu, além disso era impossível ouvir o que a bonita moça lhe dizia. O som continuava bastante alto. Levantou a mão, pedindo um momento à outra, e andou até a porta. — Kate, abaixe um pouco o volume! — gritou para alguém na sala.
O pedido da dona da casa foi atendido, embora sob protestos dos convidados que, naquela altura, curtiam o solo de guitarra de uma canção de Journey.
— Desculpe-me, mas eu não pude escutar o que você disse antes. — Helen expressou numa voz suave, à qual Lena já era afeiçoada, ao passo que se aproximava.
A pintora, perplexa com tantas similaridades, estudava cada traço, cada centímetro do rosto de Helen de maneira inquisitiva.
— A cicatriz... — Lena murmurou com ar confuso. — Você não tem a cicatriz! — os verdes se prenderam ao sobrolho de Helen, na mesma parte onde em Kara era visível uma pequena cicatriz. Mas no rosto de Helen não havia nada.
A ex-stripper inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, também atônita com o comportamento estranho da desconhecida. Ela parecia em transe e não falava nada que lhe soasse coerente.
— Não quer sentar um pouco? — Helen ofereceu com expressão amistosa no olhar — Você está bem pálida! — reparou.
Lena acomodou-se na cadeira próxima que a outra apontava, ainda incapaz de tirar os olhos do rosto de Helen. Com gentileza, a loira lhe passou um copo d'água que Lena segurou entre as mãos trêmulas devido ao nervosismo, derramando um pouco do conteúdo enquanto bebia.
Transcorreram-se alguns minutos, durante os quais a pintora olhava por sob os cílios a mulher agora recostada na mesa, de braços cruzados, fitando-a com visível interesse.
— Se sente melhor? — a ex-stripper pronunciou com voz suave, sem se mover da posição, observando a cor voltar lentamente às maçãs do rosto que há poucos instantes estava lívido.
— Sim — Lena respondeu num tom baixo, percebendo que Helen pronunciava as palavras com sotaque arrastado. Não parecia ser nova-iorquina.
— Que bom! — mostrou um sorriso cristalino, emoldurado por dentes perfeitamente alinhados, que fez o coração de Luthor falhar uma batida — Desculpe a pergunta, mas nós já nos conhecemos? — Helen ficou intrigada com a forma como os olhos verdes a examinavam minutos atrás, além de ter estranhado também a reação da moça ao vê-la.
Lena pigarreou, limpando a garganta.
— Não... — sua boca externou, embora seus olhos refletissem certa indecisão — E-eu sou filha da sua vizinha do lado, Olivia Marsdin — explicou algo tensa — Vim aqui pedir para baixar um pouco o volume, porque o barulho a incomoda.
Helen bateu um dedo sobre os lábios.
— Hum... Você sabe que ainda é cedo, então não há nenhuma restrição para o som continuar alto...
— Eu sei — Lena assentiu rapidamente, mordendo o canto da boca, desestabilizada pela versão despojada de Kara na sua frente.
"Que situação estranha!" — remexeu-se na cadeira, desviando o olhar, porém ainda sentindo o peso do olhar intenso de Helen em cima de si. "Por que você é idêntica a ela?"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amonet [KarLena]
Science FictionPor possuir uma particularidade que a diferencia dos outros humanos, Kara Grant tenta se manter o mais reservada possível, evitando de todas as maneiras estabelecer vínculos duradouros com outras pessoas. Porém, numa manhã de segunda-feira, o destin...