Fazia alguns minutos que Alex deixara a sala e Kara ainda processava o que dissera a ela, com a cabeça recostada em sua cadeira de encosto alto. Confessara que achava estar apaixonada por Lena, surpreendendo até a si mesma.
Como poderia saber se aquilo era realmente paixão? E, se realmente fosse, como teria acontecido em tão pouco tempo?
A única coisa que tinha certeza naquele momento era que precisava muito de Lena. E essa necessidade chegava a despertar em Kara certo sentimento de posse, porque não queria que nada além das circunstâncias que já existiam para afastá-las, se interpusesse na amizade das duas. Pelo menos era nesses termos que gostava de colocar as coisas. Ainda não estava pronta para admitir que isso, na realidade, poderia ser simplesmente ciúme.
Lena a fizera muito bem desde que se "esbarraram" naquela manhã de segunda. Duas semanas com a pintora em sua vida conseguiram lhe trazer emoções muito intensas... Mais do que a maioria que já vivenciara em seus trinta e dois anos. Agora começava a finalmente sentir-se confortável em sua própria pele.
Ser Kara Grant, a super CEO, sempre trouxera um enorme fardo, fazendo com que a loira, por vezes, detestasse estar onde estava, mesmo que as pessoas pudessem pensar que ela tinha tudo.
Mas, ao conhecer Lena, se permitira a ser apenas uma Kara sem sobrenome, comum, que não precisava estar sempre certa ou fazendo a coisa certa. E essa era uma pessoa que podia sentir-se completa em qualquer lugar. Era a melhor sensação que já tinha experimentado.
O conselho de Alex era que deveria dizer à pintora da sua possível paixão. Ok. Mas, como? Kara não tinha nenhuma intimidade com aquilo, mas acreditava que confessar a alguém que você não estava certa sobre o que sentia, era pior do que se dissesse que não sentia nada.
Começou então a fazer conjecturas sobre aquilo. Poderia realmente voltar agora à casa de Lena, mas para conversar francamente com ela. Contar do controle que a mãe exercera durante anos, proibindo-lhe de ter relacionamentos. Falar que sentia algo que não sabia muito bem definir, porque jamais teve as inúmeras namoradas que a outra supunha e, caso Lena estivesse disposta a ajudá-la a entender aquilo, poderia, quem sabe, ser a sua primeira. Agora que tinha tido a coragem de enfrentar a mãe, aquela possibilidade estava aberta.
No entanto, logo afastou a ideia. Como explicaria aquele controle? Sem saber que Kara era um clone, propriedade intelectual de Cat, Lena jamais compreenderia a situação e acabaria por achá-la uma tola ainda maior. E essa era uma verdade que não revelaria. Não só pelos motivos óbvios, mas também por não conseguir imaginar a reação da pintora diante daquilo, principalmente depois da conversa hipotética que tiveram sobre o assunto.
Outra possibilidade, bem mais segura, seria ir até lá apenas para se desculpar da atitude infantil de sair antes da hora, como consequência da chegada de Andrea. Não queria que as coisas voltassem a ficar estranhas por causa daquilo, apesar de estar confusa.
Por fim, deu-se conta que não chegaria a lugar nenhum, até porque, qualquer que fosse a melhor coisa a ser feita, a resposta não estaria ali naquele escritório.
Logo, chamou Nia, que realmente parecia bastante aborrecida com ela, conforme Alex lhe dissera. A moça continuou assim mesmo depois que Kara pediu-lhe as mais sinceras desculpas, com sua gentileza habitual.
Chamou-a para dispensá-la, pois ainda faltava uma hora para o fim do expediente quando decidiu ir em busca das respostas que precisava.
Ao ver a assistente saindo da sala, cabisbaixa, mesmo após a dispensa antecipada, sentiu-se ainda pior pelo que tinha feito. Mas cuidaria daquilo depois. Antes precisaria resolver o que ocasionara tudo isso.
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Amonet [KarLena]
Science FictionPor possuir uma particularidade que a diferencia dos outros humanos, Kara Grant tenta se manter o mais reservada possível, evitando de todas as maneiras estabelecer vínculos duradouros com outras pessoas. Porém, numa manhã de segunda-feira, o destin...