Amonet [KarLena]

Capítulo 28 - O quadro

(Dias depois...)

Na mesma noite que deixaram a mansão de Cat, Kara levou as outras clones para a casa de Helen, e logo se despediu, pois sentia a necessidade de ficar sozinha. Então, rumou para seu apartamento, onde se refugiou, não fazendo questão de ver mais ninguém nos dias que se seguiram. Desligou seu celular e pediu para que o porteiro avisasse a quem por ventura fosse procurá-la ali, que ela viajara e não saberia quando voltaria.

Com o decorrer dos dias, muitas vezes se pegou vagando pelo loft. Em outras, sentava-se para ouvir música ou simplesmente assistir algum filme que, quando ela se dava conta, já tinha acabado sem que tivesse realmente prestado atenção ao que passava na tela. Noutros momentos, saia para a sacada e ia deitar-se na espreguiçadeira, onde ficava por horas olhando o céu da cidade, pensando sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada. Não estava necessariamente depressiva, apenas farta de sua vida. Do rumo que ela tinha seguido sem que as escolhas para chegar até ali tivessem partido de si mesma.

No quarto dia sozinha e autoexilada em sua cobertura, começou a sentir que os móveis, a decoração, as cores do lugar a sufocavam e decidiu que precisava fazer alguma coisa sobre isso. Revirou o closet e jogou seus terninhos, seus tailleurs, todas as peças que faziam-na lembrar do Vita em uma espaçosa mala. Doaria todas. Tinha levado anos trabalhando naquele instituto, acreditando piamente que havia nascido para dar continuidade ao legado de sua mãe, todavia, agora entendia que o Vita era apenas um tumor maligno que precisava ser totalmente extirpado de seu organismo. 

Mesmo tendo sido durante anos a competente presidente do instituto, a realização de que isso nunca a fizera realmente feliz, e que aquela fora só mais uma das inúmeras decisões que Cat tomara em seu nome, finalmente a alcançava.

Durante horas, Kara mexeu em seus objetos e mudou muita coisa de lugar. Mas, no fim, mesmo que tudo no apartamento estivesse diferente, ainda pareceria a mesma fortaleza solitária, fria e triste, onde vivera por anos. A verdade é que não tinha como ser de outra forma, afinal a sombra abjeta de Cat Grant continuaria pairando ali, mesmo que as paredes fossem derrubadas e reconstruídas novamente do chão. Anos atrás, aquela cobertura fora um presente da mulher que deveria ser sua mãe. Mas sabendo agora das reais intenções dela, a executiva sentia ser impróprio continuar vivendo naquele apartamento. Era doloroso pensar que, dias antes, deixara claro para Cat que ela não lhe tiraria mais nada, porém sabia que não poderia seguir adiante com tal juramento. 

Naquela mesma noite, começaria a empacotar apenas o que tivesse conseguido comprar com seu próprio dinheiro e deixaria todo o resto para trás. Afastar-se de qualquer coisa que a ligasse a Dra. Grant era o mais importante a ser feito no momento.

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— O que achou do lugar, Srta. Grant? — perguntou a simpática mulher, vestida em um tailleur de tweed, em seu tom profissional. Era o quinto loft que mostrava à jovem executiva nos últimos dias e, a julgar pela forma como a outra parecia se demorar admirando os detalhes da construção, era provável que desta vez conseguisse fechar o negócio.

— Por favor, pode me chamar de Kara! — pediu, andando sobre o piso de madeira polida e parando na frente de uma das paredes feita de tijolos aparentes, onde havia grandes janelões de vidro.

“Eu fiz de você uma Grant!!!”, recobrou as palavras ditas por Cat no passado, em uma época que Kara já julgava ser difícil carregar aquele sobrenome. Sorriu sem humor, constatando que as coisas sempre poderiam ser piores.

— Mesmo localizado em uma área muito boa, o preço deste loft está bem razoável. — A corretora recomeçou a falar, buscando convencer uma compradora em potencial — O dono passou por algumas dificuldades recentemente... Perdeu dinheiro na bolsa, o coitadinho, e se a senhorita puder pagar em cash, talvez consiga diminuir ainda mais o valor porque ele tem pressa na venda.