Capítulo 17 - Heartbroken

213 20 12
                                    

O líquido frio escorria pelo seu corpo, mas não lavava a sua dor. Sentada, braços cruzados e apertados sobre as pernas contra o próprio corpo. Fazia mais de uma hora que Kara estava naquela posição. Em alguns pontos sua pele já enrugava, porém, ela se sentia emocionalmente esgotada, sem forças para se levantar do piso do banheiro.

Já chorara tantas lágrimas, embora sentisse que a represa rompida, ao encontrar o cheque de Cat largado no chão do loft de Lena, ainda fosse demorar muito para secar. E estava certa. Logo uma nova torrente lhe subiu aos olhos e, mais uma vez, as lágrimas se misturaram às gotas mornas d'água que caíam do chuveiro.

O corpo de Kara sacudiu, ao mesmo tempo que a dolorosa lembrança de horas atrás voltava a sua mente, aumentando a ferida em seu coração partido. Nunca imaginou que um cheque, uma simples folha, esquecida no chão com certo descaso, fosse ser o detonante de uma dor emocional tão intensa.

Parecia que o cheque havia sido deixado ali de propósito, como se o destino ou a própria causadora do seu sofrimento, quisessem se divertir às suas custas, zombando de sua esperança de um dia ter sonhado com o amor, de um dia ter acreditado na felicidade.

Já se questionara algumas vezes, em que momento Cat soube de Lena. Teria sido antes ou depois da primeira vez que elas fizeram amor?

— Amor... — sorriu com amargura, tomada por uma forte sensação de desalento. — Não houve isso da parte dela...— apoiou-se na barra de ferro do box e, com certa lentidão, se ergueu.

Desligou o chuveiro e, por alguns segundos, encostou a testa nos azulejos brancos, sentindo-se fraca demais até mesmo para ficar de pé. Sua debilidade não era apenas emocional... Tinha a impressão que alguém havia golpeado seu corpo, enchendo-o de fortes pancadas.

Devagar, arrastou-se para fora do box e pegou um roupão azul de algodão, envolvendo-se na peça, antes de sair do banheiro. Passou pelo seu quarto, seguindo pelo corredor até chegar no living do apartamento.

Lembrou-se que, há poucos dias, Lena estivera ali e, mais uma vez, mergulhou em sua tristeza. Aos soluços, andou até o bar e derramou uísque num copo, bebendo todo o conteúdo quase de um gole só. Pegou a garrafa e foi se deitar no sofá em formato de L, puxando a mesinha de centro oval para perto, onde deixou o uísque.

Bebeu mais uma dose e ligou o Dock Station. Talvez um pouco de música a distraísse das lembranças de tudo que vivera com Lena no pouco tempo que estiveram juntas. Precisava preencher o silêncio torturante de sua solitária fortaleza. Queria apenas beber até ficar inconsciente e, quem sabe, em algum momento despertar daquele pesadelo que sua vida se transformara após ver o cheque.

Encostou a cabeça na almofada, umedecendo-a com seus fios molhados. Fechou os olhos e esfregou os dedos nas têmporas, tentando se concentrar na voz de Laura Pausini.

E non si può

(E não se pode)

Chiudere gli occhi e far finta di niente...

(Fechar os olhos e fingir que nada acontece...)

Sarà dentro di me come una notte

(Será dentro de mim como uma noite)

D'inverno perché

(De inverno porque)

Sarà da oggi in poi senza di te

(Será de hoje em diante sem você)

— Cala a boca! — resmungou, irritada com a música, apertando com força o botão do controle, mudando para a próxima.

Amonet [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora