• 55 ~ Não resisto a nós dois

56 5 0
                                    

Sete dias

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Sete dias.
Já fazia uma semana que eu tinha voltado pra casa e, consequentemente, uma semana sem qualquer tipo de contato com Pablo e com a terceira pessoa do nosso relacionamento: a H.

Meu corpo inteiro tremia, queimando em febre. Eu urrava de dor, rolando na cama enquanto minha mãe umedecia uma toalha em água fria e pressionava sobre minha testa molhada de suor.

Meus pais não fizeram qualquer questionamento sobre meu estado, o que evitou um grande constrangimento, mas estava na cara o que estava acontecendo comigo. Eu estava em abstinência e era óbvio que eles sabiam. Eu vi as lágrimas em seus olhos quando se aproximaram de mim para me servir sopa na boca (e me levarem para vomitar no banheiro logo depois) ou quando massagearam minhas pernas em meio às cãibras.

Em algum momento as dores me fizeram perder a noção de tudo ao redor, parecia que eu estava vivendo um looping eterno no inferno. Já não tinha lágrimas para chorar, ou mesmo forças para isso. Meu corpo parecia ter triplicado de tamanho e só a ideia de dar cinco passos até o banheiro já me fazia encolher de dor.

Em uma das noites, meus pais esqueceram de fechar completamente a porta do meu quarto e pude ouvi-los brigando por minha causa. Minha mãe cogitou me internar em uma clínica de reabilitação, enquanto meu pai era veementemente contra.

Afundei a cabeça no travesseiro e gritei até perder as forças. Depois de muito, consegui dormir por algumas horas, esgotada pela exaustão, até ser assombrada por pesadelos com camisas de força e o rosto de Pablo repleto de marcas de batom.

Depois de mais alguns dias de inferno, os sintomas se tornaram suportáveis. Eu já conseguia caminhar sozinha de um cômodo a outro e me alimentar minimamente. A dor física enfim havia diminuído, mas eu ainda precisava conviver com um outro tipo de dor que parecia crescer a cada dia: a ausência dele.

E, cada vez que essa dor me assolava, a vontade de me picar aumentava. Meu pai me ajudou a pensar em alguma atividade para canalizar minha energia e comprou uma caderneta para que eu fizesse um diário de bordo do meu processo de abstinência, além de um kit de colorir que prometia "alívio de estresse e ansiedade em jovens e adultos". Tenho certeza que ele andou pesquisando sobre essas coisas na internet. Eu o amei ainda mais por isso.

Minha mãe ainda tentava lidar com sua filha ser uma viciada. Por Deus, eu mesma não havia parado pra pensar na bagunça que minha vida se tornara, até as últimas semanas de merda que tive. Era nítido que ela não sabia como abordar o assunto comigo, então optou por ignorar o tema e tratar meu tempo integral em casa como uma extensão das férias escolares. Mas imagino o quanto estava sendo difícil, a vi chorando escondida na área de serviço algumas vezes e não pude impedir as minhas próprias lágrimas também. Meus pais estavam sofrendo por minha causa e isso acabava comigo.

Meu contato com o mundo externo se dava por programas de TV e um programa de rádio que minha mãe ouvia enquanto preparava o almoço. O kit de colorir que meu pai me dera não foi muito eficaz para lidar com a ansiedade, mas a caderneta se fez muito útil. O exercício de colocar em palavras o que passava dentro de mim aliviava a dor, ainda que muitos dias fossem iguais aos outros, descobri que resgatar este hábito de ter um "Di" fazia com que me sentisse um pouco melhor e me impedisse de surtar por completo.

Por Trás dos Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora