Metade do ano já havia passado. As férias de julho chegaram, mas eu era uma das únicas alunas que ainda estava frequentando a escola já que fiquei em recuperação em praticamente todas as matérias. Pior que isso foi saber que o coordenador entrou em contato com meus pais pedindo para que fossem até a escola. Tentei evitar que isso acontecesse de todas as maneiras e Pablo chegou a cogitar em furar os pneus do carro do meu pai, mas achei que fosse um pouco demais.Primeiro me pediram para que esperasse do lado de fora da sala. Obedeci, mas pensei em correr. Não que isso fizesse muita diferença, afinal o castigo viria mais uma vez de uma forma ou de outra. Fiquei pensando então em algo que justificasse a queda cada vez maior das minhas notas.
Quando o coordenador abriu a porta e me pediu para entrar, eu já tinha ensaiado todo o teatro na minha cabeça, eu só esperava que fosse uma atriz minimamente convincente.
Depois de ouvir todo o blá blá blá sobre meu péssimo desempenho escolar, assim como os cochilos em sala de aula e o retraimento, fui intimada a me justificar. Foi então que abriram-se as cortinas do espetáculo.
- Eu queria pedir desculpas, de verdade. Sei que não tenho sido mais a mesma aluna e me sinto muito culpada por isso... - respondi com a voz chorosa. - Mas depois que briguei com a Diana, passei a me sentir tão sozinha, me sinto tão mal em vir para a escola e vê-la todos os dias...
- Você não estava fazendo as pazes com ela?
- Não deu certo. - funguei. - Tá tudo na mesma.
- E posso saber por que vocês brigaram? - perguntou.
- Meninos. Um garoto que ela gostava, nós descobrimos que ele gostava de mim. - ouvi meu pai bufar ao meu lado.
- E essa é a sua justificativa para deixar de se preocupar com os estudos? - ele perguntou.
- Pai, você não entende, né?! A Diana era minha melhor amiga, me-lhor a-mi-ga! Ela cresceu comigo nessa escola, todos os anos na mesma turma, fazendo todos os trabalhos juntas, estudando para as provas juntas, dormindo na casa da outra, e aí do nada essa sua realidade PLUF! Desaparece! Como você quer que eu me sinta?! - a essa altura eu já estava de pé, falando bem alto. - Eu não me adaptei a essa vida sem amigos! Ela contou a versão dela da história pra todo mundo e agora ninguém mais fala comigo! Eu tentei me aproximar e me ignoraram! Você quer que eu reaja bem a tudo isso? Como se nada tivesse acontecendo?!
- Acalme-se Katherine, não há motivos para se exaltar - acabei cedendo e voltei a me sentar.
- E a Maite? Ela não é sua amiga?
- Ela precisa se relacionar com pessoas da idade dela! - minha mãe retrucou.
- Minha mãe não gosta da Maite, faz de tudo para que eu não saia com ela! Mas não adianta, a Maite nunca será a Diana! Ela é mais velha, gosta de sair e meus pais ficam me prendendo! Ela é de outra turma, então a gente só se encontra no recreio! Continuo me sentindo sozinha na turma, sem ninguém para conversar, pra estudar...
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Por Trás dos Olhos Azuis
Romantizm[CONCLUÍDA] Duas vidas, dois destinos, uma escolha. Ela foi aos céus e ao inferno com ele. Ele encontrou nela algo por lutar. Katherine, uma adolescente tímida recém chegada à cidade, e Pablo, um garoto de caráter duvidoso e envolvido com o tráfico...