As palavras de Wes pairam no quarto, assim como o silêncio, que impera. Por alguns momentos não fomos capazes de encontrar as palavras certas para dizer. Desde a primeira vez que o vi, eu simplesmente o detestei, aquela auto confiança irritante, toda aquela empáfia, sem falar no sorriso exagerado, impertinente, que forçava uma intimidade que não existia. Definitivamente David Goldman era asqueroso, mas assassinatos ainda me chocam, independente de quem seja a vítima. Sei que parece um tanto ridículo, vindo de alguém que já disparou uma arma mais vezes do que possa contar, mas é assim como me sinto, não posso evitar.
_ Maldito seja David! Liso como sabão! Sempre consegue se safar!
_ Safar? Como você pode dizer uma coisa dessas Enrico? Ele está morto. - Eu o repreendo.
_ Desculpe, é só que agora, com ele morto voltamos a estaca zero. - Enrico justifica.
_Como foi que aconteceu? Você encontrou o corpo? - Dirijo a pergunta a Wes.
_ Na verdade eu o estava procurando pelo hospital, e então me deparei com uma cena atípica, Andy chorava convulsivamente nos braços da Gail. Eu as questionei sobre o que estava acontecendo, Andy não conseguia falar, mas Gail me disse que David estava morto. Tentar obter alguma informação racional com o estado em que Andy estava seria impossível, de modo que me dirigi diretamente ao a necrotério. O corpo tinha recém chegado o legista estava se preparando para iniciar a necrópsia. Apesar da minha insistência em participar, ele me dispensou com a promessa de me enviar os relatórios em primeira mão.
_ Você acha que ele é confiável. - Pergunto.
_ Com certeza não! Eu não o conheço muito bem, mas a sua reputação não é nada boa. Dizem que Eddy Mitchel é um maldito mercenário, viciado em tranquilizantes. - Wes responde, referindo-se ao homem com um desdém que não lhe é convencional.
_ E agora? David está morto, não pode responder nossas perguntas e o senhor nem ao menos poderá investigar o corpo, o que vamos fazer? Vamos nos sentar aqui e ficar parados, esperando um novo atendado como este, ou pior ainda, como a Tris mesmo disse, pode ser um novo soro... Capaz de controlá-la! O que vamos fazer Dr. Wes? - Enrico verbaliza as perguntas que estão martelando na minha cabeça com um grau de desespero quase tão grande quanto meu, enquanto anda de um lado para o outro, aumentando ainda mais a tensão no ambiente.
_ Vamos nos acalmar! Beatrice, quanto a sua tese do soro, podemos quase que descartá-la, pois na tomografia de contraste, normalmente seria acusado alguma substância estranha, ou até mesmo alguma atividade cerebral incomum e não havia nada. De qualquer forma, de hoje em diante você ficará comigo, então supervisionarei todas as suas reações. Não há com o que se preocupar, tenho certeza de que se trata apenas de dietilamida do ácido lisérgico, que está sendo excretado pelo seu organismo.
_ Certo, se você diz Wes, eu acredito - Eu falo resignada, tentando acalmar-me enquanto ele acena com a cabeça em concordância.
Enrico abre a boca para falar, mas Wes levanta o dedo indicador exigindo nossa atenção e então diz:
_ E quanto a David Goldman, eu tenho um plano! Vigiamos o necrotério, atraímos Eddye para fora, então eu entro e faço meu trabalho.
_ De que forma o atrairemos para fora? - Enrico quis saber.
_ Bem, Enrico, sabemos que o homem tem falhas de caráter, e dificilmente isso se resume a uma pequena parte sutil do comportamento humano, principalmente no caso dele... Então sugiro que exploremos essas tendências.
_ Dr. Wes, quer dizer que devemos atraí-lo com drogas, mulheres e álcool? - Enrico diz meio descrente e com num tom de escárnio.
_ Exatamente!
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Convergente II
Science FictionEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...