Zeke e eu combinamos de nos encontrarmos as 22h no Fosso do Complexo da Audácia e depois disso o dia passou feito um borrão...
Não consegui me concentrar em nada além da possibilidade de vê-la novamente na minha paisagem do medo. Uma nova forma de me torturar, mas se isso significa que a verei novamente e que será quase real! Preciso correr esse risco!
*****
Estou em cima do telhado, me preparando psicologicamente para subir no parapeito.
Da última vez que olhei, a cerca de 1 segundo atrás, eram 18h59.
Preciso criar coragem! Não posso usar a entrada principal da Sede da Audácia, pode haver pessoas ali. Então respiro fundo e ponho o pé direito em cima do parapeito, meu coração martela no peito de tal forma que ouço som das suas batidas nos meus ouvidos. Impulsiono o corpo para cima do parapeito e nesse momento penso instintivamente em recuar então me lembro do motivo que me trouxe aqui: Ela. E não penso em mais nada, prendo a respiração fecho os olhos e pulo. Sinto minhas mãos formigarem e o pânico se instalando em cada parte do meu corpo e de repente o baque contra a rede me traz de volta a realidade. Abro os olhos e vejo o céu e seu mix de cores: laranja, púrpura, vermelho que antecedem a escuridão da noite.
Resoluto, desço da rede com a agilidade de antigamente. O local está silencioso, como se todos estivessem adormecidos ou mortos. Esse pensamento me deixa atordoado e então o deixo de lado. Meus pés sabem exatamente onde devo ir, não preciso pensar a respeito, basta me pôr em movimento, meus pés já conhecem o caminho...
Por isso deixo a minha mente vagar nas lembranças dos momentos, na descoberta dos meus sentimentos, nela, na sua evolução, na sua garra e na sua determinação e por um momento vejo aqueles olhos sinceros, profundos e desafiadores diante de mim.
É tão estranho... Ela se foi, mas é como se ainda estivesse aqui, como se bastasse procurar direito para encontrá-la. Jamais conseguirei seguir em frente, pois eu ainda espero por ela, mesmo sabendo que ela não virá.
Diante da porta do depósito, respiro fundo e giro maçaneta. Está trancada. Mas que droga! Não pensei nessa possibilidade.
Verifico as horas no meu relógio e são 19h11. Tenho tempo hábil para bolar um plano. Decido ir até o antigo escritório de Max, lá havia uma caixa com as chaves de todas as portas do complexo, basta eu descobrir qual delas abre essa porta.
Chegando lá percebo a atmosfera do local completamente sombria, o abandono o deixou fantasmagórico e tudo está exatamente da mesma forma que estava quando entrei aqui pela última vez, exceto pelo pó que tomou conta do local.
Imediatamente visualizo a caixa, está no canto direito, atrás da mesa de Max. Vou até lá e percebo que a maldita caixa está trancada com um cadeado. Olho ao redor, corro as mãos pelos cabelos, coço a nuca tentando encontrar uma solução.
A mesa de Max está dentro do meu campo de visão e percebo que ela tem gavetas, me aproximo e descubro que estão trancadas também, mas com um forte puxão arrebento a fechadura e o que encontro a princípio são papéis. Dou uma rápida passada de olho e vejo que são alguns e-mails trocados com Jeanine Matthwes, por algum motivo que não compreendo ele viu necessidade em imprimi-los.
Continuo revirando as gavetas e então encontro uma caixinha de metal que quase cabe na palma da minha mão, ao abrir encontro uma pequena chave. Deve ser esta! Testo no cadeado e nada!
Checo o relógio, já se passaram 20 minutos, o tempo está correndo, então reparo no armário que está do lado esquerdo da sala, as portas são de vidro e aparentemente contém livros, cadernos e todo o tipo de material de escritório, mas bem lá no fundo vejo algo reluzir... Refletindo a réstia de luz que o alcança. Jogo tudo que está entre o objeto e eu no chão, e percebo que se trata de uma caixa quadrada de aço, é tão pesada que me pega desprevenido ao tentar movê-la. Ela tem uma pequena fechadura e desconfio que aquela pequena chave que encontrei deve revelar-me o seu conteúdo.
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Convergente II
Science FictionEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...