Acordo de sobressalto, confiro o relógio que marca 4:42 AM e uma onda de alívio percorre o meu corpo. Sento na cama com alguma dificuldade, meu braço está preso por uma tipoia, a dor parece ter dado uma trégua, mas tenho a impressão que a minha cabeça é um balão de gás, tanto que levo um certo tempo para me dar conta de que não estou no meu dormitório. As paredes que circundam o pequeno quadrado em que me encontro são divisórias de metal e tecido, ou plástico talvez, está um pouco difícil de identificar com a baixa luminosidade do local.
Próximo a cama em que me encontro há uma poltrona vazia, e ao lado da minha cabeceira, um monitor que produz um bipe regular irritante. No meu braço livre há um cateter ligado a uma bolsa cheia de um líquido transparente, não o identifico a princípio, pois o meu raciocínio está lento, os pensamentos somem na mesma velocidade com que aprecem, mas então me recordo de quando acordei no meu dormitório pela primeira vez, haviam duas bolsas conectadas ao meu braço por cateteres, soro fisiológico e sedativos. Sedativos é tudo que eu não preciso neste momento, estar drogada durante os meus exames será o meu fim como aspirante a piloto e militar.
O braço preso dificulta, mas ainda assim arranco o cateter e um pouco de sangue regurgita da minha veia. Há também uma espécie de grampo de plástico no meu dedo indicador, imagino que deva ser esse objeto que me liga a esse monitor e ao removê-lo o bipe deixa de ser apenas um bipe a intervalos irregulares e passa a ser um som ininterrupto e ainda mais irritante do que o anterior, o que me faz cogitar a possibilidade de colocá-lo de volta.
_ Beatrice, o que você pensa que está fazendo?!
Nossa nem percebi a chegada de Wes, meus sentidos estão muito afetados.
_ Estou drogada! Você me drogou! Eu tenho meus exames para fazer em menos de três horas! - Eu digo e soa mais como um choramingo do que como palavras carregas de irritação e reprovação como eu esperaria. Minha capacidade de fala também está prejudicada. Mas que droga!
_ Calma! Beatrice, você deslocou feio esse ombro, foi anestesiada para que eu pudesse colocá-lo no lugar sem que você desmaiasse de dor. - Ele retruca.
_ Eu já passei por dores piores, garanto que eu aguentaria sem ser nocauteada por anestésicos,ou seja lá o que você me deu! - Continuo tentando imprimir toda indignação que estou sentindo na minha voz, mas acho que não estou tento muito sucesso se o que sai da minha boca é exatamente o que estou ouvindo.
_ Beatrice, o efeito deve passar em uma hora. Você acordou antes do previsto porque deve estar ansiosa, mas se estivesse dormindo quietinha como deveria, com certeza acordaria em tempo dos seus exames sem efeitos colaterais.
_ Você garante que estarei em condições de fazer os exames? - Preciso da confirmação.
_ Você é destra? - Ele pergunta.
_ Que tipo de pergunta é essa? - Estou confusa, eu quero uma confirmação de que recobrarei o meu juízo perfeito e necessário para fazer os meus exames.
_ Simples, se você for destra poderá fazer os tais exames sem problemas, e com todas as suas faculdades mentais em pleno funcionamento. Já se você não for, vai complicar um pouco, pois você não conseguirá movimentar o braço esquerdo, não sem sofrer dores horríveis e prejudicar seriamente seu tratamento.
_ Sou destra, e mesmo que não fosse daria um jeito. O que importa é se estarei conseguindo raciocinar com clareza. - Respondo.
_ Sim, estará. Agora, deite que vou chamar uma enfermeira para substituir seu cateter.
_ Wes, você promete que se eu deitar agora estarei de pé e lúcida para fazer os exames?
_ Eu prometo. Confie em mim. Eu mesmo levo você até lá.
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Convergente II
Science FictionEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...