Meus olhos correm do papel amarelado em minhas mãos para o rosto de Wes, meu tio Wes! Vejo que ele me olha aflito, está medindo minhas reações. E todas as perguntas possíveis que eu deveria fazer escolho a menos provável e talvez a menos esclarecedora de todas.
_ Você a perdoou?
Ele me olha por um longo tempo, talvez tentando decifrar a minha curiosidade ou buscando as palavras corretas que expressem seus sentimentos em relação à sua mãe... Minha avó.
_ No início eu a odiei. Odiei por ter me abandonado a própria sorte em um abrigo para menores. Mas procurei esquecer, meti meu nariz nos livros e todo o tempo ocioso que tinha, desde o amanhecer até o anoitecer eu lia, estudava e relia de novo. Um jeito que encontrei de distrair o meu cérebro, de esquecer onde eu estava, de esquecer que eu estava sozinho. Quando fiz 18 anos, já estava cursando o 3º ano de medicina, de modo que saí do abrigo para um pequeno apartamento de um cômodo que consegui alugar com a remuneração do emprego no setor administrativo do Hospital Saint Louis. No dia da minha formatura, não havia familiar algum para tirar as fotos, ou comemorar comigo. Apenas o diretor do Abrigo para Menores, onde eu vivi por cerca de 16 anos.
Ele faz uma longa pausa, como se precisasse tomar fôlego e continua:
_ Ele veio me parabenizar e me entregou uma pequena caixa dizendo: "Aqui está um pouco do seu passado. Mas não esqueça meu jovem, o futuro é você quem fará, independente de qualquer coisa, a decisão será sempre sua." Ele me abraçou e foi embora, me deixando ali com a pequena caixa na mão. Apesar da curiosidade eu tinha me voluntariado para o plantão no hospital naquela noite, pois haviam as festividades de formatura e eu queria desesperadamente escapar delas. Não gosto do contato com muitas pessoas, não gosto que pessoas desconhecidas me toquem ou esbarrem em mim, tenho aversão a multidão, festas e tudo mais, elas parecem evidenciar ainda mais a minha solidão. Depois de 36 horas de trabalho fui direto para o meu apartamento, tomei um banho, preparei um café me sentei na cama, abri a pequena caixa e encontrei esta carta que você tem nas mãos.
_ Então quando você veio trabalhar aqui já sabia que minha mãe era sua irmã? - Pergunto.
_ Não sabia, sua mãe vivia em um experimento, e até então eu acreditava que ela havia de fato nascido lá. Foi quando as coisas começaram a ficar complicadas em Chicago que voltei minha atenção para sua família. Havia uma pequena chama dentro de mim que dizia: É ela, só pode ser ela. Mas de fato eu soube apenas depois que ela morreu e fui pesquisar nos arquivos.
_Mas respondendo a sua primeira pergunta: Sim, eu a perdoei.
_ Gostaria que a minha mãe pudesse ter lido esta carta, gostaria que ela pudesse ter guardado essa imagem de minha vó. Uma pessoa que sofreu todo tipo de abuso e não conseguiu superar, uma pessoa que agiu por desespero e que fez o mal porque era somente o mal que conhecia.
_ Sim, você tem razão. - Ele diz quase que como um suspiro.
_ Agora entendo o seu esforço em salvar-me. Obrigada.
_ Eu devo isso a sua mãe, e a mim mesmo. Você e seu irmão me deram a oportunidade de ter uma família e o que as famílias fazem é cuidar uns dos outros. - Ele diz e parece emocionado, seu olhos estão brilhantes, molhados pelas lágrimas que ainda não caíram.
Ao ouvir isso não consigo evitar a lembrança de Caleb com Jeanine Mattews estudando a minha mente, ele foi capaz de me entregar para ela, eu poupei-lhe a vida ao assumir o seu lugar naquela missão no Departamento. Talvez se eu o tivesse deixado ir nada disso estaria acontecendo, talvez eu estivesse com Tobias agora, mas de fato não conheceria o passado de minha mãe e muito menos o meu tio Paul Wes Sheifild.
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Convergente II
Ciencia FicciónEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...