Depois daquela reunião secreta na casa de José outras duas de sucederam sem a minha presença, Enrico criou uma espécie de pauta com as anotações dos assuntos mais relevantes e sempre encontrava um jeito de enviar-me um mensageiro.
Conforme os dias passavam, mais obcecada eu ficava com a ideia de descobrir quem é o Presidente. As minhas tardes auxiliando o General Sparks era o que eu considerava de mais produtivo para chegar mais próximo de alguma pista ou evidencia. Mas não descobri nada, apenas ouvi uma conversa aqui, outra ali entre Sparks e o Presidente, nada de muito revelador. Basicamente ordens a serem seguidas.
Hoje pela manhã fui convocada a uma nova bateria de exames, com a finalidade de avaliar meu ombro, imagino que estejam ansiosos por me ver em combate e para ser honesta, já não aguento mais essa rotina amena. Caminho pelos corredores em direção ao hospital, acompanhada do Tenente Michael Keaton, o médico responsável pelo meu tratamento. Diferente dos outros profissionais da área da saúde que conheci, ele não usa jaleco branco, está vestindo uma farda militar. Ele deve ter por volta dos quarenta anos, pois as linhas de expressão cravadas ao redor dos olhos pequenos e azuis, deixam sulcos irregulares na pele levemente avermelhada, assim como os fios de cabelo branco que surgem como flocos de neve na sua nuca revelando indícios da idade. A boca é uma linha fina e comprimida, tudo nele remete a dureza e hostilidade, ele é frio, rude e não faz questão nenhuma de manter um diálogo, de modo que permanecemos em silêncio ao longo de todo o caminho.
Quando estamos adentrando a recepção do hospital vejo Wes parado, sozinho no saguão com os braços cruzados, provavelmente soube que eu viria e está me aguardando. Nossos olhares se cruzam e um enorme sorriso toma conta do seu rosto, não consigo controlar o ímpeto e corro em sua direção, ele abre os braços para me receber. Meu corpo chocá-se com o dele dele que é forte o bastante para receber o impacto sem mover-se e eu aninho a cabeça em seu peito, inalando seu aroma de roupa limpa com um leve toque do que parece ser lavanda, artemísia e cedro, uma combinação inusitada, mas que em sua pele fica perfeita. Ah! Como senti saudades dele!
Ele segura-me levemente pelos ombros e afasta-se o bastante para poder olhar para mim.
_ Beatrice! Estive muito preocupado com você! E toda vez que a procurei sempre estava em aula, cumprindo pena, dormindo, ou sei lá o que. Nunca deixaram-me falar com você!
_ Estou bem Wes! Senti muito a sua falta!
_ Eu também.
_ Sinto interromper, mas a recruta Prior está aqui para fazer uma ressonância do ombro esquerdo. - O Tenente Michael Keaton diz, num tom seco e cortante.
Estava tão distraída com a presença de Wes que havia esquecido que o Tenente Keaton aproximava-se.
_ Tentente Keaton, prazer em vê-lo. - Wes estende a mão para cumprimentá-lo, ao que ele estende a sua e aperta a mão de Wes enquanto seus olhos frios o avaliam de cima a baixo e ele retribui as palavras de Wes com um breve aceno de cabeça.
_ Vamos, não temos tempo a perder. - Ele solta a mão de Wes e me pega pelo braço, puxando-me em direção as portas duplas.
_ Vou com vocês! - Wes diz girando os calcanhares e nos acompanhando.
_ Não é necessário! - Diz o Tenente em um tom cortante.
_ Eu faço questão! Posso lhe passar o histórico médico dela. - Wes insiste.
_ Já disse, não é necessário! - O outro responde entredentes
_ Eu vou de qualquer jeito! - Wes insiste.
O Tenente Michael Keaton olha de canto para Wes, mas não diz nada apenas continua me guiando pelos corredores e pelo que percebo ele está tão familiarizado com o local, tanto quanto Wes que se mantém ao meu lado com a mão pousada em meu ombro.
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Convergente II
Bilim KurguEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...