A escuridão da noite nos serve de camuflagem nesse deserto árido. Minha mão direita fechada em figa desliza violentamente para baixo provocando o acelerador e o rugido ensurdecedor do motor abafa o som das batidas descompassadas do meu coração.
Contornamos a base em formação, o Tenente Milles faz a frente, Zeke e eu recebemos os postos menos privilegiados, com os flancos protegidos já que não tivemos tempo para um treinamento militar da Base... Como se realmente precisássemos disso!
Por orientação de Milles ao cruzarmos os portões, desligamos os faróis e como morcegos seguimos numa velocidade agoniante o rastro de luminosidade prateada, lançada pela lua cheia, que reina solitária na imensidão da noite. Estamos há vários quilômetros do nosso destino, chegaremos ao amanhecer para que de alguma forma tenhamos uma chance de sermos identificados antes que possam lançar seu ataque ostensivo, arruinando de vez essa missão.
_ Podemos ir um pouco mais depressa! - A voz de Alejandra ecoa no meu Headphone.
_ Mantemos o ritmo. - Responde Milles secamente.
_ Quatro, e as garotas heim?! Vão pirar quando souberem que ficaram de fora da missão. - Agora é a voz de Zeke que chega até mim pelos fones e imagino que todos estão partilhando nossa conversa o que é no mínimo constrangedor, mas ele parece não se importar.
_ É pode ser, mas Cara teve de ficar de olho em Christina, que ainda não está em condições de caminhar mais do que 50 metros, que dirá passar 4 horas em cima de uma moto. - Respondo imaginando se receberemos uma represália por conversar utilizando o canal de comunicação coletivo, mas ninguém se manifesta.
_ É... Tem razão e o Caleb, você acha mesmo que ele pode ter descido ao Bunker sozinho, mesmo sem a ajuda de ninguém? - Ele continua.
_ Caleb é esperto, acho que conseguiria chegar lá sozinho se quisesse e a julgar pela forma como se despediu de Cara... Pelo que ela contou parecia que ele estava indo para não voltar mais. - Respondo.
_ Ele é um idiota, mas acho que não corre risco de vida! - Alejandra se intromete na conversa.
Ao ouvir a sua voz fico tentado em tentar tirar mais dela. Como foi que ela encontrou a Tris, como ela está, e o que conversaram que fez com que ela obtivesse a confiança de Tris... Mas me contento com o silêncio que paira entre nós em quanto seguimos pela estrada depredada e poeirenta, aguardando o momento certo de falar, esperando pela privacidade necessária, para que eu possa obter dela tudo de que preciso.
Respiro fundo e tento concentrar minha atenção na estrada, na moto, no motor, no velocímetro que não passa dos 80km p/h, mas meus pensamentos insistem em aumentar a rotação e quando percebo estou voando longe... Estou com ela em meus braços, estou revivendo a dor da perda, estou olhando em seus olhos uma última vez, estou segurando sua mão flácida e sem vida mais uma vez... Tenho que fazer um tremendo esforço para me manter consciente de onde estou, para não sucumbir ao desespero. Ultimamente tenho encontrado uma dificuldade muito grande em assimilar o que é verdeiro e o que falso, o que é real e o que é fruto da minha imaginação. Só ela me prende ao chão, segurar sua mão, me prende a esta realidade, mas quando ela não está comigo me sinto perdido e já não sei mais o quanto de tudo isso é alucinação e o quanto é vida real...
_ Vamos fazer uma parada. Estamos há poucos quilômetros do nosso destino e ainda são 3 horas da manhã, temo que cheguemos na cidade antes do sol. - Milles sentencia enquanto reduz a velocidade a velocidade ainda mais.
_ Que enrolação! Vamos de uma vez... Já não chega ter de pilotarmos como tartarugas, agora teremos de parar. - Alejandra protesta com uma ansiedade quase que palpável.
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Convergente II
Fiksi IlmiahEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...