Capítulo 8 - Ele

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O clima na repartição está muito estranho, a iluminação precária sem a ajuda da luz do dia torna o local sombrio. Grupos de pessoas conversam aos sussurros. Johanna Reyes está com Christina, que atualmente é responsável pelo departamento de imigração.

_ Quatro, isso é estranho! - Zeke me olha com a sobrancelha erguida esperando por uma resposta e eu simplesmente gesticulo para que me siga. Me dirijo para onde Johanna está.

_ Johanna, o que está acontecendo?

_ Tobias, estávamos esperando por você! Ela me encara por um longo tempo, creio que percebeu o inchaço e a vermelhidão dos meus olhos. Ela desvia o olhar e fico grato por não comentar nada a respeito.

_ Nossa patrulha noturna encontrou 7 pessoas desacordadas próximo a cerca. A julgar pelas suas roupas pareciam ser moradores da Margem que optaram por não viver aqui na cidade. Eles foram levados ao hospital para serem avaliados e estamos aguardando que acordem para que possamos saber o que houve.

_ Entendo, mas porque motivo estamos todos reunidos? - Digo intrigado, pois não imagino porque isso deve ser tão importante a ponto de reunir todas essas pessoas.

_ Isso pode ser uma ameça de ataque não acha? - Johanna responde com olhos arregalados.

_ Por que você acha isso?

_ Ora Tobias, o Governo pode estar requerendo a posse da cidade novamente. -Johanna fala exasperada. 

E não vejo como um bando de moradores da margem possa ter algo a ver com um ataque do Governo.

_ Acho pouco provável, todos do departamento foram reiniciados com o soro da memória. - Interrompo a frase porque esse pensamento é doloroso demais, remete a ela. Respiro fundo e continuo.

_ Eles foram instruídos para que convencessem o governo de que o experimento era desnecessário, pois concluíram que os GDs não representavam risco e que sua condição era apenas uma das muitas divergências genéticas que existem entre os seres humanos.

_ Eu sei Tobias, já falamos sobre isso. Mas as vezes me pergunto como pode o Governo abandonar uma tese que defenderam por longos anos com base na argumentação de cientistas desmemoriados. Só acho estranho, as vezes tenho a impressão de estão apenas esperando o momento certo para atacar.

Eu penso tentando ponderar o que ela está dizendo, mas já se passou muito tempo, se tivessem que reivindicar o controle, já teriam feito.

_ Olha Johanna, já se passou muito tempo, acho que resolveram simplesmente nos ignorar, talvez tenham coisas mais importantes para resolver. - Digo, mas sem muita convicção. Preciso pensar a respeito.

_ Pode ser. De qualquer forma vamos esperar para ouvir o que estas pessoas tem a nos dizer.

Nesse instante percebo um pequeno grupo próximo o suficiente para ouvir-nos, estão olhando em nossa direção, como se prestassem muita atenção ao que dizemos. Conheço essas pessoas, são funcionários aqui da repartição, ocupam cargos simples. Marie é secretária da Johanna. Thomas é assessor de comunicação e Dinah é responsável pela limpeza da repartição e por preparar nosso café. Estranho... São cargos bem distintos onde existe pouca interação, exceto por Marie e Thomas que as vezes tem de se comunicar, afinal a Johanna repassa informações a ela e as vezes isso envolve divulgação, o que está dentro das funções de Thomas, mas não faz muito sentido para mim, nuca os vi juntos conversando na repartição como acontece com outros que trabalham aqui.

Sua ligação aparentemente parecia ser somente profissional. Mas ainda assim estão reunidos informalmente como os demais que se reuniram em grupos de acordo com suas relações de amizade. Não imagino qual afinidade possa tê-los unido. E o mais estranho é estarem prestando tanta atenção em nós. Assim que eles percebem meu olhar curioso juntam-se a outro grupo de pessoas e não olham mais em nossa direção. Acho que a Johanna está me deixando paranoico.

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