Analiso por um um breve instante o homem sentado a minha frente em sua elegante poltrona. De pernas cruzadas, saboreando lentamente sua xícara de chá. Ele lembra vagamente a imagem do meu pesadelo, porém essa sua amabilidade desconcertante parece beirar as raias da loucura e me deixa em estado de alerta. Se eu não conhecesse toda a sua crueldade precedente poderia confundi-lo com algum tipo de santidade, pois tudo nele parece imaculado, o terno bem cortado e incrivelmente branco, assim como os cabelos bem penteados e crescidos até os ombros a barba bem cortada e igualmente branca, os olhos quase inocentes são de um azul tão familiar. Chega a ser assustador.
_ Bem, Senhor Presidente... Acho que mereço algumas explicações.
_ Explicações? É tudo que você quer minha querida Beatrice?
_ Sim! Quero entender por que está me tratando assim, por que poupou a minha vida, quando na verdade sempre fui uma pedra no seu sapato que poderia facilmente ter sido eliminada.
_ Então é isso que você pensa?! - Ele diz e parece chocado.
_ Me desculpe Presidente, mas até onde sei, fui eu quem disparou o soro da memória no DAG, arruinando os planos de David de reiniciar Chicago, que imagino ter tido o seu aval.
_ David, era um estúpido presunçoso, deveria tê-lo executado há muito mais tempo.
_ O que o Senhor quer dizer com era?
_ David está morto. No dia em que você foi conduzida a base ele foi julgado e condenado por mim. Crime contra a família presidencial. Ele teve muita sorte, se você não tivesse sobrevivido o grau de tortura teria sido infinitamente maior. -Família presidencial? O que ele quer dizer?
_ Presidente, o que o senhor quer dizer com família presidencial? Qual nosso grau de parentesco?
_ Minha querida, eu sou seu avô. - Ele diz e sorri, com uma amabilidade que meu primeiro impulso é correr em sua direção para lhe dar um abraço e quem sabe me aninhar em seu colo, mas então me lembro do quão serpentino ele é e que esta não é uma reunião de família.
_ Você? Como assim? Você é o pai da minha mãe, Natalie Prior? - Digo pensando imediatamente em Wes e como isso talvez explicaria o fato do presidente o ter aceito na base desde pequeno...
_ Não, na verdade sou pai de Andrew. Você não vê a semelhança? - Ele diz erguendo as sobrancelhas.
_ Vou lhe mostrar algumas fotografias de quando eu era mais jovem e você verá como seu pai e eu nos parecíamos muito.
Ainda estou processando a informação.
_ Mas como, como isso aconteceu?
_ Bem, imagino que você já tenha idade suficiente para entender como as coisas funcionam e embora eu não aprove, sei que você está de namoro com aquele rapaz que por sinal é muito velho pra você...
_ Eu sei como essas coisas funcionam, quero dizer, como é que seu filho foi parar em Chicago? E meus avós? Eu não os conheci, mas meu pai falava deles como se tivesse sido criado pelos seus pais.
_ Ele foi criado pela mãe biológica. Sua avó me deixou, ela fugiu, estava grávida. Poucas semanas de gravidez, não sabíamos.
_ Por quê?
_ Ela não concordava com meu estilo de vida, era uma idealista...
_ E por que você não a deteve?
_ Minha querida Beatrice, você conhece o amor, eu movi o céu e a terra para tê-la de volta. Mas ela escondeu-se e antes que eu pudesse encontrá-la, como uma afronta ao tratamento que eu dava aos rebeldes ela tomou o soro da memória e apagou tudo, absolutamente tudo que vivemos. E de que me adiantaria tê-la ao meu lado se nossa história nada significaria para ela? - Era o que Tobias quase chegou a fazer, mas por amor e não por vingança ou qualquer motivo torpe. Foi por não conseguir suportar a dor da minha perda. Mas não fez. Graças a Deus! Quase posso imaginar o tamanho do seu pesar...
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Convergente II
Ciencia FicciónEnquanto uns tentam se recuperar de suas perdas, o Governo mantém sua trama bem amarrada. O fim do Experimento Chicago teve um preço alto para Beatrice Prior, mas algumas pessoas são difíceis de ser controladas e existem chamas impossíveis de serem...