Capítulo 28 - Ela

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A noite que se seguiu foi longa, não consegui dormir direito, apenas por breves espaços de tempo. Sempre que caía no sono despertava assustada e ofegante por pesadelos monstruosos. Em muitos deles me vi assassinando as pessoas que mais amo. Em outras tive a oportunidade de vê-los sendo queimados vivos sob o comando de uma figura imponente coberta com um manto negro, o rosto, era apenas uma sombra escondida sob o capuz, seu andar era quase que flutuante o que lhe conferia um aspecto fantasmagórico. Enquanto assistia os corpos de meus pais, Tobias, Caleb e Christina ardendo em chamas a multidão que circundava a fogueira entoava uma canção formada apenas por gemidos e grunhidos, o que deixava a cena ainda mais aterrorizante.

Banhada de suor, dessa vez eu acordei com meus próprios gritos. E por fim resolvi que no que resta desta noite me manterei acordada. Levantei tomei banho e segui com meu ritual de higiene pessoal. Olhei pela janela e vi que o dia ainda não estava se anunciando então troquei as roupas de cama. Estiquei os lençóis umas dez vezes, a cada ruga que encontrava me dedicava a repetir a tarefa, como se esta fosse capaz de apressar o relógio, mas ao contrário, tive a impressão de que os minutos se arrastavam e a cada hora parecia simplesmente uma eternidade. Sentada na poltrona de frente para a janela na expectativa de ver o sol despontando no céu eu me perdi em pensamentos escovando meus cabelos.

Pouco antes do quarto ser invadido pela luz matutina ouço batidas suaves na porta ao que respondo sem me levantar.

_ Entre.  - Então as porta abre com um ruído quase imperceptível e Enrico surge com os olhos ainda vermelhos e marcas de travesseiro no rosto.

_ Bom dia Tris! Pensei que fosse te tirar da cama. - Ele diz meio que surpreendido por eu estar acordada, vestida com a cama bem arrumada, ou seja estou de pé há bastante tempo.

_ Na verdade não foi uma noite muito boa para mim. - Digo.

_ Pesadelos? - Ele pergunta e parece compadecido, talvez esse, não seja um mal exclusivamente destinado a mim.

_ Sim. Bem ruins.

_ Eu também tenho, todos os dias. Wes já me deu medicação, mas prefiro não tomar. Eu penso que a dor precisa ser sentida. Preciso do sonhos para que eu possa me lembrar a cada manhã qual é meu verdadeiro objetivo aqui. - Ele diz. Imagino que ou ele é muito corajoso ou um maldito louco masoquista.

_ Eu não tomo medicamentos com essa finalidade, mas cogito a possibilidade de tomar, porque me arrastar dos pesadelos para uma realidade que não é nada reconfortante não é muito agradável. Gostaria de ter alguma paz, ainda que ilusória provocada por bons sonhos. - Digo

_ Você é quem sabe, mas eu acho que os pesadelos são parte do que você é, do que você viu e com entorpecentes você apenas evita o inevitável. Você nunca ouviu falar que a dor faz parte do processo de cura?

_ Não acho que essas feridas tenham cura. Por tanto se houver um remédio que amenize, eu quero! - Eu digo, já impaciente com essa conversa de dor que precisa ser sentida.

_ Tudo bem, desculpe. - Ele fala, seus olhos ternos me fitam com condescendência. Talvez ele entenda ao menos um pouco...

_ Então! Muitas novidades? Descobriu alguma coisa ontem a noite? - Ele quer saber.

_Não sei se é novidade para você, mas Wes disse que corre um boato por aí que o General Sparks faz parte do conselho do Presidente e que a neta dele, que também faz parte do conselho, está participando do treinamento militar.

_ Já tinha ouvido as especulações. E algumas histórias a respeito dos pais da neta do Presidente. Dizem que a menina é fruto do relacionamento da filha dele com o antigo líder da rebelião, ela fugiu com ele e foi capturada por uma força tarefa, ele foi morto, mas o presidente a manteve viva porque estava grávida e ele queria um sucessor que fosse sangue do seu sangue, então quando enfim pôde fazer o parto ele ordenou a sua execução. Dizem que desde então ele cria garota com esse propósito.

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