Capítulo 36 - Ela

6K 137 103
                                    

"Um nome é importante para você?" - Ouço a voz de Enrico ecoando pelas paredes rochosas da doca.

Olho em volta estou completamente sozinha. As luzes piscam e falham enquanto eu corro a plenos pulmões sem saber exatamente aonde estou indo. Estou perdida e preciso me manter em movimento. Chego em uma bifurcação, preciso escolher um dos corredores que se estendem ao meu redor. Para onde que que eu olhe há uma direção a seguir e a iluminação tênue não me deixa ver além, de modo que terei que seguir a minha intuição, já que perdi a noção até de onde eu vim... Definitivamente não sei qual desses corredores me trouxe até aqui...

" Estamos preparando vocês para serem soldados e não rebeldes!" - Agora a voz do General Sparks parece vir diretamente da minha cabeça... Estou ficando louca.

Nesse momento retomo o ritmo da corrida adentrando o corredor mais próximo, fugindo da voz na minha cabeça... Uma lâmpada do teto explode lançando uma chuva de faíscas sobre mim, mas eu não ligo, mantenho o ritmo até que me deparo com uma única porta branca, ela é de madeira, simples com uma maçaneta redonda. Eu agarro a maçaneta e a giro violentamente, mas a porta não abre, inutilmente eu persisto tentando mais uma, duas, três, quatro vezes, então frustrada afasto-me da porta o suficiente para ganhar impulso e a chuto com toda a minha força, mas ela nem se quer mexe. Fico parada com os braços cruzados junto ao peito, enumerando as minhas opções, que na verdade resume-se a voltar de onde eu vim e escolher outro corredor. Mas então eu olho para trás e o corredor por onde eu vim não existe mais, tudo o que há é a minha imagem refletida em um enorme espelho que toma conta do que deveria ser uma parede... Uma simulação?! Estou em uma simulação? - Mas se isto é uma simulação, porque não estive ciente antes?

Enquanto pondero, aproximando-me lentamente do espelho ouço um rangido, olho por cima do ombro e vejo a porta branca se abrindo lentamente, um vulto parece flutuar pela escuridão através da porta, até desaparecer por completo. Desisto do espelho e atravesso a porta. Caminho de forma cautelosa, tateando na escuridão. O ar aqui parece denso e pesado, o que me lembra vagamente o soro da morte... Forço a minha mente a permanecer lúcida e os meus pés a continuar andando... Mais um passo, só mais um, e então um clarão ofusca machuca meus olhos, são apenas luzes que se ascendem. Sigo andando, com menos dificuldades, meus olhos se habituam à luminosidade, de modo que agora posso ver a névoa  que tornou o ar tão denso... Na verdade é mais como uma fumaça acinzentada, que contrasta com as  paredes impecavelmente brancas. Aos poucos ela vai se dispersando, como se estivesse sendo sugada lentamente pelas próprias paredes... Num piscar de olhos, a minha volta, o senário muda bruscamente, estou no centro de uma imensa biblioteca, com estantes douradas do chão ao teto, repleta de livros suntuosos, de todas as cores e espessuras, escadas com rodízios estão espalhadas ao longo das quatro paredes forradas de livro... No teto pequenos querubins pintados a mão por algum artista incrivelmente talentoso, voam com livros abertos nas mãos num céu límpido e azul.  Há também um enorme balcão há uns dois metros de altura que circunda  todo o ambiente... É simplesmente fascinante. 

Caminho em direção aos livros, não consigo conter o ímpeto de tocar todos eles com as pontas dos meus dedos... Eu percorro a sala repetindo gesto até que um livro em especial chama a minha atenção, ele destaca-se dos demais, pois está junto a uma longa fileira cuja as capas são de um tom carmim, que variam apenas alguns tons, mas este reluz, pois a capa de couro é impecavelmente branca. Quer seja quem o tenha posto ali, tinha a intenção de que se destacasse. Eu o puxo da pilha, e ouço um pequeno rangido, a estante moveu-se revelando uma pequena fenda entre a junção dos cantos da parede, bem a minha direita. Uma passagem secreta, numa biblioteca, que clichê!

Eu espio pela fenda, o que vejo faz com que as minha mãos fiquem ainda mais úmidas, por reflexo eu as esfrego nas minhas calças numa tentativa inútil de me acalmar...

Convergente IIOnde histórias criam vida. Descubra agora