Capítulo 17 - A gritaria

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Gustavo saira da faculdade logo depois de ter falado com a irmã no telefone. Já imaginava o que teria acontecido e voltou para casa correndo. Ao chegar encontrou com os pais nervosos na sala.

– O que houve? Por que vocês não estão no trabalho? – perguntou preocupado, procurando a irmã com os olhos.

– Filho, precisamos ter uma conversa séria com a sua irmã – começou a mãe – Você precisa nos ajudar a colocar alguma razão nela!

– Descobrimos que aquela menina está influenciando Ana Luiza – falou o pai.

Gustavo nem se deu ao trabalho de responder e foi logo procurando sua irmã.

– Ana! – gritava enquanto andava até o quarto.

Ao ouvir a voz do irmão, Ana Luiza abriu a porta e o recebeu com o abraço choroso.

– Eu estou aqui, mana! Vai ficar tudo bem – disse abraçando– a bem forte.

– Eles querem me afastar dela, Guto, isso não vai acontecer! Eles tiraram minha chave e meu celular!

Gustavo já previa esse acontecimento há alguns meses. Já fazia tempo que os pais faziam comentários suspeitos com ele. E ele sabia que seria difícil e que a reação dos pais seria ruim. Mas se prometera que iria ajudar a irmã a qualquer custo, seria ele a família que ela precisava nesse momento. Não a deixaria na mão como os pais estavam fazendo. Ele já estava pronto para a situação e sabia o que fazer.

– Arruma suas coisas agora, Ana, você vai lá para casa agora!

João e Andréia demoraram a entender que Gustavo não estava compreendendo a situação como eles.

– Ela não vai sair dessa casa! – falou o pai autoritário.

– Eu não vou deixá– la aqui com vocês de jeito nenhum! Ela vem comigo! Se vocês não aceitam a minha irmã do jeito que ela é então ela vai viver comigo!

Os pais se surpreenderam. Ficaram alguns segundos calados, mas Ana Luiza não esperou nem um pouco para obedecer o irmão e começou a juntar algumas roupas e colocar na mesma mala que havia usado na viagem. Algumas coisas até ainda estavam lá e enquanto ela terminava ouvia a discussão do irmão com os pais.

– Gustavo, você está maluco? – perguntou a mãe – Você não pode levar Ana Luiza daqui! Ela não vai mais encontrar aquela menina.

– Ela está de castigo por tempo indeterminado! – disse o pai.

– Ela vai comigo sim! E eu vou ajudar a minha irmã porque ela está feliz com a Isabelle então é assim que ela vai ficar. Vocês tem que aceitar sim que ela é lésbica! – ao ouvir o filho chamar Ana Luiza dessa forma o pai se descontrolou.

– Ela não é lesbica coisíssima nenhuma! Filha minha não gosta de mulher! – ele gritou.

– Pai, aceita a realidade! Não é por causa da Isabelle, isso é quem ela é e sempre vai ser!

– Não fala uma coisa dessas, menino! – falou a mãe – Você sabia disso esse tempo todo e não nos contou? Nós queremos é ajudar a sua irmã a ter uma vida normal! Saudável! Não se preocupa com ela?

– Pelo visto são vocês que não se preocupam com a felicidade dela! Ela não está fazendo nada de errado!

Nisso Ana Luiza termina de arrumar as coisas e Gustavo vai ajudá-la a pegar a mala.

– Ela vai viver comigo até vocês aprenderem a respeitá-la! – falou e pegou na mão da irmã para caminharem até a porta.

Os pais tentaram impedi-los de sair. João tentou puxar o braço de Ana Luiza, mas Gustavo ficou na frente enquanto Ana corria até a porta. João não quis fazer escâncalo do lado de fora por causa dos vizinhos e Gustavo seguiu a irmã. Os dois rapidamente foram até o ponto de ônibus e seguiram para o apartamento que Guto dividia com outros três colegas da faculdade.

No final da aula, Isabelle estava mais preocupada ainda com a namorada e estranhou ao perceber que Gustavo a esperava na saída.

– O que aconteceu? – perguntou preocupada.

– Nossos pais descobriram e fizeram o maior escândalo. Ana agora vai ficar uns tempos lá em casa – ele disse sem rodeios – Está sem celular.

Por alguns segundos a fraqueza gerada pelo dia fatídico retornou e os sentidos de Isabelle ficaram turvos. Recuperou-se antes que caísse em prantos e tremesse de medo e deixou apenas algumas lágrimas caírem.

– Calma, Belle, vai ficar tudo bem – Gustavo disse abraçando-a.

– Tudo bem, filha? – chegou António preocupado com o choro de Isabelle.

Gustavo explicou o que aconteceu e António levou os dois até a casa de Gustavo para encontrarem Ana Luiza que não foi até a escola para não correr os risco dos pais aparecerem e a levarem de volta para casa.

Assim que se viram as duas se abraçaram fortemente e não queriam largar. Ana chorava, mas tinha certeza de que nada a impediria de viver com a mulher que ela amava. A cada segundo que passava naquele abraço a certeza só aumentava.

Isabelle sabia que precisava ser forte pela namorada, mas era muito difícil porque o que mais pensava era no medo de perder a mulher da sua vida, quem lhe fizera sorrir depois do impensável dia fatídico.

Respirou fundo, da maneira que sua psicóloga sempre dizia para ela fazer.

– Foi horrível, amor... Eles nunca vão me aceitar – desabou Ana assim que ficaram sozinhas no quarto de Gustavo

– Fica calma... Vai dar tudo certo – disse Isabelle apesar do medo, apesar do pavor começar a subir, querendo tomar conta.

– Nada vai separar a gente! Nada! Mesmo que eles nunca aceitem... – diz Ana, como se estivesse adivinhando que a namorada realmente precisava ouvir isso tudo.

Isabelle sentiu-se melhor e conseguiu passar alguma força para Ana Luiza, mesmo que fosse uma força que ela não sentia totalmente, ao menos, que fosse maior que o medo. Naquele momento nenhuma sensação parecia maior que o medo.

Enquanto as duas ficavam conversando no quarto e Ana detalhava melhor o que acontecera, Gustavo conversava com António, também contando o ocorrido.

– Agora ela vai ficar aqui por uns tempos... Até eles esfriarem a cabeça.

– Gustavo, eu gosto muito de você e da sua irmã, mas também sou pai e por mais que não concorde com o que os seus pais pensem, eu os respeito e não gostaria de fazer nada que eles não queiram... Acho melhor levar a Belle para casa e elas se falam melhor amanhã. Se os seus pais aparecem por aqui pode aumentar a confusão. Melhor deixar essa situação esfriar um pouco.

– Eu não sei se meus pais vão acabar vindo aqui, mas realmente pode piorar...

António chamou a filha para ir embora e por mais que ela quisesse dar apoio a namorada, sentiu um certo alívio porque não estava se aguentando de tanto medo. Ana Luiza convenceu António de ficaram por mais um pouco e quando Belle e ele chegaram em casa já estava quase no final da tarde.

Belle se trancou no quarto e só quis conversar com a sua terapeuta por telefone.

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