Capítulo 1 - A geladeira

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Já haviam passado seis meses do dia fatídico. O dia em que tudo mudara. O dia em que ela mudara. Daqueles tipos de mudança que não se tem a menor possibilidade de volta. Um único momento eterno.

Tudo mudou depois daquele dia, mas desde então nada mais mudava. Os pesadelos continuavam, o pânico e a incontrolável vontade de chorar e gritar que ela já aprendera a controlar devido a constância em sua vida.

Viver estava tão insuportável para todos da família que decidiram que ali não havia mais vida que pudessem conviver. Dessa maneira mudam– se todos os três de cidade após um grande medo de recomeçar, seguido de um grande alívio de buscar outros caminhos, com esperança de deixar para trás o dia fatídico, mas esse tipo de coisa não se deixa para trás. E só Isabelle sabia disso.

Seus pais continuavam querendo acreditar que ela poderia voltar a sorrir como antes, viver como antes, mas ela sabia que estava destinada a apenas existir.

Raquel, mãe de Isabelle, se empenhou muito em conseguir um novo trabalho na nova cidade. E só puderam de fato se mudar quando começou a dar aulas de culinária em um curso bem nomeado da cidade. Raquel havia trabalhado como Chef por muitos anos e sempre gostou de cozinhar, mas desde o dia fatídico decidira que lhe tomava muito tempo e que precisava ficar mais em casa.

Antônio, pai de Isabelle e marido de Rachel, era nutricionista e agora, na cidade nova, teria que conquistar uma nova clientela, o que acontecia aos poucos e principalmente pelas indicações de um grande e velho amigo da família que trabalhava como clínico geral naquela cidade há muitos anos.

Aos poucos foram se estabelecendo. E somente quando já estavam bem acomodados no novo apartamento e com suas novas rotinas estabelecidas é que Isabelle voltou à escola. Ela ter perdido o primeiro mês e meio de aula não era uma preocupação para eles no momento, pois todos optaram por escolher uma nova escola pacientemente. Decidiram por uma bem pequena que ficava há poucas quadras do condomínio que moravam.

Isabelle foi matriculada e então resolveram os dias e horários em que cada um a levaria e pegaria na escola. No primeiro dia, quem a levou foi Raquel. Foram de carro apesar da curta distância e ao estacionar em frente a escola, Isabelle mostrava sinais de nervosismo.

– Vai ficar tudo bem, Belle! Venho te buscar assim que as suas aulas acabarem – disse Raquel encorajando a filha que não ia para nenhuma escola desde o dia fatídico.

A menina nada disse de volta porque não acreditava que tudo ficaria bem, porque nada estava bem e nada nunca mais ficaria bem, mas mesmo assim deu um abraço na mãe, mais apertado do que de costume. Sussurrou um pequeno "tchau" e entrou no prédio da escola, tentando não esbarrar em nenhum dos jovens que passavam por ela. Seguiu direto para a sala que sabia que seria a sua. Já havia visitado a escola com os pais em um dia que não teve aula e fez questão de saber exatamente onde era tudo para que não precisasse perguntar nada a ninguém.

Entrou na sala. Ainda era cedo e tinha apenas uma menina que estava sentada no fundo da sala. Assim que estrou a menina olhou tão diretamente para ela, que Isabelle sentiu– se nervosa e acabou por sentar na primeira carteira que viu, virando– se para frente, de modo a fugir do olhar da outra menina. Mas seu plano não funcionou muito bem porque ela foi até onde Isabelle estava e lhe sorriu de maneira simpática.

– Oi! – falou com um grande sorriso.

– Oi – respondeu Isabelle de forma tímida.

– Eu sou Ana Luiza, qual seu nome?

Isabelle a observou sorrindo, como se sorrir fosse fácil e até tentou mover os lábios, mas desistiu no meio da caminho e limitou– se a responder:

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