Estrelas Verdes

Capítulo 24 - O casamento

Então finalmente chegara o dia ansiado por todos. Cada uma das duas iria se arrumar em sua própria casa e se encontrariam no cartório para finalmente registrarem seu casamento perante a lei.

Gustavo e Júlia, chegaram cedo, cumprindo o papel de padrinho e madrinha. Manuela não compareceu porque estava estudando fora e aos poucos foram perdendo o contato. Compareceram no cartório apenas os pais das duas e alguns amigos mais próximos como Júlia e alguns amigos da faculdade.

As duas chegaram praticamente juntas, pois estavam se falando por telefone o dia inteiro enquanto se arrumavam. Quando as duas saíram dos carros se olharam profundamente. Cada uma vestia um simples vestido, na altura do joelho. Estavam com jóias simples e bonitas, assim como a maquiagem. O cabelo das duas estava diferente, mas igualmente lindos. Ana Luiza tinha o cabelo preso em um penteado diferente e Isabelle o cabelo solto com enfeites e cachos feitos pelo cabelereiro. As duas tinham se preparado uma para a outra.

– Você está linda demais – disse Ana Luiza segurando a mão da noiva.

– Eu nem consigo para de te olhar – disse Isabelle segurando a mão da noiva.

As duas entraram acompanhada dos convidados e só desgrudaram as mãos para assinarem os papéis.

– Eu te amo desde sempre e para sempre, Ana Luiza – disse a noiva se aproximando e beijando Ana.

– Eu te amo independente de qualquer coisa, Isabelle – disse a noiva depois do beijo.

E assim ficou selado perante a lei o casamento das duas. Então foram todos para o salão da festa onde se encontravam outros parentes e amigos.

As duas choravam de emoção ao chegarem e encontrarem todas aquleas pessoas apoioando o seu amor.

Parentes de Isabelle vinham de outra cidade e ela apresentava primos e tios que Ana Luiza ainda não conhecera.

Da família de Ana tinham menos pessoas, mas as que ali estavam, apesar de terem sido pegas de suspresa pela orientação sexual da parenta, ali estavam alegres pela felicidade que viam nos olhos das duas.

Assim que chegaram tiraram fotos, cumprimentaram todos para depois então terem um momento mais privado, enquanto todos comiam ou dançavam.

– Estamos finalmente casadas! – disse Ana Luiza com um sorriso que não cabia no rosto – Amor! Estamos casadas! Você consegue acreditar?! – perguntou animada.

– Parece que estou sonhando desde o momento que te conheci... - disse Isabelle emocionada começando a lacrimejar.

– Não chora, meu amor... Agora vamos passar a vida juntas e não tem mais nada que eu deseje nesse mundo.

Mas Isabelle ainda tinha desejos, que deixaria para mais tarde.

As duas decidiram ir dançar e ficaram abraçadas na pista de dança por um bom tempo, esperando a ficha cair de que agora teriam seu próprio espaço e que tudo daria certo.

Isabelle sentiu um peso enorme saindo de seus ombros. Agora ela tinha a vida de volta em seus mãos e nada seria capaz de mudar isso.

– Com licença, pessoal – falou Gustavo pelo microfone, chamando a atenção de todos, conforme a música ia abaixando e todos parando para ouvir – Como padrinho oficial desse casamento, quero chamar a atenção de vocês para algumas palavrinhas. Cadê essas noivas? – perguntou e as duas timidamente foram para a frente da multidão.

Gustavo recomeçou:

– A primeira vez que ouvi falar de Isabelle foi quando minha irmã estava estudando com ela depois da escola e eu logo achei estranho porque o estudioso da família sempre fui eu né? – alguns riram – E a primeira vez que eu vi Isabelle, ela era uma menina tímida que andava cheia de casacos e falava pouco. Só que a minha irmã sempre ouviu tudo que ela não precisava nem dizer e viu muito além do casaco e muito além de todas as barreiras – começou a se emocionar – Infelizmente eu não consegui logo de início dar o apoio que eu devia, e eu me arrependo todo dia por isso – disse começando a chorar – Mas mesmo com os meus erros as duas me receberam de braços abertos na família que desde então elas estavam formando.

Respirou fundo e continuou:

– Lembro que uma vez, quando confrontei minha irmã sobre ser lésbica, ela me disse que nada disso mais importava: gostar de homem ou de mulher, porque agora ela só gostava da Isabelle e seria assim para sempre. Na época eu não consegui acreditar e achei que um dia ela iria rir de tudo isso que ela achava. Mas hoje, quando eu olho para trás que eu vejo que ela já estava certa desde então e eu que choro ao me lembrar desse dia. Choro de felicidade por ela desde então ter encontrado a mulher da vida dela.

Ana Luiza e Isabelle se emocionaram e deram as mãos. Choravam de emoção pelo discurso bonito que Gustavo continuava:

– A única coisa que eu tenho a falar hoje é que esse não é só o dia mais feliz da vida delas, mas é o dia mais feliz da minha vida até então. Porque eu estou vendo duas das pessoas que eu mais amo, tomando a decisão mais linda que podiam ter tomado, dando um passo importante que eu tenho certeza, hoje, que daqui a alguns anos, quando elas olharem para trás, vão chorar de emoção por terem escolhido uma vida linda, uma ao lado da outra. Isabelle e Ana Luiza, eu amo vocês! – terminou chorando mais uma vez.

As duas abraçaram ele forte, ainda chorando. Cada uma de um lado, enquanto todos da festa aplaudiam também emocionados.

– Obrigada, Gustavo, você nos emocionou muito – disse Isabelle pegando o microfone – E quero aproveitar essa deixa para falar um pouco sobre a minha esposa – falou essa palavra e riu – Primeira vez que digo isso, gente – riram e ela acalmou um pouco o nervosismo para recomeçar – Ana, quando você chegou na minha vida eu era uma menina tímida e triste, e eu não achei que fosse rir tanto com as suas piadas sem graça, muito menos que iria sorrir tanto para você ao longo desses anos e nunca mais querer parar. Você é como uma embaúba na minha vida, uma planta que vem como pioneira abrir o caminho para outras plantas. Você veio e plantou felicidade em um terreno que já estava tão cansado – começou a se emocionar e chorar pouquinho - E por causa disso que hoje consigo ser feliz com tantas coisas, por tantos motivos. E eu só tenho a agradecer a todos que aqui estão, aos meus pais e o Gustavo principalmente, por terem nos apoiado tanto e também aos seus pais e mais ainda a você, por ser essa luz na minha vida – respirou fundo para continuar a falar, já que o choro dominava – O mais feliz de tudo é que agora eu não preciso me preocupar com o resto da minha vida porque você vai estar nela e por isso não tem como ser ruim, independente de qualquer coisa. Eu te amo! – então o choro tomou conta e Ana Luiza abraçou-a forte também chorando.

As duas ficaram alguns segundo compartilhando o amor sussurado no abraço, enquanto todos aplaudiam, até Ana pegar o microfone, tentando se recompor.

– Me senti pressionada agora para falar – começou com uma brincadeira para descontrair.

Respirou fundo com a maquiagem já borrada de choro e voltou o discurso.

– É brincadeira, gente, eu sempre quero falar do meu amor para Isabelle! Quando ela chegou eu era só uma menina e ela também. E eu agradeço muito por isso porque muitas pessoas ficam a vida inteira procurando alguém e nem sempre encontram. Não só eu encontrei, como a conheci ainda adolescente o que me faz ter ainda mais tempo com ela. Eu tive essa certeza que iria passar toda a minha vida com ela quando ainda era tão jovem... Lembro que eu me descobri apaixonada por essa mulher porque eu sentia tanta saudade dela... Mesmo quando ela estava pertinho... E eu ainda sinto até hoje, mesmo agora com ela aqui do meu lado. Acho que saudade perto é amor que não vai embora. E por mais que agora estejamos selando uma vida inteira ao lado da outra, eu tenho certeza que essa saudade vai continuar aqui. Porque eu vou amá-la pelo resto da minha vida e mais um tanto, independente de qualquer coisa...

Mais uma vez se abraçaram chorando baixinho e compartilhando o amor que sentiam ao som dos aplausos emocionados de seus familiares e amigos.