Capítulo 19 - A volta

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Algumas semanas se passaram e as duas se viam depois da escola com certa frequencia, apesar da distância ter virado um pouco maior.

Ana Luiza ainda não frequentava a escola com medo dos pais aparecerem por lá e isso dificultava seu estudo para o vestibular. Isabelle passava a matéria toda para a namorada e as duas estudavam juntas, relembrando os momentos que se aproximaram quando se conheceram.

Os pais de Ana já haviam aparecido no apartamento de Gustavo, mas com medo do escândalo tentaram convencer a filha a voltar para casa de maneira pacífica.

Tanto Gustavo quanto Ana Luiza mantinham a força e falavam que continuariam do jeito que estavam até que os dois aceitassem, o que estava difícil de acontecer. Eles até ameaçaram não pagar mais o apartamento do filho, mas sabiam que com isso ele perderia o estágio e eram orgulhosos demais para deixar a chance do filho brilhar desaperecer, afinal, ele era o filho que daria algum orgulho, já que além da filha ser lésbica, ainda gostaria de se tornar professora, como insistia para os pais em uma das conversas.

Ana Luiza parecia ser tudo que os pais não queriam que ela fosse. Mas era o que ela era e o que ela queria e para ela isso bastava. Ou tinha que bastar.

O namoro das duas permaneceu normal e Isabelle já estava mais segura de que independente de qualquer coisa, tudo daria certo.

Ana Luiza acabou voltando para a escola depois de um mês de aula perdida, mas graças a ajuda da namorada conseguiu se recuperar. Os boatos do relacionamento das duas começou a crescer, já que o sumiço de Ana dera muito o que falar, além do estranhamento dela passar a morar com o irmão. Mas a verdade é que ninguém ligou muito, ou pelo menos parecia não ligar. Além de cochixos de curiosos e perguntas indiscretas não aconteceu nada demais.

Com todos os boatos, os pais de Ana Luiza fizeram um acordo com ela de que ela não falasse muito no assunto e voltasse para casa. Eles não estavam tentando aceitá-la, mas pensaram que assim não perderiam a filha e aos poucos pudessem mudá-la de volta. Ela acabou aceitando porque estava difícil se locomover de tão longe, mas, principalmente, porque estava com muitas saudades dos pais, mesmo que não admitisse para ninguém. Se fazer de forte era muito difícil. Ela amava muito os pais e cada rejeição dóia como se fosse nova.

Enquanto os planos dos pais era tentar sutilmente recuperar a filha de volta, os planos de Ana Luiza era estudar e passar para uma faculdade pública, já que o curso que escolhera não era lá dos mais concorridos. Quem sabe assim poderia ter mais liberdade.

Isabelle e Ana só podiam se encontrar fora da casa de Ana Luiza, já que os pais ainda não aceitavam que a menina entrasse lá, mesmo sabendo que elas se encontravam em outros lugares. Tentavam dificultar ao máximo esses encontros com mais saídas familiares e horas obrigatórias de estudo. Mas as duas eram pacientes e aguentavam tudo para que pudessem ficar juntas.

Elas então fizeram o tal vestibular a conseguiram passar para faculdades públicas. Ana Luiza se matriculou para História, apesar da resistência dos pais, ao contrário de Isabelle que seguiu os passos de seus pais e foi para a áerea da alimentação, matriculando-se em Nutrição.

Com a chegada das férias, – última antes de começarem a faculdade – Ana Luiza decidiu que já era hora de expor sua vontade com mais ênfase e passou a levar Belle para a casa dos pais também e se surpreendeu quando eles preferiram ignorar a situação, tratando-as como amigas, entretando não desrespeitando a namorada nem impedindo-a de estar presente.

Ana voltou a dormir na casa da namorada, mas agora no mesmo quarto porque já se sentiam maduras suficientes para criarem essas intimidades. António não gostou tanto dessa ideia, ainda era difícil perceber sua menina crescer, mas Raquel convencera-o de que a hora tinha chegado.

– Eu te amo muito, sabia? – perguntou Ana.

– Sabia não – brincou Belle.

– Com a gente em faculdades diferentes vai ser difícil nos vermos todo dia... – lamentou Ana.

– A gente vai dar um jeito! A gente sempre vai dar um jeito! – disse Belle beijando a namorada.

A rotina das duas voltou a ficar tranquila, sem as complicações dos sogros de Belle. A intimidade das duas aumentava a cada dia. Dormiam na mesma cama no quarto de Isabelle e Ana Luiza passava a maior parte do tempo na casa da namorada. António e Raquel estavam felizes da filha aparentar estar melhor do que nunca e tratavam Ana com o mesmo respeito de sempre e com mais intimidade.

Eram todos parte de uma família. Ana Luiza passou a ter a chave da casa deles e até ajudava nas tarefas da casa como se morasse por ali também. A casa deles era dela.

As duas iniciaram a faculdade e Isabelle já estava bem melhor, podendo fazer poucas amizades, mesmo que bem tímida. Não falava muito de sua vida com ninguém, mas tinha colegas com quem podia compartilhar histórias da faculdade, do trabalho e almoçar junto. Poucos conheciam Ana Luiza porque elas não era de participar dos eventos que faziam fora da faculdade.

Já a sua namorada era bem sociável, fazendo amigos facilmente e comparecendo em saídas que faziam juntos. Seus amigos, como a grande maioria do seu curso, eram bem alternativos e o fato dela namorar uma menina não foi nenhum problema, pelo contrário. Todos tratavam Isabelle como se fossem seus próprios amigos e as duas se sentiam à vontade para demonstrar seu relacionamento entre eles, nos eventos que compareciam.

Ana Luiza finalmente fez 18 anos, nos primeiros meses da faculdade, mas esse número não mudou muita coisa: os pais ainda não a aceitavam e ainda a sustentavam. Pelo menos implicavam cada vez menos com as saídas dela para a casa da namorada. Nunca quiseram conhecer os pais de Isabelle como Ana havia proposto várias vezes na esperança de mudarem um pouco de comportamento. Continuavam tratando-as como se fossem amigas, e não permitiam que os parentes e amigos mais próximos soubessem da sexualidade da filha, já que isso os faria passar vergonha, além de expor a filha a possíveis atos preconceituosos que a fariam sofrer. Apenas não compreendiam que eles mesmos eram os únicos que faziam esse sofrimento acontecer.

Ana Luiza estava feliz com a namorada, mas sabia que o preço era alto e estar sem o apoio dos pais doía mais do que ela admitia. Isabelle reparava e animava-a da forma que podia.

O aniversário de Isabelle chegou e com 18 anos o namoro das duas já chegava aos 3 anos. Iniciaram mais um período na faculdade e Isabelle começou a trabalhar no escritório do pai por meio período, enquanto Ana tentava uma bolsa de pesquisa na faculdade.

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