Capítulo 23 - O planejamento

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As duas decidiram ter um casamento simples, para os amigos mais próximos e familiares. Passaram as férias longas da faculdade procurando um apartamento para alugar, organizando o que precisariam comprar, marcando datas do chá de panela e da festa de casamento.

Finalmente acharam um que desse para os três morarem, numa localidade que ficasse razoável para todos. Era um bairro grande e popular que ficava no meio do caminho para a faculdade e trabalho de Gustavo e perto da faculdade das duas noivas.

Estavam terminando de resolver a papelada do aluguel com a ajuda de António, quando a data do chá de panela se aproximava.

João e Andréia estavam mesmo se esforçando para aceitar e até contaram sobre o casamento para alguns familiares mais próximos, pedindo certa descrição, apesar de Ana Luiza e Isabelle estarem definitivamente se assumindo para o mundo. Agora seriam uma família e nada mais poderia deter as duas.

Muitos amigos e até familiares achavam uma loucura casarem tão cedo, mas António e Raquel estavam felizes de ver a filha feliz como nunca. O que restava era apenas uma leve sombra em seu olhar, que de vez em quando ainda aparecia. Apesar dela estar bem, ainda não recebia alta da terapia. A sua psicóloga parecia aprovar o casamento, dizendo que isso faria bem para Isabelle, que agora precisaria seguir a sua própria vida, ser independente e sair um pouco do conforto da casa dos pais, que concordavam apesar do medo da filha se machucar ou não aguentar.

Quando fizeram o chá, conseguiram uma quantidade muito boa de utensílios para o apartamento novo e só precisaram comprar camas e alguns movéis, já que o apartamento estava um pouco mobiliado com armários embutidos nos quartos, na cozinha e nos banheiros.

A data do casamento se aproximava e as duas decidiram que só iriam se mudar de vez mesmo depois do casamento e iriam fazer a mudança toda semanas antes até finalmente irem morar juntas. Como presente os pais das duas pagariam os dois primeiros meses de aluguel para ajudar e Gustavo iria se mudar apenas no segundo mês para que as duas pudessem ter um pouco de privacidade no início do casamento.

A data se aproximava e por mais que Raquel estivesse feliz, ela tinha uma grande preocupação.

– Oi, mãe! – cumprimentou Belle chegando em casa da faculdade.

– Filha, queria conversar uma coisa com você – disse Raquel tentando aparentar calma.

– O que foi, mãe? – disse Isabelle preocupada.

Qualquer coisa que precisasem falar, ela já achava que seriam notícias ruins. Sempre imaginava o pior dos cenários e isso já a deixava muito nervosa.

As duas foram andando até a sala e sentaram-se no sofá.

– Ana Luiza vem hoje? – perguntou a mãe antes de começar.

– Não, ela tem que estudar hoje e vai ficar em casa. – suspirou – Me diz, mãe... O que houve? Aconteceu alguma coisa? – perguntou ansiosa.

– Minha filha, a gente precisa falar de um assunto que você não gosta – disse a mãe com carinho, mas mesmo assim Isabelle levantou bruscamente.

– Não vou falar sobre isso! – falou irritada.

Raquel precisou levantar e abraçar a filha para ela não ir embora.

– Você não precisa falar sobre isso comigo, mas agora você decidiu que vai construir uma vida com a Ana Luiza. Não acha que é hora de contar para ela? – falou referindo-se ao dia fatídico.

– Não! Não acho! – falou bruscamente saindo do abraço – Não toca mais nesse assunto, ok? Ana Luiza nunca vai saber disso!

– Mas, minha filha...

– Assunto encerrado! – interrompeu Isabelle irritada e saiu da sala.

Raquel lamentou porém não tocou mais no assunto.

Só pela leve menção do dia fatídico, Isabelle passou uma noite conturbada, com muitos pesadelos, mas nada que a tenha levado a uma crise de pânico. Preferiu nem acordar os pais, mas não resistiu e ligou para a namorada.

– Oi... - atendeu Ana Luiza sonolenta, sem nem olhar quem era...

– Oi, amor – disse Isabelle com a voz suave, tentando disfarçar o nervosismo.

– Belle? – estranhou Ana, olhando a hora - Está tudo bem? – perguntou preocupada.

– Desculpa te acordar... É que não estou me conseguindo dormir...

– Tudo bem, amor... Aconteceu alguma coisa?

– Pesadelo... - disse Isabelle timidamente.

– Queria estar aí com você para te abraçar bem forte até você dormir...

– Eu também queria... - Belle suspirou mais calma – Está tudo bem, amor... Pode voltar a dormir. Só queria ouvir sua voz um pouquinho para me acalmar...

– Vou ficar aqui um pouquinho até você pegar no sono de novo...

– Não precisa, amor... Você estudou muito hoje, deve estar cansada.

– Eu sempre tenho tempo para você, Belle... Como foi seu dia hoje?

Então as duas conversaram por alguns minutos até Isabelle se acalmar e o sono voltar. Se despediram, combinando de se verem dia seguinte.

***

O aniversário de 19 anos de Ana chegara e com isso o casamento seria em duas semanas. A papelada já estava pronta e iriam no cartório antes do grande evento. Agora que pessoas do mesmo sexo poderiam se casar, as duas estavam mais do que animadas para finalmente terem registrado o seu amor.

João e Andréia já estavam mais acostumados com a ideia e tentavam apoiar a filha, apesar de não participarem ativamente dos preparativos. Apesar disso Ana Luiza estava muito feliz porque o pouco que tinha dos pais já era muito mais do que um dia imaginou.

Gustavo estava ansioso pela festa e recentemente começara a namorar uma menina da faculdade, chamada Luiza.

Comemoraram os 19 anos de Ana Luiza com uma noite das antigas: filme e jogos. Se reuniram com Gustavo, sua namorada, Júlia e alguns amigos da faculade de Ana: Felipe, Júlio, Paloma e Fernanda.

Assistiram um filme de comédia romântica que Isabelle tanto gostava e depois jogaram "Shadows Over Camelot" até tarde da madrugada.

Quando todas já estavam indo embora, as meninas quiseram conversar à sós com Gustavo e Júlia.

– Manda aí – falou o irmão.

– Então – começou Isabelle – Nós queriamos fazer um convite para vocês! – e fez um sinal para que Ana Luiza continuasse.

– O casamento está se aproximando e no cartório vamos precisar de duas testemunhas que serão também nossos padrinhos. E gostariamos de convidar para serem vocês!

As duas sorriram esperando a resposta.

– Claro né, maninha, se vocês não me chamassem eu batia em vocês! – disse Gustavo.

– E você, Júlia? – perguntou Ana.

– Claro, meninas! Vai ser uma honra ser madrinha de vocês! Nós dois acompanhamos bem o início de tudo!

– É verdade... Além dos meus pais, vocês dois são os únicos que nos acompanharam do início até agora – disse Belle.

– Então está mais que decidido! – disse Ana.

E os quatro se abraçaram felizes e ansiosos para o dia do casamento.

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