02 - Cobra

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Cobra

                ― Você tá maluco, mermão? Não é possível que com essa idade tu não sabe fazer uma conta de adição! ― Joguei o pote de proteína em Celso, o rapaz recém-contratado do QG. ― Se as contas não batem, o Cobreloa aqui leva a pior.

                Ele apenas deu de ombros, se afastando. Celso era um cara truculento, mas não gostava muito de briga. E eu era o chefe dele. Não havia como questionar aquele erro.

                ― Cobra.

                Virei-me rápido demais, meio zonzo por encontrar Jade ali. Desde que sua mãe operara ela nunca mais falara comigo. Aquela química, aquela paixão, simplesmente haviam desaparecido. Como músculos quando se para de treinar.

                ― Veio comprar um pote desses?

                ― Não. ― Ela puxou o ar. Estava nervosa. Ou então ia me pedir alguma coisa. Ela sempre fazia aquilo. ― Eu só queria saber se você vai à festa da Bianca.

                Meus olhos se estreitaram. Apoiei meu corpo no balcão e lhe dei um sorriso sínico.

                ― Jade. Qual é a piada?

                ― Não é piada! Eu achei que você pudesse... Sei lá, Cobra! Ir com a Karina!

                ― A Karina? ― Endireitei-me. Eu não falava com a Karina desde que ela deixara Khan. Ela estava reclusa. Às vezes eu a via passar com fones de ouvido, fingindo que estava tudo bem. ― Eu nem sabia sobre essa festa.

                ― Talvez ela convide você.  ― Ergui as sobrancelhas, esperando. Jade esfregou as mãos, sorrindo meio sem jeito. Aquela Jade certinha era um saco. ― E se você for... Eu achei que pudesse vir aqui te pedir para não criar nenhum tipo de confusão com o Henrique.

                Ah! Meus lábios se abriram em um sorriso maior. Era aquilo, então. Jade estava com medo que eu violentasse seu namorado que cheirava a bunda de bebê cheia de talco e falava umas coisas difíceis. Dei as costas a ela.

                ― Pare de inventar desculpas para me procurar, Jade. Já faz um tempo que você resolveu me cortar da lista de boas maneiras que você vem seguindo. Não se preocupe com os meus maus modos. Eles não vão atingir você. E ― me virei, fechando a expressão, ― além do mais, a Bianca nunca iria me querer naquela festa. Se preocupa com ela, Duca e Henrique. Esse triângulo amoroso é mais viável.

                E me abaixei para pegar um material. Ouvi quando os passos dela saíram do QG, pisoteando com força. Jade poderia estar boazinha, mas o seu ego jamais iria desaparecer. Mesmo estando com Henrique ela me queria entre seus dedos. Mas eu era velhaco. Ninguém poderia me prender daquela maneira.

                Ouvi os passos voltarem, dessa vez mais macios. Talvez ela estivesse disposta a bancar a boazinha. Levantei-me pronto para assustá-la com uma expressão feroz. Fiquei imóvel quando os olhos azuis de Karina fixaram-se sobre os meus. Ela cruzou os braços, franzindo o cenho e o nariz, fingindo uma cara pior que a minha.

                ― Por que não atende o celular?

                ― Porque não achei que você estivesse tentando falar comigo.

                ― E você só se preocuparia com o celular se fosse eu?

                ― É. ― Ela balançou a cabeça negativamente, me fazendo sorrir. ― Qual a urgência?

                ― Temos uma missão. ― Karina ergueu o queixo como se me chamasse para uma luta. ― Preciso de ajuda.

                ― É a festa da Bianca, não é?

                ― Como você sabe?

                ― A Jade teve aqui. ― Os ombros dela pareceram tensos. Jade a incomodava. ― Ela veio me pedir para não bater no Henrique. Porque ela tinha certeza de que você me convidaria para a festa.

                ― Cobra você é o meu único amigo. ― Karina puxou o ar, virando-se de costas. ― Está a um nível a cima de todo mundo no ranking de pessoas menos traiçoeiras.

                Uma risada escapou. Porque aquilo era justamente o contrário do meu perfil. Ela se virou novamente, chegando até o balcão de forma desesperada. Seus olhos se estatelaram.

                ― Por favor, Cobra. Nós ficamos dez minutos e depois vamos embora. ― Parei de prestar atenção especificamente nas palavras que ela dizia para ouvir a sonoridade delas. Karina falava pelo nariz, como se estivesse gripada. Sorri um pouco mais. ― Para de rir assim como se fosse fazer algo malvado! Você pode quebrar a cara do Henrique, eu não ligo. Só me ajuda a segurar essa barra.

                ― A sua irmã não é o que eu chamo de melhor amiga.

                ― Eu penso a mesma coisa sobre ela. ― Nós rimos. ― Por favor. Eu sei que venho te pedindo favores desde que descobri tudo. Você tem me ajudado muito. Esse será o último. No próximo aniversário da Bianca estarei fazendo um intercâmbio fora do país.

                ― Que? Fiquei confuso.

                ― Quer que eu te conte? ― Balancei a cabeça afirmativamente. ― Então te encontro aqui as oito pra gente chegar lá na Ribalta. Fechado?

                Ela fechou o punho, estendendo na minha direção. Imaginei como seria pegar seus dedos e entrelaçar nos meus. Dizer pra ela que entendia porque ela queria fugir. Que eu fugiria junto se vencesse um campeonato decente. Mas apenas bati ali com os nós dos dedos e a vi escapar pela porta do mesmo jeito que entrara: passos macios e silenciosos de uma felina.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now