23 - Karina

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Meu pai estava furioso com Cobra. Mas eu não podia defendê-lo sem dedurar a parte mais perigosa de tudo aquilo. Se ele soubesse o que Cobra escondia eu nunca mais poderia falar com ele. Já deitada na minha cama, fechei os olhos e me arrependi de ter chamado por Pedro enquanto delirava. Duas Karinas lutando dentro de mim e aquela do passado ainda conseguia ser forte.

― Pronto. ― Bianca entrou no quarto de forma esfuziante. ― Já despachei o Duca. Agora me conta tu-do!

― Me deixa, Bi.

― Você tava com o Cobra! O que houve? Vocês dois...

Campainha.

― Argh! ― Bianca reclamou. ― Eu amo o Duca, mas às vezes ele me irrita. Se bem que pode ser o João. Ele foi até a casa do Pedro...

Ela saiu falando enquanto ia abrir a porta. Escorreguei nos infinitos travesseiros. Mas não tive tempo de pensar. A porta se abriu novamente. Virei-me na esperança de que Cobra tivesse voltado, mas como em uma alucinação Pedro estava parado ali, os olhos arregalados, o pescoço esticado, os lábios entreabertos em um sorriso amigável.

― Oi Ka. ― Ele ficou na dúvida sobre entrar ou não.

― Oi Pê.

Com a minha guarda baixa, Pedro se aproximou e sentou-se nos pés da minha cama. Bianca fechou a porta do quarto, deixando-nos sozinhos.

― Como você está, Esquentadinha?

― Como soube que eu estava aqui meio mal? ― Semicerrei os olhos.

― Ah, na verdade, eu vi você chegando carregada. ― Ele sorriu. ― Com aquele Cobra. Aí eu pensei que ele poderia ter feito alguma coisa.

― Ele estava me ajudando. ― Balancei o pé. Pedro apertou os lábios ao fitar meu tornozelo. ― Uma cobra me picou.

― O Cobra?

― Uma cobra! ― Elevei a voz e Pedro riu. ― Por que veio aqui?

― Porque ainda me preocupo com você. ― Pedro voltou a me encarar. ― Ainda te amo, Karina. Só estava cansado. Água mole em pedra dura não é um bom ditado.

Engoli a saliva acumulada, abaixando os olhos. Eu havia quase perdido a minha vida. E nessa quase transição, minha consciência e meu coração chamaram por Pedro. Cobra estava certo. Tínhamos fingido uma relação entre nós que não existiria. Ele com certeza estava apaixonado pela Jade também. Só não queria admitir para que eu não ficasse magoada.

― Pê.

Pedro se aproximou, segurando a minha mão.

― Você não está com a Vick?

― Não estive com ninguém desde que você me deixou. ― Nossos dedos se apertaram. ― Não quero mais ninguém, Esquentadinha. Quero você. Eu consigo nos ver juntos por cem anos. ― Pedro abriu os olhos de forma expansiva. Aquilo me fez sorrir. ― Nenhuma cobra maldita foi capaz de separar a gente.

― Eu entendi a referência. ― Ele gargalhou.

Queria brigar com ele. Dizer que o Cobra não nos separou. Foi ele mesmo, com suas mentiras. Tentei ver no fundo dos olhos dele se havia alguma mentira ali, mas não soube dizer. Então abri os braços e Pedro veio, me abraçando com força.

― Pê. ― Ele respondeu com um gemido. ― Acho que não terminamos o que começamos. Precisamos saber o que será de nós dois depois de superar todas aquelas mentiras. Precisamos tentar. E se não der certo, poderemos seguir em frente com essa certeza.

― Vai dar certo, Esquentadinha. ― Ele se afastou, segurando o meu rosto. ― Nada nos impede de ser feliz agora.

Fechei os olhos quando Pedro se aproximou. Sua boca tocou a minha devagar, mas a devorou de forma voraz. Já havia quase me esquecido que beijá-lo era quase me afogar no meio de nossas salivas e respiração. E, apesar disso, eu gostava. A Karina do passado sorriu, agarrando-o pela nuca. Só fomos interrompidos pelo grito de Gael.

― CAPIROTO!

Tudo estava como antes. Só o meu coração parecia se recusar a aceitar aquilo.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now