13 - Karina

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Não demoramos para chegar em Angra. Mas quando eu finalmente vi o lugar em que estávamos o tempo parou magicamente. Eu nunca havia estado ali. Ver as águas esmeraldinas e sentir a maresia no rosto enquanto seguíamos em uma escuna até Ilha Grande me fazia sorrir de olhos fechados. O som do mar conseguia se destacar das conversas das pessoas ao nosso redor, me embalando em uma mistura única de liberdade e fantasias alucinantes com sereias e animais marinhos falantes.

Virei-me por um segundo para ver Cobra com o celular na minha cara.

― Ei! ― Tentei pegar dele. ― Apaga o que quer que seja.

― Não! ― Ele sorriu. ― Você devia me deixar pegá-la com os olhos abertos agora. Porque você não tem ideia do que o sol e o mar estão fazendo com eles. Eu não sei dizer que cor é essa.

Por mais que eu quisesse desviar os olhos depois daquele comentário, meu rosto ficou estático. A brisa leve fez os meus poros eriçarem e tive que conter a minha respiração. Ergui as sobrancelhas ao ter uma ideia. Puxei meu celular.

― Já que você quer brincar de registrar o momento... ― Consegui dar uma chave de pescoço nele. ― Vamos registrar do meu jeito.

A foto saiu engraçada. Os olhos de Cobra apertados e aquele sorrisão contrastando com a minha careta improvisada enquanto o mar servia de cenário. Empurrei-o para o lado.

― Você morou aqui alguma vez?

― Não. Nunca tinha vindo aqui.

― O que estamos procurando?

― Um pescador. ― Esperei, mas ele não me disse mais nada.

Fizemos a passagem em pouco tempo e tive uma vontade inexplicável de sentir a areia nos meus pés quando chegamos da Enseada do Abraão. A visão da ilha era de várias montanhas cobertas por mata atlântica. Uma coisa intensamente bonita. A vegetação parecia quase querer mergulhar no mar. Deixando-me estranhamente com essa mesma vontade. As águas cristalinas da enseada ganhavam tons esmeraldinos ao refletir a floresta.

― Cobra isso é legal demais! ― Ele estava nervoso, mas a vontade de sorrir era irrefreável. Ele foi gentil em sorrir comigo. ― Você pode continuar e me deixar aqui.

― Rá-rá. ― Ele apontou para meu nariz. ― Você não tem nem protetor solar. Está ficando toda vermelha.

― Eu não me importo. É melhor do que qualquer coisa que eu esteja vivendo. Eu posso até aprender a pescar e... ― Parei repentinamente de falar. Cobra me olhava de uma forma estranha, como se fosse me atacar. Eu odiava quando ele fazia aquilo, porque estava tramando algo. ― Ah, não.

― Já ouviu aquela música do Skank chamada Dois Rios?

Franzi o cenho, assentindo. Os dedos dele empurraram parte do meu cabelo, apoiando meu rosto. Apertei as mãos ao redor das alças da mochila, ficando apreensiva.

― Seus olhos parecem dois rios inteiros.

― Sem direção? ― Tentei fazer uma piada.

― Se os direcionar para mim não vou deixar que eles mudem de caminho nunca.

Engoli, balançando a cabeça de leve e tentando sorrir sem graça.

― Que isso, Cobra? ― Passei por ele. ― Você vai me afogar e tá tentando parecer um assassino em série compulsivamente...

A mão dele segurou meu braço com força, me virando. Reagi apertando o pulso dele e firmando meus pés na areia. Nos encaramos perto demais. Senti medo. Mas não medo de que ele me fizesse mal. Medo de que ele me beijasse novamente. Medo do que eu sentiria se ele fizesse aquilo ali no meio do paraíso.

― Ka. ― Ele piscou devagar. ― Isso não vai dar certo. Você precisa ficar longe.

― Não vai adiantar me beijar, Cobra. Seu truque não cola mais.

― Você não tá entendendo. Não quero te beijar. Porque quero isso demais.

― O que? ― Meneei a cabeça. Não estava entendendo mesmo.

― Quero beijar você. Mas não quero.

Dei um arranco no meu braço, cambaleando para trás. Eu não sabia por que ele estava me fazendo de palhaça daquela maneira. A raiva que corroeu meu corpo me fez ranger os dentes. Claro. Um paraíso daquele, onde várias garotas estariam desfilando de biquíni. Onde o Cobra poderia estar com qualquer uma delas. Mas ele me trouxe. Uma mala à tiracolo que ficou insistindo, desesperadamente!

Abri os lábios, entendendo tudo.

― Entendi! ― Levei a mão à cabeça. ― Você queria ter trazido a Jade. ― Esfreguei os olhos. ― E eu fiquei empatando! Que merda!

― Não! ― Cobra se adiantou, segurando meus pulsos e abaixando meus braços. ― Não tem nada a ver!

― Tá me zuando?

― Por que eu faria isso?

― Olha pra mim, Cobra. Sou eu, sua amiga Karina. A Maria Macho.

Ele me soltou. A loucura causada pela maresia parecia estar sumindo. Ele estava me enxergando como eu era. Como alguém que ele teria do seu lado como um amiguinho. Usando uma camiseta larga e calças compridas na praia.

― Eu vejo você. ― Ele sussurrou. Na verdade, foi quase inaudível. Tive que fazer leitura labial. ― Queria te dar os meus olhos pra você se enxergar como eu te enxergo.

Fiquei desarmada. Os lábios entreabertos em uma pergunta que não queria sair. Como você me enxerga, Cobra? Eu não estava entendendo. Ou talvez não queria me deixar entender porque iria me machucar.

― Desculpa. ― Ele chutou um pouco de areia. ― Que saco essa mania de ter que ficar pedindo desculpas. Eu não quero pedir desculpas! Vamos logo, temos que arrumar um lugar pra ficar.

Cobra passou por mim de forma enigmática e senti vontade de voltar para casa. Não havia lugar para mim no mundo. Nem do lado dele. Mas meus pés me forçaram a continuar. Alguma coisa me dizia que aquela viagem não havia sido em vão.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now