Capítulo 15 - Karina
Fiquei alguns segundos mastigando aquelas palavras. Mas não ia resolver se eu começasse a fazer piadas ou despejar irritação e medo em Cobra como eu havia feito naquela manhã. A areia pinicava minha pele, deixando tudo mais confuso. Por incrível que pareça, dei um passo na direção de Cobra. Ele voltou a me encarar.
― Como é isso? Como você sente isso?
A expressão de dúvida estampou seu rosto.
― Nesse exato momento poderia explicar beijando você. Mas você vai achar que é um jogo. Eu sou um lutador. Não sei explicar isso com palavras. Não sei dizer como é que eu me sinto. Só que está difícil não pensar em você. Principalmente depois daquele beijo no QG. E por um segundo pensei que essa viagem pudesse me fazer vê-la como a menina que andava por perto. Mas não dá. Não depois desse tempo muito perto. Depois desse período em que precisamos mais um do outro ao ponto de eu precisar de você sempre.
Cobra se virou, bagunçando seus cabelos. Aquilo era uma declaração. Eu via verdade naquilo. Ele estava seguindo o jogo e o seu coração. Ergui o braço, levando minha mão até seu pulso, mas refreei. Entretanto as pontas dos meus dedos alcançaram a pele de seu braço, fazendo-o me olhar por cima do ombro.
― Cobra. ― Peguei a mão dele finalmente.
Eu não sabia o que dizer.
Naquele momento senti vontade de subir e descer aquele coqueiro infinitas vezes. Ou me jogar no mar e nadar até o continente. Meu coração batia descompassado. Meus joelhos pareciam de gelatina. Era aquela sensação que eu achei que nunca mais sentiria outra vez. Ela havia voltado, empurrando o passado bem lá pro fundo.
Os dedos dos meus pés ergueram o meu corpo enquanto minhas unhas cravavam em seu pulso. Antes que eu pudesse desistir daquele ato insano, minha boca tocou seus lábios. Salgados pelo mar. Precisos e fortes. Era o beijo de alguém que sabia exatamente o que queria. Apesar do calor, um frio intenso subiu pelo meu estômago. A mão dele se encaixou perfeitamente na minha, entrelaçando nossos dedos. A outra apoiou minhas costas e me puxou para perto. Nos chocamos com força, virando os rosto para lados opostos. Escorreguei minha outra mão pelas costelas dele, alcançando seus músculos das costas. Pele com pele, calor com calor, língua com língua e respirações entrecortadas enquanto tudo aquilo acontecia.
Eu estava beijando o meu melhor amigo. Eu havia escolhido aquilo. E estava gostando.
Cobra separou a boca da minha, arrastando meu lábio inferior com os seus e me apertando mais em seus braços. Nossos olhos lutavam em silêncio enquanto as palavras sumiam.
― Ka.
― Não, Cobra. Não pede desculpas.
― Eu não ia.
Balancei a cabeça afirmativamente. Não sabíamos o que fazer. Ele foi me soltando devagar, meus calcanhares tocando o chão, nossos dedos se afrouxando.
O que acontecia agora? Ficaríamos olhando um para o outro até ficarmos sem graça e nos arrependermos? Ele pediria para que eu fosse embora? Eu iria ficar ou fugir?
― Ei, forasteiros. ― Uma voz masculina me fez dar três passos para trás. ― Posso ver claramente que o que os trazem aqui não é turismo. Embora estejam agindo como dois recém-casados em lua de mel.
Era um homem mais velho com uma barriga redonda e o cabelo grisalho desgrenhado. Faltava um ou dois dentes em sua boca.
― Os achismos são muito comuns por aqui, então. ― Cobra disse.
― Não, meu caro. Vocês não se hospedaram em nenhum lugar. E a mocinha... ― Ele semicerrou os olhos ao mirar descaradamente para a região dos meus seios. Cruzei os braços. ― Não me parece em idade para viajar sozinha com você.
― Mais achismos.
― Sei que você está atrás de alguém aqui. ― O cara levou as mãos atrás das costas, andando de um lado para o outro. ― Eu sou o chefe da associação da vila. Só vim te avisar que se veio atrás de problemas é melhor irem embora antes que eu chame as autoridades.
Cobra inflou o peito, sorrindo perigosamente.
― Estou procurando por um pescador chamado Feijão.
A expressão ameaçadora do cara se transformou em um vislumbre de medo.
― Não sabemos dele.
― Pois é melhor saberem. Caso não queiram problema.
O homem foi se afastando. Cobra soltou o ar dos pulmões, suspirando com força.
― Cobra.
― Vou te contar. ― Ele me fitou por cima do ombro. ― Só preciso encontrar um lugar pra gente tomar banho.
Andamos por um tempo na vila. Os olhares das pessoas diziam que o cara já havia espalhado que estávamos ali atrás do Feijão. Pegamos nossas mochilas e andamos pelos quiosques e pequenas pousadas. Era hora do lanche da tarde. Nós não tínhamos nem almoçado. O cheiro de comida me inebriava e fazia minha barriga roncar. Cobra apontou uma ducha entre um chalé e outro. Vazia. Secreta.
― Será que alguém vai nos vender comida?
― Se não venderem a gente rouba. ― Ele piscou um dos olhos. ― Eu tento ser um cara legal. Mas o mundo me força a continuar na bandidagem.
Empurrei-o com o ombro.
Assim que chegamos na ducha, senti um alívio. Ela parecia gigantesca.
― Água fria. ― Cobra se virou novamente para mim. ― Você tem frescura?
― Só fica parado de costas ali. ― Apontei para a abertura entre os chalés. ― Eu disse de costas.
Ele empurrou a minha cabeça antes de sair e ganhou um soco nas costas. Relacionamento estranho aquele, eu pensei. Dei uma olhada nele. Eu não ia ficar pelada, mas não queria que ele me visse de calcinha. Cobra permaneceu de costas, os braços cruzados para frente, como se fosse um segurança.
A água bateu em minha pele e relaxei imediatamente. Mas meus pensamentos não paravam de girar em várias direções, fazendo meu estômago flutuar. Alguma coisa iria acontecer em breve. E eu esperava que fosse boa.
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Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)
Hayran KurguDepois de superar tantas mentiras e descobrir que o seu verdadeiro pai é realmente Gael, Karina decide voltar para casa e colocar uma pedra sobre seu recente passado. Mas perdoar, não significa confiar e tudo isso a leva para longe de um sentimento...