Estávamos de volta ao continente antes do dia clarear. Tivemos que passar em um hospital para checar nosso estado. Os dois oficiais nos levaram. Um deles era o pescador e chefe da Vila de Abraão. O outro era o homem do cais.
A primeira coisa que questionei a eles quando descobri quem eram foi o porque deixarem as coisas correrem daquela maneira. Karina poderia ter morrido! Mas a explicação era óbvia: eles acharam que eu poderia os levar diretamente ao núcleo do esquema. E eu, de certa forma, os levei.
― Algumas missões exigem riscos muito grandes, Ricardo Cobreloa. ― Martin. Esse era o nome do homem do cais. ―Nossa equipe demorou a chegar. E não podíamos dispersar os homens. Sem o motim que reunimos não teríamos pegado aqueles bandidos.
― O que era exatamente? Contrabando de armas?
― Você não entende muito de armas, não é filho? ― O outro, o que se disfarçava de pescador, se chamava Léo. ― Aquelas armas era tecnologia desconhecida. Um sistema muito avançado e destrutivo. Não sabemos de onde veio ainda. E julgo que os homens que prendemos seja só uma parte da operação. O contrabando não era de armas ou drogas comuns. Eles estavam fabricando um soro.
― Que tipo de soro? Isso já foi comercializado?
― Não, meu caro. ― Ele deu uma olhada em volta. ― Isso é extremamente confidencial. Você sabe que terá que dar esclarecimentos na polícia. Mas sua ficha será limpa. Só que se eu envolver você...
Balancei a cabeça afirmativamente. Eu não podia saber de nada. Aquela história já não era minha. Eu estava livre.
― Graças a sua ajuda vamos fazer o possível para que esse soro não se espalhe. ― Martin sorriu. ― Nossos homens levarão vocês três em segurança. Até o hospital.
― Os pais deles não sabem de nada. ― Disse de forma apreensiva.
― Entendi. Você é um herói ao estilo Batman. Esconde a sua identidade. Ninguém vai saber. Tudo ocorreu bem.
Dei uma olhada em Karina e ela fez uma expressão engraçada.
― Tá ligada que ele disse que eu sou o Batman, não é Robin?
― E eu sou o que? ― Pedro choramingou.
― A vítima. ― Ka respondeu por mim.
A risada dela arrastou um sorriso de Pedro. Virei-me novamente para ver os dois chefes da polícia se afastando.
E depois de algumas horas, sentado na maca de um hospital, era naquela conversa que eu estava pensando. Soro. Que tipo de soro eles estavam tentando espalhar pelo mundo? Passei a mão sobre os cabelos enquanto uma enfermeira terminava de me enfaixar.
― Nada de movimentos bruscos. ― Ela parecia zangada. ― Ou suas costelas vão sair para fora. Você vai andar torto e corcunda pelo resto da sua vida se não seguir as minhas recomendações.
― O que está incluído em movimentos bruscos? ― Sorri de lado.
― Sexo, principalmente.
Fingi que aquela conversa não era comigo ao olhar para o teto e sorrir. Karina apareceu no quarto segundos depois. Ela havia ganhado roupas novas além da toalha que deram a ela na vila para se cobrir. Usando uma calça jeans de joelhos rasgados apertada nas coxas e uma blusa leve de uma laranja quase vermelho, ela parecia desconcertada.
― Não diga nada sobre isso. ― O indicador dela subiu ameaçadoramente. ― Então, está pronto?
― Nada de sexo!
A enfermeira gritou antes que eu pudesse sair.
― Que bom que não nos veremos tão cedo então. ― Pisquei para ela. Algumas seringas caíram no chão.
Antes que ela pudesse me acertar, saí do quarto com Karina. Pedro estava sentado no corredor. Ele se levantou prontamente do quase cochilo em que se encontrava. Estava usando uma camisa engraçada com um panda desenhado bem no meio. Fiquei surpreso quando a mão dele se estendeu para mim.
― Obrigado. Por me salvar.
― Agradeça a Karina. ― Apertei a mão dele. ― Ela me implorou com os olhos. Eu teria deixado você por último.
Pedro puxou a mão, fazendo uma expressão chateada.
― Pedro. ― Puxei o ar. ― Você foi muito corajoso hoje. Me desculpa por ter te metido nessa.
Ele sorriu de lábios fechados.
― Estamos quites, Cobra. Sabe aquilo que você me disse da última vez que foi lá em casa? ― Gelei. Não era algo que eu quisesse compartilhar com Karina. ― Estou devolvendo as palavras e o conselho. Sem a parte que eu vou quebrar você. Mas eu posso pagar pessoas para fazerem isso.
― O que você disse a ele? ― A expressão de Karina se transformou em curiosidade.
― Um segredinho de caras. ― Pedro piscou. ― Falando em segredinho. ― Ele cortou o quase protesto de Karina. ― O que vamos dizer sobre esse desaparecimento?
― Sua mãe me viu saindo de moto. Ela sabe que eu não estava com vocês.
― Só que se a Bianca tiver dado com a língua nos dentes... ― Olhamos para Karina sem entender o que ela queria dizer. ― Não. Tudo bem. Entendi. Pedro e eu chegamos juntos, estivemos juntos. Você chega depois.
― É isso. Espero que você continue um bom mentiroso e minta por ela.
― Podexá comigo! ― Pedro esfregou as mãos uma na outra. Sua expressão mudou rapidamente. ― Agora vamos embora. Tô cheio de fome. E cheio de você.
Ele apontou para mim enquanto saía na frente. Karina ainda me lançou um olhar antes de seguir pelo corredor. Sorri. Ela abaixou os olhos e sorriu daquele jeito tímido, sumindo rapidamente da minha visão. Por algumas horas. Porque eu nunca mais iria querer ficar longe dela.
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Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)
FanfictionDepois de superar tantas mentiras e descobrir que o seu verdadeiro pai é realmente Gael, Karina decide voltar para casa e colocar uma pedra sobre seu recente passado. Mas perdoar, não significa confiar e tudo isso a leva para longe de um sentimento...