41 - Karina

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Lidar com a aparente fúria de Gael foi mais fácil do que eu pensei. Meu pai simplesmente mandou Duca dispersar todo mundo para o chuveiro. Cobra e eu ficamos encurralados sob aqueles olhares cruéis, as narinas inflando, a respiração entrecortada. Ele entrou no ringue e achei que iria começar uma luta ali mesmo.

― Você estava bem convicto sobre aquela história de gravidez, Cobra.

Vi quando a garganta de Cobra se mexeu enquanto ele engolia em seco. Ele estava nervoso. Mas manteve-se firme. Encarando o próprio mestre.

― Estou apaixonado pela Karina. ― Saiu tão rápido e tão preciso quanto um tiro.

― Isso eu já sabia. ― As mãos de Gael se fecharam em punho, subindo e descendo como se ele preparasse um golpe. ― Ou você acha que sou bobo?

― Não mestre. ― Cobra ergueu o queixo. Ele estava com medo, mas jamais iria recuar. ― Só não queríamos que as pessoas soubessem por enquanto. Depois de tudo que aconteceu. Antigos relacionamentos e...

― Cobra. ― Gael o segurou pela nuca. Cobra se enrijeceu.

― Pai. ― Dei dois passos na direção dele, mas fui contida por seu rosnado.

― Eu odeio ter que dizer isso, mas confio em você, Cobra. Eu não devia. Mas eu sei que você preza pela segurança da Karina. E pela felicidade dela. Sempre foi assim. Desde o dia em que você pisou nessa academia. Implicando com a Bianca e assegurando que Karina estivesse bem, a sua maneira. Ela era a única pessoa que fazia você ouvir algo além de vencer, vencer e vencer.

Engoli em seco. Eu nunca havia parado para pensar naquilo. Mas Gael estava certo. Eu era a única pessoa que Cobra confiou desde o princípio, mesmo eu desejando que ele se mantivesse distante.

― Eu sempre vou colocar a Karina um degrau acima de qualquer coisa, mestre.

― Eu sei. ― Um vislumbre de sorriso surgiu no rosto do meu pai. Mas sua expressão queimou quando ele segurou a camiseta de Cobra e rosnou. ― MAS NÃO ENGRAVIDE A MINHA FILHA, SEU IMBECIL!

― Não! ― Cobra ergueu os braços tentando se defender. Senti meu rosto queimar. ― Não, mestre. Nunca.

― Como nunca, Cobra? Nunca terei netos?

― Mas o senhor disse...

― Parem com essa conversa, pelo amor de Deus! ― Atirei uma luva no meu pai. ― Que coisa desconfortável. Eu não estou grávida porcaria nenhuma. Você acreditou no que aquele pessoal disse? Aposto que foi a Jade que os mandou aqui. Bando de atores contratados para dizer na frente de todos que eu estou grávida. Que eu e o Cobra... ― Bufei. ― Tá vendo como é uma vingança?

― Entendi. ― Gael soltou a camiseta de Cobra. Seus dedos formaram um “v” que apontaram de seus olhos para os meus. ―Tô de olho. Tô de olho por onde essa cobra rateja. Força e honra, lutadores.

Abaixei os olhos, sentindo o rosto queimar.

― Caramba. ― Cobra soltou o ar com força. Ele parecia estar voltando a respirar quando teve certeza de que Gael se distraíra com algo no aquário.

― Cobra. ― Voltei-me para ele de forma apreensiva. ― O que aqueles caras na ilha te disseram? Não foi a Jade que armou isso. Ela estaria aqui filmando tudo. O que é esse soro?

― Eu não sei. ― Cobra franziu o cenho. ― Você não está com ele. Não deu nada no seu sangue! E se tivesse... O efeito dele teria vindo quando você voltou para Pedro. Você estaria namorando ele até hoje. Esses efeitos... Eu não sei!

Aquela conversa estava gerando o nosso primeiro atrito. Porque estávamos discutindo a possibilidade de eu estar sendo controlada por um soro. Cobra saiu do ringue. Ele estava com raiva porque achava que eu me entregara a ele por que havia sido drogada. Duca e os outros saíram do banheiro. Gael apontou as chaves para mim, deixando a academia. Ele não viu quando Cobra havia ido para o banheiro. Todos estavam saindo.

Joguei as ataduras pelo chão, correndo até o banheiro masculino. Cobra já estava de cuecas quando abri a porta de forma brusca.

― Ei!

― Você quer me ver irritada? ― Usei a raiva como uma arma para não ficar intimidada por ele estar de cueca. Ainda era difícil me acostumar com o fato de ser tão inexperiente enquanto Cobra parecia saber exatamente o que fazer. ― Conseguiu me deixar com muita raiva! Como você pôde simplesmente cogitar a hipótese de que eu estivesse sob efeito de um alucinógeno depois de tudo? ― Empurrei o peito dele. Cobra se chocou contra o mármore de um dos boxes. ― Calafrios noturnos, formigamentos pelo corpo, felicidade excessiva! Sim eu estava sentindo todas essas coisas.

― Você fica tão bonita quando está zangada. ― Os olhos dele se estreitaram. Os lábios crescendo em um daqueles sorrisos que deixavam seus caninos perigosamente exposto, a ponta de sua língua raspando entre os dentes.

― Você vai ver o que é bonito quando eu socar a sua cabeça pra te fazer entender, Cobra, que eu não preciso de droga nenhuma pra ser feliz quando você está por perto.

Seu olhar mudou. O jeito como ele parecia me provocar foi embora. Vislumbres de pequenos feixes de luz artificial eram refletidas por suas íris castanhas. Uma de suas mãos firmou o meu rosto de forma rude. Tentei manter o meu corpo rígido, mas foi como sentir a raiva escoar por entre meus dedos. Amoleci quando ele me abraçou com o outro braço.

― Desculpa. ― Ele sussurrou, os lábios tocando os meus. ― Eu sei exatamente como se sente agora. Vamos conversar depois. Tá difícil ser um bom rapaz sentindo seu corpo tão perto do meu. Não consigo manter esse papo furado de autocontrole por mais de cinco minutos. Seu tempo de fugir para um local seguro está acabando.

― Na verdade. ― Segurei o pulso dele, desafiando-o. ― Temos todo o tempo do mundo.

Mais do que eu, Cobra era amante do perigo. Ele me girou, empurrando meu corpo para debaixo do chuveiro desligado. Abri os lábios fingindo indignação e tentei forçar a passagem golpeando-o com o ombro. Seus braços me prenderem rente ao seu corpo rígido. Nos encaramos com fúria, os olhos fitando os lábios um do outro.

Eu podia ver a ponta da língua dele. Isso fazia o oxigênio em mim ferver. Mordi os lábios inferiores. Ele sorriu. Mas resolvi reconsiderar. Ele merecia um castigo depois de ter pensado que eu estava sendo controlada por um soro.

Girei o corpo com força, empurrando Cobra contra a parede e acionei a torneira do chuveiro. Uma cortina de água fria impediu que ele me pegasse novamente. Ele abaixou a cabeça e rangeu os dentes quando todo o calor do seu corpo evaporou com o meu castigo gelado.

Fui me afastando de costas enquanto ele se virava. Dei uma boa olhada em suas costas morenas sendo banhadas pelas gotas de água, os músculos rígidos enquanto ele tentava se concentrar. A cueca grudada. Aquele desenho perfeito de seus quadris. Apertei os olhos, empurrando a porta e saindo dali. Eu ainda tinha um pouco de sanidade. Em respeito ao meu pai. Não podia simplesmente quebrar a confiança que Cobra adquirira. Esse era o único motivo que me fez correr para o banheiro feminino e também enfiar a cabeça na água fria. Eu precisava esfriar.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now