Caí sentada no sofá. Minha mão descia e subia pela minha garganta. Eu mal podia respirar lembrando-me do modo como o corpo de Cobra respondera aquele beijo. Toquei meus próprios lábios. Eles ainda latejavam. Meu corpo estava pronto para ser dele. Mas minha cabeça tinha um problema para resolver.
― Bom dia, Ka. ― Bianca apareceu repentinamente, se espreguiçando. ― Quando você chegou?
― Cheguei e já saí e já cheguei de novo.
Ela parou de mexer nas coisas da cozinha e me olhou intrigada.
― E essa cara de assombro?
― Ih, Bianca! Me erra.
― Nossa, Karina. ― Ela sentou ao meu lado, tomando um pouco de café. ― Grossa.
― Desculpa. ― Suspirei. ― Estou num momento difícil. Estou apaixonada.
― Aham. ― Ela levou a xícara novamente aos lábios, mudando de ideia para sorrir e piscar um dos olhos. ― Agora conta uma novidade.
― Pelo Cobra.
O café que já ia entrando em sua boca se espalhou por todos os lados. Inclusive na minha perna. Bianca tossiu por um tempo longo em que tive que manter a paciência para sua dramatização exagerada.
― E o Pedro?
― Ai. ― Comecei a apertar meu próprio rosto. ― Não é como antes, Bi. Alguma coisa se perdeu. Nosso tempo passou. Quando eu fui picada pela jararaca, chamei por Pedro em delírio. ― Bianca me olhava atentamente. ― E o Cobra disse que eu só saberia o que sentia pelo Pê se eu terminasse aquilo que tínhamos começado.
― Sábio conselho. ― Ela estava sendo sincera. Mexeu os ombros, erguendo os olhos novamente para os meus. ― Quer a minha opinião?
― Vai adiantar se eu disser não? ― Nós rimos.
― Sabe quando você quer muito uma coisa e quando consegue percebe que aquilo não era exatamente como você pensava? Não há mais o fogo da conquista, a expectativa, o desafio. Mas aí você consegue não acontece mais nada. ― Balancei a cabeça de um lado para o outro. Bianca era boa em ler as pessoas, mas para ela mesma. Eu não estava entendendo muito bem. ― Eu tô falando do Pê. Ele te perdeu de uma forma muito brusca. ― Os olhos dela se abaixaram como se implorassem perdão pela milésima vez. ― Ele não poderia deixar que você fosse embora assim. Machucada. Destroçando tudo de bom que viveram. Ele lutou por você e até respeitou seu espaço quando se cansou de apanhar e de insistir com todas aquelas mentiras. E quando vocês finalmente se acertaram ele está lá sorrindo. Mas apenas sorrindo e se perguntando: e agora?
― Eu me sinto um pouco assim.
― Vocês não estão conseguindo ir para frente. Estão andando em uma esteira e o caminho é sempre o mesmo, Ka. Lembranças boas e ruins e expectativa de que as boas voltem. Mas elas não vão voltar. Vocês precisam construir algo novo. E não conseguem.
― Bi. ― Empurrei a perna dela com o pé. ― Já pensou em largar a administração e ser psicóloga? ― Ela gargalhou. ― Não! Sério. Já tem dois pacientes. Eu e o João.
― O João está indo bem sem mim.
― Eu senti um desapontamento?
― Karina o que você está fazendo aqui que não foi colocar os pingos nos is com o Pedro? ― Me levantei do sofá. Bianca segurou a minha camiseta antes que eu pudesse sair correndo. ― Faltou uma coisa. O papai não vai gostar nada nada dessa sua nova paixão.
Encolhi os ombros.
― Não é o papai que vai beijar o Cobra.
Bianca riu com a possibilidade e me soltou. Corri para a casa de Pedro. Ainda era bem cedo, o que fez com que Delma abrisse a porta para mim com um sorriso, convidando-me para o café da manhã.
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Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)
Fiksi PenggemarDepois de superar tantas mentiras e descobrir que o seu verdadeiro pai é realmente Gael, Karina decide voltar para casa e colocar uma pedra sobre seu recente passado. Mas perdoar, não significa confiar e tudo isso a leva para longe de um sentimento...