38 - Cobra (+18)

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Estava sentado no balcão, olhando para uma camiseta da Khan e pensando sobre meu último campeonato. Não havia perdido somente uma luta, mas manchado o meu nome. E apesar de estar bem com o fato do mestre Gael ter me acolhido de volta, eu sabia que aquilo ali não ia durar por muito tempo. Não com ele me limitando e com Duca sempre por perto sentindo-se superior.

Havia acabado de desligar o telefone. Falara com minha tia e ela parecia bem. Sem mais ameaças. O pesadelo havia acabado. Mas era como se os meus objetivos também. Antes eu tinha um propósito. Naquele momento eu só conseguia me enxergar estagnado ali. Não parecia uma perspectiva tão boa quando ouvi as batidas no vidro e reconheci o cabelo dourado de Karina brilhando com as luzes da noite.

Foi como se ela pudesse, com um único olhar, me dizer que parar de correr não era tão ruim. Que eu poderia me encontrar se respirasse mais devagar. Saltei do balcão e fui abrir a porta do QG para ela.

― Não estava te esperando. ― O cheiro do sabonete dela invadiu meus sentidos. A pontinha de seus cabelos ainda pareciam molhadas. Cheirinho cítrico. ― Já está bem tarde.

―Quer que eu vá embora? ― Ela parecia apreensiva. ― Olha só, Cobra. Eu só vim pedir desculpas pelo que fiz com a Jade mais cedo.

― Ah. ― Deixei um sorriso escapar enquanto fechava a porta. ― É isso? Ela surtou. Digamos que tenham merecido.

― Por que exatamente ela surtou?

― Porque eu disse a ela que estava apaixonado por você.

Percebi quando ela tentou disfarçar o turbilhão de sentimentos dentro de si. Para não deixá-la ainda mais desconcertada, peguei meu antigo equipamento de treino e fui em direção ao quarto. Ia enterrá-los no fundo de uma caixa. Khan era passado.

Assim que voltei para a parte da frente do QG, Karina estava tentando se distrair com qualquer coisa. Ela parecia pensar. Uma chuva repentina começou a cair, espantando todos da praça e da rua. O cheiro fresco da água batendo na calçada misturava-se ao cheiro de limão e folhas frescas que vinha de Karina.

― Você vai me ensinar como fez aquilo? ― Voltei ao nosso assunto comum e menos constrangedor: golpes de luta. ― Pareceu perigoso. Você calculou o peso e a força da Jade? Aposto que não conseguiria fazer aquilo comigo.

― Aposto como consigo. ― Karina se virou para mim com um sorriso desafiador. ― Tenho treinado com coisas muito mais pesadas que você.

― Mas são coisas inanimadas.

― Então vamos fazer o teste.

Dei uma olhada pelo QG. Havia um bom espaço atrás de um armário. Às vezes, quando o movimento estava fraco, Tawik e eu ficávamos treinando ali. Quase sempre ele perdia feio. Estiquei o braço, indicando o caminho para ela.

― A luz queimou. ― Lamentei. Apaguei as luzes da frente e ascendi a do meu quarto. ― Não fica tão ruim assim.

― Assim está bom. Não vai precisar de tanta luz quando cair de cara no chão.

Um sorriso torto escapou dos meus lábios. Karina retirou os chinelos e dobrou os joelhos em um pequeno aquecimento, um de cada vez, os pés batendo com força no chão enquanto se alongava. Puxou os próprios braços e punhos e se virou de costas.

― Vai Cobra. Tente me segurar.

Apertei os lábios. Era só uma luta. Balancei a cabeça tentando me concentrar. Era o primeiro embate físico que eu teria depois de recuperar os ossos das minhas costelas. Tentei não imaginar o corpo lânguido de Karina em minha frente e agarrei a cintura dela com força. Ela jogou os braços para trás exatamente como havia feito com Jade, tentando agarrar uma parte do meu corpo que a desse força para me jogar para frente, por cima de sua cabeça. Ela rosnou quando um de seus braços enrolou-se ao meu pescoço e o outro firmou meu ombro. O corpo de Karina saiu do chão em um impulso fantástico. Suas pernas ganharam altura. E ela fizera tudo aquilo usando a minha força e não a dela. E quando ela arfou, ganhando velocidade e empurrando as pernas para baixo novamente, senti a gravidade me trair e fui atirado para cima.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now