Chegamos ao fim de mais uma jornada. Terminar uma história é ao mesmo tempo gratificante e triste. Metade de mim está sorrindo e agradecendo aos deuses e às boas energias emanadas de todos vocês. Cada palavra de carinho, cada crítica construtiva, cada incentivo nos dias em que eu queria chorar e cada sorriso que vocês me arrancavam todas as manhãs. Isso faz a minha outra metade chorar. Sentirei tanta falta disso que vocês jamais farão ideia da dor que é postar esse capítulo final. Espero que sintam todo o amor em cada palavra que eu deixar aqui. O meu amor a vocês, leitores. O meu amor por Cobrina. Obrigada!
Ganhei um novo objetivo na vida: ver e estar com Karina a cada amanhã. Então era aquilo que as pessoas chamavam de amor. Era mais do que um ideal. Era um sentir. Era ouvir músicas falar aquilo que você não conseguia dizer. Querer tocar a mão dela no meio do treinamento. Ter que aguentar sem piscar por mais de dez segundos enquanto nos encarávamos de longe. Esperar avidamente por nossas fugas noturnas. E sorrir como um idiota quando ela dizia que a minha voz era a última voz que ela gostaria de escutar todas as noites antes de se entregar ao sono.
Quando eu olhava para ela, determinada, forte, voltando à rotina, eu sabia que ela havia conseguido. Karina havia vencido o campeonato de mentiras que envolveram Pedro, Bianca, Gael e Lobão.
Ela sabia agora que pessoas poderiam fazer promessas o tempo todo. E que da maneira mais vil elas poderiam dar as costas e quebrá-las, quebrando junto seu coração. Mas Karina descobrira também que eu seria aquele cara para curá-la o tempo todo. E todas às vezes que ela pensasse em não acreditar naquilo, eu estaria ali provando a ela que não era uma coisa ruim confiar em mim. Não era ruim estar apaixonada por mim.
― Não vou encher a sua cabeça com falsas promessas. ― Eu disse a ela antes de pegarmos a estrada numa manhã gelada de junho. Três meses depois de termos decidido ficar definitivamente juntos. ― Nem com perda de tempo.
― Eu sei. ― Seus lábios tocaram minha pálpebra quando pisquei. Sorri sem querer. Ela nunca havia beijado meus olhos. Karina segurou o meu rosto após deixar o capacete sobre o banco da moto e beijou a pálpebra do meu outro olho. ― Estou vendo a verdade nos seus olhos. Já faz um bom tempo que você consegue me dizer qualquer coisa apenas por direcioná-los a mim.
― Então finalmente consegue se enxergar como eu te enxergo?
Karina beijou o olho direito. E depois o esquerdo. Seus lábios estavam levemente ressecados pelo frio, mas suficientemente quente espalhar uma chama dentro do meu peito.
― Todos os dias. É por isso que te amo tanto. ― Beijei o osso da maçã rosada de seu rosto. Abri os olhos a tempo de vê-la corar timidamente depois de se declarar. ― Só não consigo adivinhar ainda para onde estamos indo.
― Andei pesquisando na internet um lugar perigoso. Já que somos dados à aventura. ― Fingi pensar, fechando um dos olhos e fitando o céu escuro. Ainda faltava algumas horas para o amanhecer. O suficiente para chegarmos aonde eu queria. ― Você tem medo de abelha?
― Não.
― Você tem medo de alguma coisa, Karina?
― Não. ― Sorri enquanto ela ria. Aquela risada anasalada que eu tanto gostava. Infantil e arredia.
Empurrei o capacete para ela novamente. Quando liguei a moto e seus braços apertaram ao redor da minha cintura, pareceu que o mundo era somente nosso. Por um momento me lembrei das outras pessoas enquanto eu rodava com Karina.
Pedro continuava sendo aquele cara feliz que sempre fora. Ele costumava fazer algumas coisas engraçadas para Karina e às vezes ela caía na gargalhada por nada. E por mais que eu imaginasse que sentiria ciúmes, era como se eu ficasse feliz em vê-la rir daquela maneira. Eles tinham um passado, mas era só. Ele estava bem com a banda. E com a legião de fãs que ganhara. Podia escolher qual garota ele queria na noite. Estava solto, tranquilo, sem o peso de uma mentira ou a pressão de um perdão. Era o Pedro moleque de antes.
Jade estava participando de um concurso de dança. Eu falara com ela duas vezes. Não fomos ríspidos um com o outro. Conversar com ela era como falar com Bianca. Natural e necessário. Ela não parecia tão feliz quanto Pedro. Jade não ficava feliz. Ela tinha raros momentos de euforia. Por isso era tão ambiciosa. E por mais que ela tivesse tentando esconder, no fundo eu via que ela e o meu colega Tawik estavam tendo algum tipo de envolvimento estranho.
Era o tipo dela. Aqueles caras parecidos comigo.
Gael não era tão duro com Karina como antes. Ela havia competido no último fim de semana e ganhado em sua categoria. Ele estava entendendo que a filha tinha potencial. E o novo bebê a caminho estava amolecendo seu coração. Dandara mal conseguia andar com aquela barriga tão grande e era engraçado ver o mestre não ter tempo nem para se importar com as confusões amorosas de Bianca.
Ao que parecia Duca voltara a procurar por Nat e pela história suja de Lobão. E Bianca ganhara um papel em uma novela. Pequeno. Ela seria assassinada no terceiro capítulo, mas era um papel. E o único que estava por perto enaltecendo o narcisismo dela era o João. Que, por incrível que pareça, estava praticamente paquerando a garota de cabelos curtinhos que cantava na banda do Pedro.
Apaguei todas aquelas pessoas da memória. Sentindo os braços de Karina me apertarem em um abraço, suspirei, com os primeiros raios gelados de sol. Ela escondeu as mãos no bolso da minha jaqueta. Aqueles pequenos gestos me faziam sorrir. Entrei em uma via de cascalho à nossa direita.
Não demorei para alcançar o que eu queria. Chegamos junto com o sol. Estacionei a moto em frente a uma porteira. Karina saltou da moto e fitou o campo à sua frente maravilhada assim que colocou o capacete no banco.
― Um campo de girassol! ― Ela abriu um daqueles sorrisos intensos. ― Eu achei que íamos colher mel por causa daquela história de abelha.
Balancei a cabeça rapidamente, segurando a mão dela. Mas ela tomou a dianteira. Sua blusa de mangas compridas em um tom de vermelho terroso, percorrendo entre a folhagem verde fazia um contraste magnífico com o dourado dos fios de seus cabelos, as pétalas das flores tão altas que quase nos encobriam e os raios de sol deixando tudo mais intenso. Então Karina se virou para mim. Agradeci por ela ter prendido a parte frontal do cabelo para trás para que seus olhos ficassem em destaque daquela maneira. Tão azuis quanto o céu acima de nossas cabeças.
Você está tão maravilhosa nesse lugar. Eu amo o seu cabelo desse jeito. O jeito como ele contorna a lateral do seu rosto e luta para tocar seu pescoço. Você tem os olhos que escondem todos os nossos segredos, como se ninguém soubesse de nada, só nós. Você tá tão linda nessa luz. Seu corpo andando por entre os girassóis. O modo como destaca o azul dos seus olhos. É como dois rios. Mas com direção certa. Direcionados a mim. Todos os sons de grilos e todos os pássaros ao amanhecer simplesmente se emudecem ao som da sua respiração, dos seus suspiros, de suas risadas. Eu estou tão apaixonado!
Era isso que eu queria que ela soubesse.
E quando ela corou as maçãs do rosto, soube que ela finalmente havia entendido o que meus olhos gritavam.
Karina finalmente havia conseguido decifrar o meu olhar.
Eu poderia amá-la até mesmo em silêncio.
Ela saberia para sempre.
FIM
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Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)
FanfictionDepois de superar tantas mentiras e descobrir que o seu verdadeiro pai é realmente Gael, Karina decide voltar para casa e colocar uma pedra sobre seu recente passado. Mas perdoar, não significa confiar e tudo isso a leva para longe de um sentimento...