27 - Karina

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― Pedro eu não vou deixar o Cobra sozinho. ― Parei, cruzando os braços antes de sair do QG.

Jade e Pedro se viraram. Os olhos dela faiscavam de ironia. Os de Pedro tentavam demonstrar paciência.

― Mas ele quer ficar sozinho! ― Ele conseguiu pegar minha mão.

― Não força a barra. ― Puxei de volta.

― Olha aqui, Maria Macho. Você é que está forçando a barra. Se o Cobra precisasse de ajuda eu o ajudaria. ― Jade se meteu na conversa. ― Mas ele praticamente expulsou todo mundo de lá.

― Não vamos ter um Déjà vu. ― Andei de costas, segurando a porta do QG. ― Eu tomo minhas próprias decisões. E dessa vez eu vou ficar com ele. ― Pedro abriu a boca, mas ergui o dedo primeiro. ― Podem derrubar essa porta se quiserem, mas eu sei exatamente do que o Cobra precisa. Eu também sou uma lutadora. Sei onde dói. E não é só na costela quebrada. É no orgulho. Nas expectativas destruídas. Nos sonhos.

Jade revirou os olhos ainda maquiados pela peça e saiu pisando duro. Ela nuna ia entender nada daquilo. Pedro contorceu o rosto. Mas não esperei que ele reclamasse. Fechei a porta do QG e a passos silenciosos sumi na escuridão antes que ele tentasse me fazer não passar a noite ali.

Parei no meio do caminho refletindo sobre como as vontades de Pedro já não eram a minha prioridade. Eu estava errada. Deveria tentar fazê-lo o mais feliz possível. Mas ele também não estava se esforçando para me deixar feliz. Ou eu é que não estava feliz com nada. Pedro parecia tentar. Até ficamos um tempo muito longo sozinhos, mas não consegui seguir adiante com aqueles beijos. As coisas poderiam ter esquentado, mas eu estava fria. A Esquentadinha estava Congeladinha. Simplesmente saí correndo. Era a minha outra metade lutando contra a que eu escolhera ser.

E foi a metade lutadora que renascera em mim depois de tudo que ouviu o choro baixinho de Cobra. Caminhei apressada de volta ao seu quarto. Era a segunda vez na vida que eu o via chorando. A primeira foi quando quase morri. Por isso parecia tão desesperador. Não era só uma luta para ele. Era a chance de sua liberdade.

Quando cheguei ao quarto, metade de seu corpo estava para fora da cama. A mão sobre os olhos. O pescoço esticado enquanto sua cabeça pendia.

― Ei, ei! ― Sentei-me na cama, colocando a cabeça dele no meu colo.

― Ah, não Ka.

― Ah não, Cobra. ― Ironizei, afastando a mão dele dos olhos machucados. Passei meus dedos por ali com cuidado para não ferir ainda mais o seu rosto, apenas para afastar as lágrimas duras e enraivecidas. ― Não fica assim, Cobra. Você lutou até não poder mais.

― Tô fora da Khan. ― Ele esfregou o rosto com raiva. Tive que segurar seus pulsos para que não se machucasse ainda mais. ― Karina você é muito teimosa. Devia ter ido com Pedro.

― Você não me conhece, né? Claro que eu não iria.

― A Karina que namora o Pedro iria.

Ficamos em silêncio. Fitei o rosto ferido de Cobra. Os olhos dele jaziam fechados. Ele respirava com dificuldade, mas não estava mais chorando nem querendo se punir. Os lábios dele estavam inchados e vermelhos. Alguns pontos que sangraram antes ficaram arroxeados e protuberantes.

― Se te consola... ― Apertei os olhos, me arrependendo daquelas palavras que eu ia dizer. Meu rosto todo queimava. ― Você ficou lindo todo arrebentado.

Suas pálpebras se mexeram. Ele abriu os olhos diretamente para mim. Pela primeira vez consegui entender o que eles queriam dizer. Me queriam. A mão de Cobra subiu até a minha nuca com dificuldade, mas ele não forçou o meu pescoço, apenas dançou os dedos pelos meus cabelos.

Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)Where stories live. Discover now