Meus pulsos doíam. Mesmo com as mãos amarradas para frente, não havia muito o que fazer. Encostei a testa no braço, suspirando. Meu nariz havia parado de sangrar e a única coisa que eu sentia era frio. Pedro e eu tínhamos sido levados para uma penitenciária escondida à beira mar na Vila do Abraão. O lugar era escuro e fétido. Dava para ouvir o mar infernal querendo nos alcançar. Fomos amarrados em uma grade de uma pequena janela bem perto da areia. Em algumas horas a água salgada chegaria ali. Meu pulmão ardeu só de pensar.
― Você acha que ele vai entender? ― Pedro sussurrou. Estávamos sozinhos, mas não convinha aumentar o tom de voz.
― Eu não sei, Pê. ― Dei outro arranco nas amarras. Em vão. Estávamos muito bem presos. Só derrubando a parede para sair dali. ― Precisamos acreditar que sim.
― É por isso que você gosta dele, não é? ― Ergui meus olhos, fitando a expressão tranquila de Pedro. ― Porque ele dá a você o que eu não posso.
― Do que você tá falando, Pedro?
― Do que todo mundo quer. ― Ele fungou. ― Um amor que te consome. Você quer um pouco de paixão e de aventura. E com sorte também tenha um pouco de perigo. ― Franzi o cenho. ― Eu vi isso em The Vampire Diaries. É verdade, né?
Dei um sorriso, meneando a cabeça. Pedro conseguia ser engraçado até em momentos de tensão, recitando frases de séries de vampiros.
Um trovão rompeu o céu. Não tive tempo de pensar no que Pedro havia me dito quando a chuva começou a cair de forma pesada.
― Ah, não. ― Segurei as grades. ― Tempestade. Das grandes.
― Vamos morrer mais rápido.
As ondas começaram a dançar de forma nervosa.
― Karina me desculpa! ― Pedro chorou, me assustando. ― Eu fui tão estúpido! Eu quero que a gente saia daqui. Quero que você seja feliz. Do jeito que você quiser.
― Pedro, para de gritar. ― Toquei o joelho na barriga dele. Amarrado ao meu lado, Pedro estava com os braços para cima e as costas viradas contra a parede enquanto eu estava virada de frente para as grades, fitando o mar nervoso. ― Não vamos morrer. Também cometi erros com você. Já passou. Fomos felizes. Você foi o meu primeiro. Nunca vou esquecer isso.
― Não quero ser o seu último! ― Ele gritou, se debatendo. ― Não quero que você seja a minha última!
Fechei os olhos, ouvindo a tempestade arrastar o mar até a parede. Logo tudo começaria a inundar. Cobra não viria. Ele não havia entendido. Nós íamos morrer. Eu ia morrer sem dizer a ele o que sentia. Bati com a cabeça na grade e me rendi às lágrimas.
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Olhos de Cobra (Fanfic Cobrina)
Fiksi PenggemarDepois de superar tantas mentiras e descobrir que o seu verdadeiro pai é realmente Gael, Karina decide voltar para casa e colocar uma pedra sobre seu recente passado. Mas perdoar, não significa confiar e tudo isso a leva para longe de um sentimento...