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– Está pronto, senhor. Quer que eu o sirva? - Camila ainda tinha dificuldade para me olhar nos olhos, sempre estava com a cabeça baixa.

– Não se preocupe com isso, eu mesmo posso me servir. - levei os olhos até o celular em minhas mãos. – Aliás, Camila. Sabe fazer bolo?

– O senhor quer bolo de que?

– Qualquer um que saiba fazer está bom. - eu nem gosto de bolo.

Minha mãe disse que vem me ver. Ela é aposentada e inventou que viria passar alguns dias aqui em casa. 

No auge dos meus vinte e sete anos, receber minha mãe em casa é a missão mais difícil do mundo. Prefiro enfrentar o tribunal.

Mamãe tem o coração bom e ama ajudar os outros, acho que é por isso que ela se casou com meu pai, pra mudar ele. Pelo menos ela tentou. Para ela, ele é bom. Mas o doutor Manuel não é o cara mais bonzinho do mundo. 

O lado ruim da mamãe é que ela não sabe ficar sem me dizer o que eu devo fazer. A ultima vez que a vi, tive que pintar meu quarto para que ela parasse de falar na minha cabeça.

"Preto não é uma boa cor para quartos, filho. Pinte de uma cor clara."

E eu pintei. Esse é o meu problema.

Sou como um megero mas me deixo subornar pelos caprichos da minha mãe. Não sou manipulado por ela, apenas evito me enraivecer. Poderia ter pintado meu quarto de preto novamente, se quisesse.

O cheiro do bolo invadiu a sala assim que deixei o processo que eu lia sobre a mesa de centro. Talvez eu goste do bolo de Camila. Talvez eu goste de tê-la aqui.

Ela é quieta, silenciosa e arredia, mas com ela não me sinto sozinho em casa.

Camila só fala comigo se eu a perguntar algo, e eu raramente pergunto. Nunca toquei nela, não que eu queira, mas sinto que só de eu estar no mesmo ambiente que ela, a faço temer mas é bom saber que há mais alguém além de mim nessa casa.

O som da campainha soou. Mamãe chegou.

Estremeci. Minha mãe se encontraria com Camila. Não que eu a estivesse a escondendo ou algo assim, mas eu também não queria responder às perguntas da minha mãe sobre a minha mais nova empregada.

Abri o sorriso mais sincero que pude e coloquei a mão na maçaneta. vamos nós.

– Por um momento pensei que não estivesse em casa.

Lá estava ela. Magra, com seu corpo esguio dentro de um vestido nitidamente caro, sua bolsa pendurada no cotovelo direito e os óculos escuros repousando sobre seus cabelos perfeitamente penteados. Linda.

– Não demorei mais que dois minutos, mamãe. - abri espaço para que ela entrasse.

– Em uma casa desse tamanho, - olhou para os lados, quase como se buscasse por alguém. Ela sabe de alguma coisa? – não me admira que tenha me deixado esperando. - sorriu. Um sorriso estrategicamente perfeito, papai a treinou para isso.

Mamãe me analisou de cima à baixo, como um scanner.

– Está mais gordinho, querido. - apertou minha barriga. – Não me diga que aprendeu a cozinhar. - revirei os olhos e ela me repreendeu com o olhar.

– Oi mamãe, como vai a senhora? Eu estou bem, papai não quis vir? Não que ele já tenha vindo muitas vezes... Aali disse que ele passou por lá semana passada. Estou devendo uma visita a ela também, aliás, falando em visita, quanto tempo a senhora pretende ficar?

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