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⚠️ ALERTA GATILHO ⚠️

Minha surpresa foi tão grande que paralisei. Eu não tenho costume de ficar sem reação, mas Camila conseguiu me pegar de surpresa a esse ponto.

– Shawn? - me chamou baixinho.

– Desculpe, só... fiquei surpreso. - ela sorriu de modo contido.

– Eu queria muito te agradecer. - soltou depois de um breve silêncio. – Estive falando com Miguel e ele achou que seria legal se eu te contasse tudo o que quer saber há tanto tempo.

Camila fala muito com o filho, coisa que eu acho muito fofa, mas é a primeira vez que diz que uma ideia sua veio dele.

Pensei em dizer a ela que não precisa me contar tudo de uma vez se não quiser mas estou curioso e ansioso demais para ser cordial.

– Miguel tem ideias muito legais. - ela sorri genuinamente para mim antes de olhar para o filho.

Me direcionei à caixa e comecei a abri-la em busca do manual, não quero passar vergonha.

– Como eu te disse, eu morava na ilha e tinha muitas irmãs. - morava, tinha... tudo no passado. – A pesca já não estava sendo o suficiente para nos manter então meu pai achou melhor vender nossa parte da ilha em troca de que pudéssemos continuar lá e cuidar do lugar para os ricos que a usavam apenas por diversão. - peguei a peça marcada como a primeira de dentro da caixa e fui em busca da segunda. – Eu não sei muito bem o que aconteceu mas, de repente, alguns homens passaram a aportar toda semana e falar sempre com meu pai. Ellen e eu éramos muito próximas, acho que era por causa da idade ou algo assim, ela cuidava de mim como se eu fosse sua filha e eu contava tudo para ela... - sua voz vacilou e levantei minha cabeça para analisar seu rosto. – Mas sempre senti que ela me escondia alguma coisa.

Ela fitava a janela como se todas as lembranças estivessem passando, como em um telão, bem ali. Seus olhos já estavam carregados em lágrimas.

– Mesmo com a venda da ilha e meu pai ganhando para cuidar da casa, as coisas não melhoraram muito... um dia, um desses homens, o que comprou a nossa parte da ilha disse que ajudaria meu pai mais uma vez e ele logo concordou, assinou um papel sem ler antes e quando percebi, eu tinha sido vendida.

– Vendida? - não contive meus pensamentos. – Como um pai tem coragem de vender a filha? - seus ombros se encolheram e a primeira lágrima caiu de seus olhos.

– O homem queria Ellen, acho que ela já sabia disso, mas papai não deixou que ele a escolhesse... ela sempre foi a preferida dele. - sorriu. – Meu pai mesmo quem escolheu quem ele venderia e... eu fui a escolhida da vez.

Não havia soluço, não havia tremedeira, não havia barulho, apenas suas incessantes lágrimas.

Merda. Eu quero muito perguntar quantos anos ela tinha, qual o nome do cara e muitas outras coisas mas, pra me conter, voltei a montar o berço.

– Eu tinha nove anos quando vi minha mãe e minhas irmãs pela última vez. - aquilo me atingiu como um tiro. Cocei a garganta quando ela continuou como se tivesse ouvido meus pensamentos. – Não pude me despedir de ninguém, só dele, do meu pai, e eu nem se quer levei minhas roupas... O homem me tratou bem no começo, eu até pensei que ele não seria ruim para mim. Ele me deu roupas e sapatos e durante a viagem até a fazenda me deixou comer doces. - sorriu irônica balançando a cabeça. Voltei minha atenção para o berço. – Não demorou muito pra tudo virar um verdadeiro pesadelo. Eu não conhecia muitas coisas mas soube, desde cedo, como bebês eram feitos, mamãe me contou uma vez, escondida do meu pai... - droga. – Eu tenho irmãos... fiquei curiosa e sei como são feitos, mas nunca pensei que doesse tanto.

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