16.

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- Ela está assustada e envergonhada, irmão.

- Envergonhada? Por que ela estaria envergonhada?

- Olha, ela passou por muita coisa nessa vida... e eu nem sei de muito, você deve saber bem mais que eu. - duvido um pouco. - Acontece, Shawn, que ela não queria ter pensado daquela forma de você. - um suspiro aliviado saltou de meus pulmões. - Ela disse que não queria te magoar nem nada, que foi só uma questão de costume e pediu para que você fosse vê-la. - sua mão pousou em meu ombro chamando minha atenção. – Acredite, seus sentimentos são recíprocos.

Então ela ainda me quer por perto. Senti como se estivessem tirando de cima das minhas costas um filhote de elefante e fui em direção ao quarto antes mesmo de dizer qualquer coisa à minha irmã.

- Ei - coloquei a cabeça para dentro. Camila já estava vestida, sentada com as costas apoiadas na cabeceira da cama. - tudo bem? Onde está Miguel? - sua cabeça se inclina levemente para a esquerda e só então notei o pequeno montinho ao seu lado. – Vim pegar um travesseiro. - adentrei o quarto por completo.

A vontade de que ela me pedisse pra ficar era tão grande que eu, simplesmente, não conseguia tentar deixá-la de lado.

– Onde vai?

Esperança.

– Vou dormir na sala. Só preciso de um travesseiro, não se preocupe. ‐ direcionei um sorriso sem dentes a ela.

É tão difícil não conseguir o que eu quero. Eu nem ao menos consigo dizer a ela que quero ficar aqui. Mesmo que no chão.

– Não vai não. - sussurrou.

Não estava preparado para seu pedido. Meu cérebro demorou um bom tempo para processar as palavras.

Mesmo que a esperança estivesse ardendo no meu peito, me convenci que não passava de um bom e velho "a esperança é a última que morre".

– Tudo bem, - respondi ainda atordoado. – eu durmo no chão então.

Observei seu rosto ruborizar e ela apertou o cobertor que estava sobre suas pernas levando, logo em seguida, os dedos para enrolar uma mexa de cabelo.

– A cama é grande... não precisa dormir no chão.

E voltamos para o livro de enredo clichê que minha irmã tanto amava ler e idealizar na adolescência. Merda, Camila, não faça isso comigo.

– Tem certeza? - ela balançou a cabeça para cima e para baixo. – Vou por uma blusa então.

– Não. - sua mão me alcançou.

A olhei com dúvida, há minutos atrás ela estava achando que eu iria me aproveitar dela por estar sem camisa, o que mudou?

– Seu calor me acalma. Me acalmou antes. - me olhou suplicante. – Não sai daqui, por favor. - choramingou já com os olhos vermelhos.

– Eu não vou a lugar algum, não se preocupe.

Ficamos nos encarando sem dizer palavra alguma por segundos que, para mim, pareceram uma eternidade. Aproveitei cada segundo admirando seu rosto, os olhos dela são tão lindos que não me canso de olhar.

– É... eu queria muito continuar aqui olhando pra você e tudo mais... - mordi o canto da bochecha quando seus olhos quebraram o contato com os meus. – mas eu... será que eu posso apagar a luz do quarto? - me embananei nas palavras como se eu fosse uma criança pedindo doce à mãe que já dissera "doce apenas depois do jantar, querido."

Seus lábios se curvaram e seus olhos se tornaram mais brilhantes e divertidos antes que ela finalmente liberasse a melhor gargalhada que eu já ouvi em toda a minha vida.

O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora