– Pai. - chamei assim que ele me atendeu.
– Diga, filho.
– O senhor é o melhor, não é? - exitei. Esse é o tipo de pergunta que faria meu pai me perguntar se eu estou drogado.
– Que isso, Shawn? - pareceu surpreso. – Está com algum problema? Quer que eu chame sua mãe? - claro, ele nunca soube resolver.
– Não. Eu preciso do senhor.
– Estou aqui, meu filho. - sua voz era um misto de preocupação e felicidade, talvez por eu estar, finalmente, pedindo a ele alguma coisa.
– Preciso que assuma um caso para mim.
– Filho, eu não trabalho com empresas... - advertiu.
– Exatamente por isso que eu não posso pegar o caso. - e porque eu quero estar livre para dar um soco no tal do "homem".
– Me explique a história. - ele se interessou. Ponto pra mim.
– Tenho uma garota que foi mantida em cativeiro por, pelo menos, oito anos e hoje fugiu, conseguiu - consertei. – fugir com o filho e eu quero prender o desgraçado.
Ouvi o sibilar de mamãe no outro lado da linha e suspirei. Ela sempre está por perto para intermediar nossas possíveis discussões. O problema é que eu sou muito igual ao meu pai.
– Mamãe sabe quem é, peça a ela que lhe conte a história de como conheci a garota, sim?
– Estarei aí ainda esta tarde, Shawn. - desligou.
– Pedindo arrego pro papai, em... - Maia provocou escorada no batente da porta.
– Não enche, Maia.
– Só queria entender o porquê você ligou pra ele se tem uma criminalista na porta ao lado. - ela tentou não soar ofendida, mas eu feri seu ego quando não lhe pedi ajuda.
– Achei melhor não te envolver nesse caso, só isso. - dei de ombros e fingi ler um dos papéis que estava em cima da minha mesa.
– Legal, estou com tempo. - sentou-se na cadeira à minha frente. – Pode me contar sobre esse caso aí. - suspirei.
– Eu acho melhor...
– Caramba, Shawn. Fala logo, tem a ver com a Camila?
– Por que você seguiu o ramo criminal? - perguntei realmente ansioso pela resposta.
– Ah, eu gosto da adrenalina maior que isso me proporciona. - deu de ombros.
O caso de Camila mexeu muito comigo, imaginei o quanto mexeria com ela já que, como mulher, poderia sentir ainda mais a dor da menina.
– Camila foi vendida pelo pai aos nove, estuprada, mataram alguns de seus filhos e ela fugiu depois de ameaçarem matar Miguel. - sua boca se abriu, incrédula. – Não quis te dar o caso porque achei que seria muito doloroso e - sua mão se levantou em um sinal para que eu me calasse. Obedeci.
– Dispense seu pai. Eu faço questão de assumir o caso. - seus olhos se escureceram e, antes que eu pudesse pensar em dizer alguma coisa, ela se levantou e deixou minha sala.
Não sei se dispensar meu pai vai ser uma boa ideia, mas com certeza prefiro lidar com ele a enfrentar Maia depois que vi a determinação estampada em seus olhos.
– Pai? - ele atendeu no segundo toque da chamada.
– Por que não me contou antes sobre ela? - sua voz era calma, bem diferente do que eu esperava.