Epílogo

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Sabe qual é o melhor sentimento do mundo?

Talvez seu cérebro tenha acusado a tal da felicidade mas eu garanto a você, cem por cento convicta do que estou dizendo, que felicidade não é o melhor sentimento do mundo.

Veja bem, até mesmo em meio à tristeza, à dor, ao luto, é possível tirar momentos de felicidade. É natural do nosso corpo, da nossa essência, do nosso ser ou sei lá o que mais, buscar ser feliz enquanto não se é mas a liberdade... esse sim é o melhor sentimento do mundo.

Se sentir livre é a melhor coisa do mundo.

Olhar para o lado e saber que você pode, simplesmente correr por aí, encontrar alguém e, do nada, decidir que pode ser amigo dessa pessoa, se apaixonar e construir uma vida do zero... não há nada melhor que isso. Cada pequeno detalhe da liberdade é encantador.

Demorei muito tempo para, finalmente, me libertar de todas as amarras que me fizeram colocar em mim — ou quase todas —. Mas o que importa é que, hoje, eu sou livre.

Gritei com toda a minha alma enquanto a água morna caía em minhas costas.

- Ei, está tudo bem? - Shawn estava parado ao meu lado, ajoelhado na grande poça d'água. Sorri para ele sem mostrar os dentes. - Aaliyah já ligou para a ambulância. Estão a caminho.

Um trovão bradou do céu e a chuva, antes fraca, agora começou a cair com mais força.

- Prometa que não fará força até que eles cheguem. - advertiu quando apertei sua mão pela enésima vez.

- Eu consigo fazer isso sozinha, Shawn. - ralhei. - Não vai ser diferente da última vez. Agora eu posso até gritar. - respirei profundamente.

- Há oito anos atrás você precisava passar por isso sozinha, hoje eu estou aqui. - acariciou o dorso da minha mão. – Não há a necessidade disso. Por que tanta teimosia?

Reprimi mais um grito para que ele não se apavorasse mais. O ciclo natural da vida é esse e é doloroso!

- Só... - ofeguei. - Me deixe fazer isso aqui. Eu prefiro.

- Venha, se vista. - ignorou o meu pedido. - Aaliyah disse que ligou para a ambulância. Eles vão chegar a qualquer momento.

Saí de baixo do chuveiro dando meu banho por encerrado. Não quero que nenhum médico me veja sem roupa antes da hora. Isso seria humilhante demais.

- Mamãe? - Miguel apontou na porta coçando os olhos.

- Oi, meu amor. - me ajeitei na cama o chamando para mais perto.

- Ela está chegando? - pousou a mão sobre minha barriga. Sorri para ele acariciando sua bochecha.

- Sim, meu amor. Ela está chegando.

- Papai está no telefone com a tia Aali. Ele parece estar com medo, mamãe. - seus olhos ficaram apreensivos com a hipótese. - Tem alguma coisa errada?

- Não. - reprimi mais um grito. Não queria assustar o meu menino. - Eu já fiz isso antes.

- E por que ele está assim? - arregalou os olhos.

- Porque da outra vez, seu pai não estava aqui comigo.

- E foi difícil? - sorri com sua curiosidade.

- Foi, meu bem. Foi muito difícil. - fechei os olhos com mais uma onda de dor.

- Agora eu e ele estamos aqui. - sorriu com orgulho. - Vai ser mais fácil, não vai? ‐ consenti com a cabeça o fazendo abir um sorriso ainda maior.

- Chame seu pai e volte a dormir, filho. Quando você acordar sua irmã já estará aqui. - obediente como sempre foi, Miguel desceu as escadas em busca de Shawn.

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