Certo, eu já estive nesse lugar muitas vezes então por que é que, hoje, eu pareço tão mais nervoso que todas as outras vezes?
Talvez tenha a ver com o fato de eu não estar no meu lugar de costume. Quando você é um jogador em campo não há tempo para que o sangue ferva em apavoro, você precisa jogar. Mas, hoje, eu sou apenas mais um na arquibancada.
Encarei, sentado atrás da pequena grade que dividia os jogadores dos torcedores, Maia metralhar o tal Karlos de perguntas.
– Sem mais perguntas. - virou as costas e saiu, séria, em direção à sua cadeira.
– Eu só tenho um questionamento, Meritíssimo. - a defesa anunciou olhando para Camila que se encolhia cada vez mais na cadeira. – Por que esconder tanto tempo o que você diz ter sofrido nas mãos do Senhor Kalvin?
Camila arregalou os olhos pela pergunta e deixou seu olhar descer para as mãos parecendo, cada vez mais, uma gatinha assustada.
– Senhorita, preciso que me responda. - insistiu.
– Eu tive medo. - sibilou.
– Medo de que? - o que ele queria? A causa já está ganha. Não há como perdermos essa.
– Tive medo que não acreditassem em mim.
– Por que não acreditariam? - disparou. Camila permaneceu calada dando a ele o aval para continuar. – Você não detém provas da veracidade de suas palavras?
– Protesto, meritíssimo. - Maia bradou. – Não há como uma vítima fugitiva deter provas de que foi mantida presa.
– Há sim, meritíssimo. - contra-atacou. – Ela alega ter tido um filho do meu cliente mas se recusa a submetê-lo a um simples teste de DNA. - aproximou o rosto de Camila. – Do que tem medo, Camila? - desafiou.
Camila buscou, na pequena plateia atrás do homem em sua frente por seu filho que estava em meu colo tomando, então, forças para respondê-lo.
– Não tenho medo de que dê negativo, senhor.
– Isso não responde a minha pergunta.
– Não quero que dê positivo. - fechou os olhos permitindo que as lágrimas rolassem por seu rosto.
– Sem mais perguntas.
Era certo que Miguel seria obrigado a fazer um teste de DNA. Isso nunca foi segredo para mim, muito menos para Maia, no entanto, em primeiro momento, Camila poderia negar fazê-lo e foi o que aconteceu. Ela escolheu não furá-lo imediatamente.
– Ei, está tudo bem. - afaguei seu cabelo buscando confortá-la.
– Não, Shawn. - fungou. – Ele vai ter um documento.
– Mas de que isso importa?
– Importa muito. - apertou minha blusa. – Importou pra você.
– Ei. - levantei seu rosto molhado para que ela olhasse para mim. – Um teste de DNA não vai fazer diferença para mim.
– Não?
– Não. - sorri para ela. – Ele é meu filho, Camz. - seus olhos brilharam aquecendo a minha alma. – Amanhã mesmo, antes de irmos ao laboratório, passaremos no cartório e Miguel será registrado no meu nome! Por que ele é meu filho e esse documento, somado ao coração, é o mais valioso de todos.
– Sinto que ele te ama. - constatou olhando-o dormir estirado no tapete da sala.
– E eu amo a vocês dois. - beijei sua tempora.