– Arg, por que você é tão teimosa?
Reviro os olhos olhando para o pequeno corpo feminino parado à minha frente.
Suas bochechas coraram de uma maneira extremamente charmosa. Poderia abraçá-la, se eu não estivesse tão irritado.
– Esse é o meu trabalho, senhor.
Minhas mãos pareceram pegar fogo e eu as cerrei.
– Pensei que tínhamos deixado o senhor de lado. - ralhei e ela sussurrou um pedido de desculpas. – Por favor, deixe isso pra lá. - estiquei a mão tentando pegar o cabo da vassoura que ela segurava.
– Este é o meu trabalho, Shawn. - frisou desviando do meu movimento repentino.
– Pois bem, você trabalha para mim, portanto, eu sou a autoridade aqui, o que significa que sou eu quem mando!
Seus olhos me desafiaram por alguns segundos mas ela logo tratou de desviar o olhar virando a cabeça para a direita e fechando suas pálpebras.
– Eu estou mandando, que você deixe essa vassoura no lugar e vá descansar.
Se eu a conhecesse bem, diria que ela teve vontade de jogar o objeto bem na minha cara, no entanto, eu não a conheço a ponto de saber o que ela sente ou deixa de sentir e, bem, ela não jogou nada no meu rosto.
Chegar em casa e me deparar com ela varrendo as folhas que caiam da árvore plantada na calçada virou rotina nos últimos três dias.
Desde que ela passou a não sentir mais dores, começou a querer perambular por ai fazendo o trabalho que eu a contratei para fazer.
Isso seria ótimo, o sonho de qualquer patrão, se ela não estivesse, por ordens médicas, proibida de fazer esforço até a ultrassom do dia de amanhã.
– Ei, garotão! - chamei a atenção do menino assim que passei pela porta da sala.
Miguel desviou os olhos atentos da mãe para sorrir para mim, antes de voltar a abocanhar o seio da mulher.
Normalmente, eu não os observo nesse momento, mas, pela primeira vez, Camila não pareceu incomodada com a minha presença enquanto ela o amamentava.
Talvez ela ainda estivesse remoendo a minha ordem e buscando traçar algum plano para me fazer sentir raiva ou só estava totalmente alheia à minha presença.
A questão é que eu não me importo de vê-los nesse momento, na verdade, ver Camila amamentando o filho me causa uma estranha e boa sensação de aconchego.
– Faça um favor para mim, Miguel. Diga à senhora sua mãe, que ela está proibida de limpar a casa. Ela é teimosa demais, menino, não gosta de me obedecer... - o assunto, certamente, não agradou o bebê.
Assim que minha boca se abriu ele virou sua atenção à mãe e esqueceu que eu estava por ali.
– Eu só não quero ser castigada, Shawn.
Seu murmúrio foi tão baixo que eu preferi crer que sua fala foi mal interpretada por meus ouvidos ou que eu estava ouvindo coisas por culpa do meu cansaço mental.
O trabalho vem me consumindo muito nessa última semana, trabalhar para os magnatas da cidade significa uma conta gorda, recheada e tudo mais mas também significa muita, muita dor de cabeça.
Os caras fazem mais merdas do que eu sou capaz de pensar ser possível e sobra tudo para que eu resolva.
Apague todas as pistas e não deixe rastros por aí.
– Chegou tarde querido. - mamãe apareceu em minha frente como se tivesse o poder da invisibilidade, tenho certeza de que um portal se abriu onde ela estava antes e a colocou aqui, do nada, na minha frente.