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- Você já foi mais rápido, Shawn... - Maia zombou.

- Eu só estou dando espaço pra ela. - rolei os olhos.

- Meu faro é muito bom, sabia? - a encarei com dúvida. - Tem coisa nessa história. - disse de maneira óbvia.

- Não é difícil ter um faro bom depois que eu cheguei contando que tem coisa nessa história, Maia.

- Não seja mais ridículo do que está sendo, Mendes. - bufei. - Tem coisa na sua história.

Lutei contra a vontade de rir enquanto analisava seu rosto soberbo.

- Admita. Você está interessado nela.

- Quem está sendo ridículo agora? - ergui uma das sobrancelhas.

- Continua sendo você. - deu de ombros.

- Fala sério, ela tem um filho.

- Eu tenho dois e isso não te impediu... - divagou.

- Não é a mesma coisa, você sabe.

- Não é a mesma coisa porque você está apaixonado... Veja bem, você colocou uma desconhecida completa pra dentro da sua casa por causa de um prato de comida.

- Você não faz ideia do quanto meus dotes culinários são ruins! - rebati. Eu preciso de uma defesa.

- Ficou todo preocupadinho pelo fato de ela não ter documentos.

- Como se contata alguém que não tem documentos?. - Maia, melhore.

- Isso é verdade, mas você colocou ela no seu carro e a levou para fazer... - cantarolou. - Shawn, você ficou todo preocupado por ela ter tido um problema de saúde.

- Mas que merda, Maia. A menina estava sangrando! - esbravejei.

- Sim, eu entendo essa parte, só não entendi a parte em que você leva ela pra morar na sua casa.

- Só achei que seria mais fácil pra ela. Seria mais confortável...

- E quem cuida dela?

- Uai, eu. Quem mais seria? - abri os braços.

- No seu carro tem uma cadeirinha...

E eu comprei um berço ontem, mas ela não precisa saber disso.

- Minha mãe pediu que eu comprasse... - sussurrei.

- Desde quando você faz as coisas que sua mãe manda?

- Não é como se ela tivesse me mandado comprar uma casa para a Camila. - rebati e Maia suspirou.

- Shawn, admita você sente alguma coisa por ela. Talvez sinta até mesmo pelo bebê. - direcionou os olhos para minha mesa que tinha um embrulho pequeno azul.

- É só um ursinho... eu também dei aos seus. - ela riu.

- Depois de ser pego de manhã... Mas tudo bem. - fez uma pausa me olhando nos olhos. - Amigo, eu sou treinada para ver as entrelinhas. Vai por mim, analisa aí os seus sentimentos, tem coisa nessa história. - deu um toque com o indicador no meu peito e se levantou da cadeira que fica em frente à minha mesa no escritório.

Eu não sou do tipo que fica negando sentimentos, mas eu também não sou do tipo que fica tendo sentimentos.

Passei em frente a uma loja de brinquedos no centro, quando estava saindo do banco, e me deparei com um urso de pelucia azul. Na mesma hora me lembrei de Miguel. Ele não tem nenhum brinquedo, não acho certo que ele fique brincando apenas com seus dedos e o controle remoto da sala e, por algum motivo, imaginei que ele iria sorrir ao ver o urso fora do embrulho.

O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora