17.

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- Certo, lembra do que combinamos? - a olhei nos olhos assim que fiz o carro parar em frente à porta da delegacia.

- Tudo o que eu conseguir me lembrar. - disse balançando a cabeça para cima e para baixo.

- Não se esqueça que podemos demorar o tempo que achar necessário.

- Será uma mulher, não será? - suspirei ao pousar minha palma em sua bochecha.

- Vou me certificar de que você conte isso a uma mulher, meu bem.

- Shawn. - sussurrou. - O que acontece se pegarem ele? - seus olhos cheios de esperança me partiam o coração. Quais são as chances de encontrar o demônio? Acreditem, é bem que não se ache uma pessoa que tem dinheiro o suficiente para comprar outra mas a questão é: eu também tenho dinheiro o suficiente para encontrá-lo.

- Não é se, Camila, - tentei soar o mais convincente que pude, mas eu não estava tão certo de quanto ela poderia se lembrar para que algo, de fato, viesse a acontecer. - é quando pegarem.

- Bem, e o que acontece quando o pegarem? - olhou para baixo. Ela também não acredita que eles o vão achar.

- Ele vai preso de modo imediato. Depois haverá um julgamento, o que significa que precisamos de provas. E, quando estivermos com as provas em mãos ele, com toda a certeza do mundo, será preso para o resto de seus dias.

- Ele vai ver meu filho? - contive meu suspiro e fingi não ter ouvido.

- Venha, vamos entrar. - segurei seu braço guiando-a para dentro da delegacia.

- Você não vem? - seus olhos me suplicavam quando parei diante da porta que me impedia de segui-la por todo o processo.

- Não se preocupe, apenas uma mulher vai estar lá com você. - ela consentiu mordendo a parte interna da boca e, sendo guiada por um policial, adentrou a pequena sala.

Sempre ouvi que as vítimas são tratadas como os errados. Interrogadas, envergonhadas e dilacerados de todas as formas possíveis na tentativa, muitas vezes falha, de conseguir um alento, um consolo. Por que é tão difícil denunciar? Deveria ser assim?

Passei horas naquela delegacia, inquieto. Louco para entrar naquela sala e tirar Camila de lá. O quanto deve ser horrível relembrar de tudo o que aconteceu e dizer em voz alta para pessoas que você nem tem certeza de que se importam com o seu sofrimento? Ser a vítima é uma tremenda merda!

Ao contrário do que eu pensei, não precisei convencer Camila a denunciar. Ela, estranhamente, confiava em mim o suficiente para, apenas, crer que eu sabia o que era melhor a ser feito.

Levantei de pressa da cadeira velha quando avistei a porta se abrir.

Os olhos vermelhos dela me fizeram ferver. Eles poderiam ter dado um tempo de pausa a ela.

- Ei, por que está chorando? - disse indo em sua direção.

- Não é nada. - olhei para a policial que apenas consentiu com a cabeça. - É que lembrar dói. - estremeceu.

A abracei e senti o momento exato em que ela se encolheu, parecendo tão frágil e pequena em meus braços. Talvez se eu tivesse entrado com ela tivesse sido mais fácil. Camila não tinha contado a mais ninguém até o seu depoimento.

- Podemos ir para sua casa? - ela levantou o rosto, ainda banhado em lágrimas, para me olhar nos olhos. - Eu quero muito ver o meu menino.

- Claro, vamos sim.

Seguimos até o carro depois de acertar toda a papelada sem olhar para trás. Contatei Maia ainda lá dentro. Ela precisava agir como advogada por alguns minutos antes de voltar a ser a minha amiga. Antes de voltar a ser a amiga de Camila.

O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora