18.

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– Querem que eu o veja? - seus olhos tremeram diante da notícia.

– Eles querem que você o reconheça, para que possamos dar andamento no processo. - isso foi mais rápido do que eu pensei que seria. Camila deveria ter informações realmente boas.

– E o que acontece se for ele?

– O que você acha que acontece? - devolvi a pergunta.

– Cíntia me disse que ele pode ser preso. - abaixou os olhos. – Se for ele, isso vai mesmo acontecer?

Cíntia vem sendo muito boa para Camila. Não sei como não ponderei antes de levá-la a uma psicóloga. Hoje, minha namorada se comunica com mais facilidade com pessoas de fora da família.

– Bem, depende do juiz...

– Então, mesmo que seja ele. - fechou os olhos. – Ele pode ficar solto?

– Mesmo que seja ele. - frisei. – Ele pode não ser preso imediatamente.

Ela suspirou encostando a cabeça no meu peito. Passei as mãos por seus cabelos em um carinho contínuo.

– Qual o nome dele? Você já conseguiu se lembrar? - perguntei baixinho e ela assentiu vagarosamente.

– Eu li o nome dele hoje, quando estava voltando para a sua casa.

Nossa casa. - a corrigi. Agora mais que nunca a casa é dela. Nós temos um relacionamento concreto.

– Desculpa. - encolheu os ombros. – Karlos. - sibilou.

– Esse é o nome dele? - questionei.

– Sim. - suspirou erguendo o rosto para me olhar. – Nunca foi tão difícil ler um nome na minha vida todinha.

– Se bem me lembro - brinquei com uma mecha do seu cabelo que estava solta de seu rabo de cavalo. – Shawn não foi um nome muito fácil de ser lido. - soltei descontraído mas ela recolheu mais ainda os ombros.

– Com certeza foi mais fácil que Karlos. - fechei os olhos.

Eu queria muito não ter entendido o que ela acabou de me dizer. As memórias dela "engasgando" ao ver o S junto ao H tomaram conta da minha mente mas a dificuldade a qual ela estava se referindo não tinha nada a ver com gramática e pronúncia. Tinha a ver com dor. Tinha a ver com sofrimento. Tinha a ver com seu passado.

– Onde você leu esse nome? - permaneci com o tom baixo de nossa conversa.

– O moço que estava fora da sala da Doutora Cintia tinha isso escrito na blusa.

– Na blusa? - por que escrever esse nome na blusa?

– Sim. - suspirou. – Na blusa e na caixa que ele levava nas mãos. - fez silêncio apreciando meu carinho em sua cabeça. – Shawn. - me chamou levantando a cabeça do meu peito. – Por que será que eu esqueci o nome dele?

– Isso pode ser algum tipo de bloqueio, meu bem. - alisei sua bochecha. – Ele foi uma pessoa que te fez mal.

– Então eu nunca vou esquecer seu nome, não é? - seus olhos esperançosos me fizeram piscar mais vezes que o necessário.

Uou. Que declaração de amor mais linda.

– Jamais te farei mal, Camila. Nunca na vida. - ela sorriu e voltou a deitar a cabeça em meu colo.

– Também não quero te fazer sofrer, Shawn.

Absorvi o impacto das suas palavras com prazer e da maneira mais lenta que eu consegui. Pude sentir como é pisar em algodão depois disso. Macio e quentinho.

O RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora