– Tem certeza que quer que eu vá? Eu posso voltar para - interrompi o discurso repetitivo de Camila pela enésima vez hoje.
– Já disse que quero que vá, Camila. Também já disse que você não vai voltar pra aquele quartinho na casa dos pastores. - ela suspirou. – Além do mais, se você não for, meus pais vão ficar muito chateados. - fechei o porta-malas me virando para ela que mordia o lábio inferior. – Aaliyah está doida pra te conhecer.
Ela brincava com os dedos inquieta.
– Conhecer mais pessoas. - sussurrou em um murmúrio.
– Bem, sim. - coçei a nuca. Como eu estou sendo egoísta. – Quer saber? Nós podemos ficar todos aqui, eu vou ligar para a minha mãe e dizer que aconteceu um imprevisto. ‐ tateei o bolso da calça em busca do meu celular e a mão de Camila me parou, pousando sobre meu pulso. Seu toque era quente.
– Nós vamos, está tudo bem. - abaixou os olhos. – Você vai estar comigo não é?
Sempre!
– Vou sim, Mila. Se você quiser eu vou.
– Vou pegar Miguel pra gente ir.
Concordei com a cabeça e fui conferir a cadeirinha do menino no banco de trás.
– Eu não sei colocar ele nisso. - sua voz se fez presente e eu saí, rapidamente, de dentro do carro para ajeitar um Miguel sonolento em sua cadeira azul especial. – Obrigada. - sorri para ela voltando ao meu posto de motorista.
Toda essa história de que pessoas da alta sociedade fazem festas apenas para manter o seu nome no topo é tão verdade quanto um mais um são dois. A única diferença que minha família apresenta é que somos todos muito festeiros, e, qualquer motivo é motivo de comemoração. Isso de fazer uma festa a cada mês do bebê deve ter começado na família Mendes.
O aniversário do meu pai é amanhã e, como de costume, mamãe vai dar uma festa. É algo tão rotineiro para mim essa comemoração anual que eu já me acostumei a pegar de três a sete dias de folga no escritório para essa data. É o meu momento de descanso em família. Ou de estresse.
Meu pai sempre foi bastante rígido e desconfiado mas sempre foi um ótimo marido e é por isso que ele também é um bom pai. Minha mãe manda, ele faz.
Ele sempre foi um coruja com minha irmã, aquele típico pai ciumento que chora quando vê a filha se casando aos dezenove anos e tendo seu primeiro filho aos vinte e um, Aali sempre foi a princesa dele. Eu, por outro lado, sempre fui o filho superestimado, meu pai acreditava que eu seria como ele, galante, firme, responsável e triunfal. Me esforcei muito para ser assim e, graças às suas festas sem motivo, também me diverti muito em meio aos filhos dos amigos dele. Mais em meio às filhas, admito.
– Onde vamos dormir? - Camila quebrou o silêncio do carro.
– Na casa dos meus pais. É onde vai acontecer a festa.
Viajar, ao contrário de ir a festas, nunca foi minha distração preferida, principalmente quando a viagem era feita de carro. Mas meus pais resolveram se mudar para uma cidade duzentas quilômetros distante da minha.
– Como é sua irmã? - ela soou baixinho.
Sorri ao lembrar da minha infância ao lado de Aali. Éramos inseparáveis.
– Ela é maravilhosa, uma boa mãe, é divertida e sempre topava minhas loucuras.
– Por que vocês faziam loucuras? - olhei de relance para ela.
– É uma maneira de dizer... quis dizer que ela sempre brincava comigo de coisas que meninas, geralmente, não brincam. Aali gostava de brincar de futebol e de escalar árvores. - sorri. – Uma vez ela me trouxe todas as gravatas do papai e me disse que seria ótimas para fazer cabo de guerra.